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1 de agosto de 2018

Guilherme D’Oliveira Martins
CUIDEMOS DO PATRIMÓNIO CULTURAL!

Urge tornar a Humanidade mais humana. Lembremo-nos de Pascal, que compreendeu como ninguém que as pessoas constroem máquinas, para as servir, enquanto os robôs não constroem pessoas. Por estes dias muito se tem falado sobre os textos no ensino da literatura. O tema merece ser considerado com cuidado e sem ânimo-leve. Importa incentivar o conhecimento, o método de trabalho, a atenção e a sensibilidade – para que possamos compreender melhor a realidade e as pessoas, a complexidade e as diferenças. Só poderemos combater a mediocridade com trabalho, persistência e desenvolvimento das capacidades pessoais… Igualdade é exigência. Infelizmente, instalou-se o mau hábito de ler resumos e simplificações, em vez de saber ler os originais, para que o vocabulário, a sintaxe, a etimologia, a diversidade verbal se tornem fatores de enriquecimento cultural e linguístico. O progresso pedagógico obriga a entender que não há política educativa sem a consideração do longo prazo e do património cultural como transversal – o que obriga a respeitar os clássicos e a não deixar ao abandono o que recebemos do passado.
Zygmunt Bauman, ao contrapor os exemplos do caçador e do jardineiro, põe a tónica na ligação necessária entre conhecimento e sabedoria. O caso do semeador ou do jardineiro, de facto, é muito fecundo. Falamos da essência da criação pela cultura. Muitas têm sido as iniciativas deste Ano Europeu do Património Cultural. E todos somos chamados a assumir a capacidade de garantirmos que quando recebemos o património material, natural ou contruído, e imaterial, bem como a criação contemporânea, estes devem ser preservados, protegidos, beneficiados e transmitidos nas melhores condições às gerações futuras. Não esqueçamos a etimologia que liga patres e múnus – o serviço do que recebemos de nossos pais. Eis porque o conceito de património cultural é dinâmico. A atenção e o cuidado têm de estar bem presentes, em especial quando tratamos do património onde quer que se encontre, na esfera pública ou privada, civil ou religiosa. Não deixar ao abandono esse património, significa protegê-lo – e essa proteção leva a cumprir algumas regras muito simples, mas essenciais: (a) antes do mais, ter os bens com valor patrimonial em segurança; (b) não deixar tais bens sem vigilância, sobretudo quando houver presença de público; (c) só entregar a conservação e o restauro a especialistas com provas dadas; (d) recusar intervenções de amadores ou de meras boas intenções; (e) no caso de dúvida sobre o que fazer, consultar especialistas; (f) sempre que há um bem ou uma peça em perigo deve ser guardada até que haja condições para ser restaurada nas melhores condições; (g) realizar inventários rigorosos, que permitam conhecer o que existe e as suas características fundamentais; (h) realizar fotografias e ter uma identificação precisa do que existe. Lembremo-nos que uma medida tão simples como o fecho dos templos ou edifícios históricos quando não há um vigilante presente, permitiu uma redução drástica dos furtos, assaltos ou degradação de bens patrimoniais. Do mesmo modo, o projeto SOS Azulejo, que obteve o Grande Prémio da Europa Nostra também permitiu, graças a medidas de prevenção, uma proteção efetiva de conjuntos com valor histórico e artístico.
Muitas vezes, mais importante do que mobilizar ou reclamar vultuosos meios financeiros, torna-se essencial cumprir procedimentos simples que evitam perdas irreparáveis. Usar tintas ou colas desadequadas, utilizar materiais não aconselháveis, recorrer ao cimento armado sobre pedra, não usar dos mesmos materiais originalmente utilizados, – tudo isso pode ter como consequência a destruição irremediável de bens patrimoniais que duraram vários séculos e que mercê de uma intervenção errada são des-truídos. É mais importante ter um inventário estudado e atualizado do que tentar fazer pseudo restauros por amadores com consequências irreparáveis. Paralelamente, é importante dar a conhecer o património existente, através de ações pedagógicas com escolas ou associações da sociedade civil. Segundo o Euro-barómetro, publicado a propósito do Ano Europeu, os portugueses salientam-se pela positiva no reconhecimento da importância e do valor do património, mas também pela negativa ao terem sido dos menos classificados quanto a visitas a museus ou a ações concretas em prol do património cultural.
Dada a importância do diálogo entre o património cultural e a criação contemporânea, merece ser referida uma excelente exposição do Convento de S. Domingos (Alto dos Moinhos - Lisboa) para celebrar 800 anos da presença dos dominicanos (Ordem dos Pregadores) em Portugal (1216-2016). Leia-se, aliás, «Os Dominicanos em Portugal (1216-2016), com coordenação de António Camões Gouveia, José Nunes, O.P. e Paulo Oliveira Fontes (UCP, 2018). Urge lembrar o que os Padres Couturier e Régamey defenderam quanto à escolha dos artistas a convidar para encomendas para templos e monumentos religiosos. Dever-se-á “apostar no génio”. De facto, numa grande obra de arte está inscrita sempre uma abertura à transcendência. Daí que tal orientação tenha permitido uma renovação da arte religiosa, num sentido da qualidade e da dignificação. O Movimento de Renovação da Arte Religiosa (MRAR), em Portugal, surgido em 1952, com Nuno Teotónio Pereira, Nuno Portas, José Escada, António Freitas Leal, Diogo Lino Pimentel, João de Almeida e Manuel Cargaleiro, Flórido de Vasconcelos, Maria José Mendonça e Madalena Cabral, entre outros, constituiu um fator importante de “aggiornamento”, que o Concílio Vaticano II veio confirmar. De facto, a noção dinâmica de Património Cultural engloba este essencial e fecundo diálogo entre História e Modernidade.

01/08/2018
 

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