18 março de 2015

Maria de Lurdes Barata
COMO NOS CONTOS E NAS FÁBULAS…

Com voz melada e doce aproximou-se o lobo do Capuchinho Vermelho para poder usufruir do bem pessoal duma refeição. Com voz melada e doce a raposa Dona Matreira foi enganando o Lobo com o argumento forte dos baptizados para comer sozinha o cordeiro, produto do esforço de caça de ambos. Com voz melada e doce vem o ministro do Ambiente, Jorge Moreira da Silva, falar da REESTRUTURAÇÃO DO SECTOR DA ÁGUA, atacando a autonomia das autarquias, retirando poder ao município, para integrar as Águas do Centro numa mega-empresa (enxerta os concelhos que vão de Lisboa ao Vale do Côa, com 99 municípios, abrangendo 3.790.000 habitantes) sob o poder da EPAL. O serviço prestado tem sido eficiente e defensor dos cidadãos, com o preço equilibrado e justo. A Associação Nacional de Municípios Portugueses (ANMP) considera mesmo que a proposta do Governo viola a Constituição. O Presidente da ANMP declarou em Coimbra, em Dezembro, que o sistema proposto «poderia conduzir à elevação das tarifas para níveis socialmente incomportáveis, sobretudo nas regiões do País mais desfavorecidas». E o Ministro do Ambiente diz com a voz doce do convencimento que esta reestruturação do sector das águas requer coragem, sentido de responsabilidade e relação de parceria entre os municípios e o Governo. É como o lobo antes de se atirar à avozinha…
Todavia, não defende o Governo uma descentralização com a proposta da MUNICIPALIZAÇÃO DA EDUCAÇÃO?! Não quer dar poder às autarquias com voz de boa intenção, que vem melada e doce? Cuidado com os lobos que se disfarçam com pele de cordeiro para ter comida farta, como diz a fábula. E não cabe aqui a análise desta narrativa da municipalização, mas cabe perguntar: que boa intenção de descentralização é esta, que se torna incongruente - no primeiro caso tira poder de decisão aos municípios, no segundo caso quer dar-lhes poder de decisão?! Não soubéssemos nós, animais da floresta, que o Lobo Economicista nos espreita em cada canto… por detrás  do pedregulho da austeridade ou por detrás da árvore frondosa do neo-liberalismo…
Nunca me lembrei tanto de contos e fábulas. Sempre nos deram ensinamentos e moralidade para viver com mais sabedoria. Lembro-me agora do lobo e do cordeiro, que bebiam água no mesmo riacho: - Como é que tu ousas sujar a água que eu bebo? – pergunta o lobo, pode perguntar um primeiro ministro, que não pagou a sua dívida. – Mas eu bebo do lado de baixo, não posso sujar a sua água… responde o cordeiro, como podiam responder todos os que pagam as suas dívidas à Segurança Social, pois, caso contrário, arriscam grandes multas e até penhora de bens. – Então tu agitas a minha água… e assim sucessivamente, culpando até a família do cordeiro -  insiste o lobo, como insiste o primeiro ministro, dizendo que a culpa é dos jornalistas ou da falta de notificação da Segurança Social e desculpando-se ainda, num desespero de causa, com outros que fizeram pior.  Não é a água suja ou a dívida, que podem acontecer como circunstâncias de fábula ou na vida real dos cidadãos. É a atitude. Atitude é uma pequena coisa que faz uma grande diferença, disse Clarice Lispector. É a contradição de uma atitude implacável e cega de aplicação das leis aos outros e uma atitude permissiva perante si próprio. Bem prega Frei Tomás, faz o que ele diz e não o que ele faz.
A lembrança das fábulas prolifera com casos reais vividos num quotidiano vivido e sofrido na pele. Tantas histórias que se enrolam na nossa história, restando-nos a esperança de uma aprendizagem que nos previna contra armadilhas de manhosos com voz melada e doce…

18/03/2015
 

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