Edição nº 1739 - 27 de abril de 2022

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NO DIA EM QUE ESCREVO, um pouco por toda a cidade, pelas cidades e vilas, se festejaram, em discursos oficiais, com música, poesia e muitos cravos na mão e na lapela, os 48 anos daquele dia que Sophia de Mello Breyner Andressen descreveria em forma de poema, “esta é a manhã que nós esperávamos, o dia inicial inteiro e limpo, onde emergimos da noite e do silêncio e livres habitamos a substância do tempo”. Os festejos de 2022 foram o tiro de partida para o caminho até aos cinquenta anos da Revolução. Foram festejados no ano em que se assinala que em Portugal se vive há mais tempo em Democracia do que o que se viveu em ditadura. Foram diferentes e provavelmente mais entusiásticos porque saídos do interregno dos anos da pandemia e do cair das máscaras. Porque se vive um período histórico de guerra na Europa que julgávamos não ser possível viver no século XXI e que fez acordar muitas consciências solidárias, apenas com uma pequena minoria de portugueses a escolher o lado errado da guerra, a ser incapaz de distinguir entre agressor e agredido e o direito à defesa. Mas o grande valor da Democracia reside na tolerância e no direito à expressão das ideias.
Lembro que na noite de 24 de abril de 1974 estava a assistir a um concerto de jazz no Instituto Alemão, no Campo de Santana, em Lisboa. Por casualidade fiquei sentado ao lado do Zeca Afonso e eu hoje pergunto-me se ele saberia de alguma coisa do que estaria prestes a acontecer, certamente não sonharia sequer que a sua Grândola Vila Morena haveria de se tornar no hino da Revolução. No dia seguinte, quinta-feira de aulas na faculdade que não aconteceram. E eu já andava ali pelo Rossio, Chiado e pelo largo do Carmo para onde me levou a multidão que acompanhava e ovacionava Salgueiro Maia desde a Praça do Comércio. Estava lá quando Francisco Sousa Tavares com seu conhecido vozeirão, a pedido do jovem (29 anos!) capitão Salgueiro Maia, fez do alto de uma guarita, o famoso apelo a que o povo refreasse (seria possível?) o entusiasmo e não pusesse em risco o êxito das operações. Depois foi a manifestação espontânea a partir do Rossio. Subimos a Avenida da Liberdade, Fontes Pereira de Melo, Avenida da República. Lembro-me bem de ter passado junto à casa do poeta Pedro Oom que, bastante doente, acenava desde a sua varanda à multidão que desfilava, o poeta surrealista que haveria de morrer no dia seguinte, nem tempo teve de provar a Liberdade. Depois foi o Campo Pequeno, Avenida de Roma, Areeiro e Almirante Reis, até à Portugália. Estava cansado, doíam-me os pés, mas estava muito, muito feliz. No primeiro de maio assisti da janela da casa da minha amiga Teresa na Almirante Reis, à passagem da manifestação mais bonita que já houve em Portugal. E no estádio 1º de maio ainda houve espaço para ouvir os históricos discursos de Soares e Cunhal. Uma geração que assistiu a isto tudo isto é afortunada por ter vivido um momento único, irrepetível, da nossa História recente.

27/04/2022
 

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