Edição nº 1751 - 20 de julho de 2022

Lopes Marcelo
FESTAS, FEIRAS, FESTIVAIS E SIGAM OS BAILES…

Cá temos de novo o Verão e pela grande maioria da população já em condições da dita normalidade. Sim, depois de dois anos de pandemia, dos sobressaltos e preocupações do covid 19, há quem considere que está tudo passado e havia uma grande vontade e, até, ânsia em se voltar à considerada normalidade. Também, há alguns que pensam de modo contrário, entendendo que era importante ter-se reflectido no que realmente é essencial quanto ao modo estilo de vida, alternativas ao consumismo cultural de massas, ponderando a mudança de prioridades, de valores e de atitudes. Outros que consideram ainda justificarem-se cuidados e prevenção, pois os perigos não desapareceram. Sim, há cientistas que alertam para uma eventual factura que a sociedade pagará no início do próximo Inverno.
Um Verão de novo muito quente, com o flagelo dos incêndios, regressando o tema das alterações climáticas à ordem do dia da regressada normalidade, num enquadramento que torna os fogos florestais como inevitáveis, levando a grande maioria da população a encolher os ombros: é em todos os países, não podemos fazer nada. Quanto muito, a responsabilidade é apenas de quem decide, quer no governo, quer nas autarquias locais. Regressou, de facto, a antiga normalidade que anestesia a população sem a reflexão e as mudanças que se reconhece serem necessárias em certos momentos de crise e de aflição só quando e a quem atingem em cheio. Mas a memória é volátil e a tomada de consciência começa sempre por ser individual, na família, no grupo de relações mais próximas - mas, passar à dimensão colectiva, às mudanças no sistema, exige reflexão séria, intervenção crítica, planeamento e avaliação. É tudo muito problemático, pode até não interessar a certos interesses e valores instalados e à própria mentalidade dominante, de novo a dita, a usual e velha normalidade.
Em face do enorme cortejo de festas, feiras e festivais que os inúmeros cartazes por aí anunciam, retornaram ao normal os critérios e padrões de gestão, às mesmas prioridades, à velha mentalidade e os objectivos dos decisores autárquicos. Não há concelho que não organize festa e feira com grande destaque à presença de artistas cimeiros da indústria do espectáculo. Cada Autarquia quer-se destacar com nomes bem-sonantes pagos a muitos milhares de Euros, quando nos cartazes e na realidade a participação e o apoio aos artistas locais é insignificante. Juntar milhares de pessoas num concerto ou festival gratuitos, a maioria vindas de fora, que impacto positivo duradouro resulta para o concelho? Que valorização cultural para o território e sua população? Muitas vezes é assinalável a pegada de destruição e de lixo. Responderão alguns autarcas que dão às pessoas aquilo que elas querem consumir. Que, o que é preciso é que o concelho seja falado e até surgem anúncios públicos consumindo mais milhares de Euros de recursos financeiros públicos. Sendo as autarquias pessoas colectivas de direito territorial, não seria prioritário investir no ordenamento do território? Abrindo e reparando acessos, caminhos rurais e faixas limpas entre as manchas de árvores que de forma espontânea e desordenada crescem e se propagam? As tão importantes redes viárias e rede divisional na floresta de asseiros e arrifes.
A guerra dos incêndios só pode ser ganha em tempo de paz, isto é fora da emergência do combate, aproveitando a maior parte do ano na limpeza e ordenamento da floresta com dedicação e empenho duradouro, afectando os recursos necessários quer do governo, quer das autarquias a cuidar do território.
Explodiu a pandemia que ainda não está ultrapassada. Explodem os fogos numa sucessão que empobrecem o mundo rural e toda a sociedade, mas a maior parte dos autarcas continua a dar prioridade a feiras, festas e festivais onde pontuam artistas e agentes do espectáculo quase sempre culturalmente desinseridos da realidade cultural do respectivo território e que consomem recursos. Até quando? Siga o baile, quase todos dirão que é normal. Será?

20/07/2022
 

Em Agenda

 
07/03 a 31/05
Memórias e Vivências do SentirMuseu Municipal de Penamacor
12/04 a 24/05
Florestas entre TraçosGaleria Castra Leuca Arte Contemporânea, Castelo Branco
14/04 a 31/05
Profissões de todos os temposJunta de Freguesia de Oleiros Amieira

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video