Lopes Marcelo
VIVA PENHA GARCIA
A freguesia de Penha Garcia foi integrada na Rede de Aldeias de Portugal na sequência da candidatura apresentada em boa hora pela ADRACES – (Associação para o Desenvolvimento da Raia Centro Sul) junto da Associação de Turismo de Aldeia. Esta notícia, entre tantas que surgem todos os dias, pode diluir-se na espuma dos dias. Contudo, considero ser importante e de grande significado em termos de desenvolvimento local, pois devemos valorizar e divulgar a nossa cultura e património.
Em primeiro lugar é uma aldeia rica em história. Para além dos vestígios pré-históricos e romanos testemunhados nas ruínas da Capela de São Lourenço, a povoação teve origem num Castro Lusitano situado no cimo da Serra, extensa cordilheira de quartzitos. O seu altaneiro castelo resulta da fortificação da fronteira realizada por D. Sancho I para se defender do reino de Leão do outro lado da fronteira e dos mouros de além-tejo. D. Afonso III atribui-lhe Foral em 1252: “dando aos habitantes de Penha-Garcia o foro, usos e costumes referidos no Foral de Penamacor”. Meio século depois, D. Dinis fez a doação deste território aos Templários. No século XVI, D. Manuel concedeu-lhe novo Foral em 1510. Foi sede de concelho até Novembro de 1836, tendo passado a integrar o concelho de Monsanto até que este foi extinto em 1855, passando a pertencer ao concelho de Idanha-a-Nova.
Em segundo lugar, a síntese cultural do território e os saberes das suas gentes representa um património de grande valor etnográfico. Tem instituições culturais representativas que estão de parabéns. Destaco a Associação do Património Cultural de Penha Garcia; a Liga dos Amigos e o Rancho Folclórico; que entre outras actividades têm organizado as ricas Jornadas Etnográficas, mostra de saberes e de usos e costumes. São, igualmente, muito relevantes os símbolos culturais do património imaterial da cultura popular, designadamente a cantadeira Catarina Chitas e o tocador de viola beiroa Manuel Moreira, dedicados e genuínos cuidadores da memória individual e colectiva, entre outros mais. Tem um museu de património religioso, obra do dedicado e muito conhecedor Padre João Pires de Campos. Há tradições e produtos de grande qualidade que suportam um muito rico património gastronómico.
Há, também, que assinalar o interesse cultural da Igreja Matriz do século XIX, construída no local onde existia uma igreja medieval do século XIII, onde se pode apreciar uma bela imagem de Nossa Senhora do leite em pedra de Ançã.
Em terceiro lugar, um notável mosaico de paisagens naturais, composto pelo triângulo de ouro composto por Penha Garcia – Monsanto – Idanha-a-Velha, integrado no ecossistema mais vasto do GeoParque da Naturtejo. Terras de aventura para a descoberta e usufruto de um território rico e diversificado.
As premissas e as condições de base para o desenvolvimento local sustentável existem, restando o desafio de as enlaçar de forma dinâmica, envolvendo e valorizando as comunidades locais de modo a que se crie riqueza e fixe população. São precisas ferramentas, projectos na pauta de um moderno e dinâmico Marketing Territorial que, valorizando as tradições e a cultura popular, assegure inovação na qualificação e gestão dos genuínos produtos turísticos culturais, em rede com as Aldeias de Portugal e com as Aldeias históricas. Desafio e responsabilidade que, certamente, contarão com a participação empenhada das forças culturais e económicas da Freguesia e do Concelho, com destaque para as Autarquias locais (Assembleia de freguesia e Município de Idanha-a-Nova) e para a Adraces, numa da suas mais genuínas e fundamentais missões, que é a de despertar, animar e tornar sustentável o território, cuidando das sementes, dos processos criativos , dos valores e saberes das gentes que moldaram o território ao longo das sucessivas gerações.