João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
HÁ UM ASSUNTO QUE NOS TEM ENTRADO CASA dentro através dos media que até não há muito tempo, era completamente tabu. Os casos de abusos sexuais de menores praticados no seio da Igreja, eram falados episodicamente, em situações que pareciam ser considerados singulares. Mas neste século muita coisa está mudando. Foi o movimento #metoo, que destapou milhares de casos de assédios, com o picante de muitos acontecerem nos meios artísticos, envolvendo nomes sonantes que, para os acusados, representou em muitos casos o fim de linha para carreiras até aí de sucesso. E foram os casos, ainda mais graves, de abusos sexuais de menores que já há décadas aconteciam, tendo como agressores alguns membros da comunidade eclesiástica. E quando aconteciam as denúncias, a hierarquia por norma fazia por ignorar, não dando seguimento à denúncia, tudo fazendo por esconder os casos da opinião pública e das autoridades judiciais, um comportamento clássico de autodefesa de grupo. E lá se foram afastando os agressores para outra paróquia, mesmo que involuntariamente alimentando assim um comportamento, que com muita probabilidade se iria continuar a manifestar na nova comunidade. Como se recorda, tudo começou há 20 anos nos Estados Unidos da América quando um jornal de Boston investiga o encobrimento da hierarquia da Igreja sobre vários casos de pedofilia que envolviam padres católicos. Depois, por todo o lado se foram destapando casos e casos, muitos milhares de casos. Mais de 200 mil crianças abusadas em França durante sete décadas... Em Portugal, a própria Igreja promoveu a constituição de uma comissão independente com nomes prestigiados, para identificar casos de abusos praticados por membros da Igreja ou nas suas instituições. Até agora já ouviu mais de 400 testemunhos, 400 vítimas que o presidente Marcelo deu a entender como nem sendo muito elevado, comparado com outros países. Foram palavras mal interpretadas que incendiaram os fóruns televisivos e as redes sociais. Mas o fundamental é que D. José Ornelas, nome central da ala progressista da Igreja Portuguesa e na linha do pensamento do Papa Francisco, assuma que se vai levar até ao fim o levantamento de todas as situações. A somar a isso, o choque que muito católico terá sentido quando soube das acusações que impendem sobre D. Ximenes Belo e que terá ditado a sua resignação de Bispo de Díli em 2002. O que fez toda a diferença foi a atitude firme do Papa Francisco, que disse basta! Que chegara a hora de retirar a cabeça da areia e assumir o problema em toda a sua plenitude. A Igreja terá de exorcizar, enfrentar o problema, confortar as vítimas, afastar e entregar à justiça os abusadores. Porque assim sairá mais forte e reganhará a confiança dos católicos.