Edição nº 1894 - 7 de maio de 2025

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

NO INÍCIO DA PASSADA SEMANA tivemos um ligeiro cheirinho do que seria um Mundo distópico mergulhado na escuridão. Quem como eu vive no campo, com certeza mal sentiu o desconforto da situação, as ferramentas agrícolas continuaram a funcionar normalmente e não há muito tempo nem sentida necessidade de viver, em horas de sol, o mundo virtual das redes sociais.
Com uma qualidade de vida que, entre outras razões, advém do menor stress e dos fortes laços de vizinhança, Castelo Branco, como o Fundão ou a Covilhã, são cidades de média dimensão que poderiam integrar o projeto cidades de 15 minutos: ter os serviços e o trabalho a menos de 15 minutos de casa. Julgo que também aqui não se viveu o apagão de forma especialmente dramática. Nas grandes cidades, em particular em Lisboa, viveu-se um ambiente de quase pânico: o caos no trânsito, a ausência de transportes públicos, a corrida aos hipermercados a esvaziar prateleiras de conservas, água e (pasme-se) papel higiénico. E foi a corrida às lojas dos chineses, talvez o ultimo sítio onde o português desprevenido poderia reencontrar-se com a nostalgia do rádio transístor, que disparou 4.594 por cento em vendas, só remotamente comparado com as vendas de pilhas que voaram das prateleiras, dos powerbanks e dos fogões portáteis a gás.
Mas a crise também proporcionou momentos bons. Em dia de sol de primavera, muitos vizinhos e amigos encontraram-se em esplanadas, a falar de olhos nos olhos sem a omnipresença de ecrãs. Na rua festejou-se o regresso da eletricidade, na hora certa, antes que a escuridão trouxesse problemas reais e graves de segurança nas cidades.
Porquê o pânico que arrebatou muitos portugueses? A mais provável razão será a falta de informação. E sabe-se que neste domínio, o vazio é campo fértil para o boato e notícias falsas. Que tinha sido um ciberataque atribuído aos hackers de Putin (hipótese avançada sem fundamento pelo ministro da Coesão Territorial); que o apagão iria durar 72 horas ou até mesmo muito mais, enfim um mar de notícias falsas …
Com o governo reunido em gabinete de crise, que quis centralizar a comunicação, mas que estranhamente ficou silencioso, tal como a Proteção Civil, que ao meio dia já tinha informação da REN de que a situação deveria estar normalizada ao fim de dez horas. Disseram depois que não podiam comunicar, porque as televisões estavam em baixo. Ridículo e a manifestar desorientação, por esquecerem que numa situação de crise, a rádio é o média mais resiliente e presente em todo o lado.
Como a maioria dos portugueses, eu liguei-me à radio e tenho de agradecer aos profissionais da Antena 1 e TSF pelo excelente serviço prestado. Não agradeço ao Governo, a quem aconselho a que tirem ilações desta crise para que este amadorismo não volte a acontecer. Mérito para a REN pela rapidez e profissionalismo mostrados.
Uma palavra ainda para constatar a incapacidade dos CTT, em resultado do apagão de segunda-feira em cumprir a missão de distribuição, ao longo de toda a semana, dos jornais e revistas que lhes tinha sido confiada.

07/05/2025
 

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