Lopes Marcelo
O PRÍNCIPE DOS POETAS
São recentes os ecos de mais uma celebração do dia de Camões, de Portugal e das Comunidades Portuguesas. Não é fácil acrescentar algo ao muito que já foi dito como exaltação histórica e cultural do génio de Luís de Camões. Contudo, sobre a sua vida, continuam a existir aspectos pouco esclarecidos e que importaram aos estudiosos da sua vida e obra.
Entre esses estudiosos, conta-se Francisco Tavares Proença Júnior que, ainda muito jovem se dedicou ao estudo dos autores em que mais se revia, com destaque para o grande romancista Camillo Castelo Branco de que publicou uma biografia. Em Junho de 1902, com apenas dezanove anos, redigiu um texto em que resumiu o resultado das suas pesquisas e que intitulou.” Luíz de Camoens – Ditosa Pátria que tal filho teve.”.
É este texto original, constante do espólio documental do arqueólogo fundador do Museu com o seu nome mas, também, dedicado estudioso de temas literários, que vamos seguir de perto.
Não se sabe ao certo qual foi a terra que foi o berço do nosso maior Poeta. Continuam Lisboa, Coimbra e Santarém a rivalizarem entre si. O que se sabe é que ele nasceu pelos anos de 1524 ou 1525, numa família nobre de cavaleiros de fracos recursos. Seu pai esforçou-se por lhe dar uma educação clássica na Universidade de Coimbra onde entrou, embora não haja registo de que tenha terminado algum grau académico.
O seu nascimento aproximou-o da Corte e aí se apaixonou por Dª Catharina de Athaíde que ele imortalizou sob o anagrama de Natercia, dedicando-lhe inspirados versos ao longo de toda a sua vida. Tais amores proibidos e o seu génio altivo e independente afastaram-no do Paço. Refugiou-se no vale de Santarém, onde tentou esquecer a sua tão amada Natercia. Que tal não aconteceu é revelado na insistente permanência da amada na sua lírica amorosa. Cansado do exílio, aproveitou a notícia do cerco de Mazagão e partiu para África, alistado como soldado. Num combate junto de Ceuta perdeu o olho direito. Passados dois anos voltou à Pátria, onde foi mal recebido o que o levou a embarcar para a Índia. As atribulações da viagem e a grandeza das descobertas lançam-no na extraordinária escrita dos Lusíadas. Pouco tempo depois de chegar a Goa, não conteve a sua indignação contra os abusos do Vice-rei e publicou uma sátira intitulada: “Disparates da Índia”, na qual o poeta atacava a corrupção dos costumes dos colonos. Esta nobre revolta, levou o furioso Vice-rei a exilá-lo para Macau. Resignado entregou-se com mais assiduidade à composição da sua obra. Pouco depois foi chamado a Goa e, na travessia, o barco foi destruído em violento temporal junto à foz do rio Mecom. Ele conseguiu escapar a nado, levando na mão fora de água o precioso manuscrito. Em Goa voltou a ser perseguido por um outro Vice-rei e, em 1569, embarcou com destino a Lisboa. Contudo, desembarcou em Moçambique. Ali foi encontrado por Diogo do Couto, tão pobre que comia de amigos, e foi este que o trouxe para Portugal, onde chegou a 4 de Abril de 1570. Até 1572 acabou o seu grande poema épico que dedicou a D. Sebastião, que em reconhecimento melhorou o seu modo de vida, atribuindo-lhe uma pensão. O rei morreu em áfrica em 1578 e a pensão foi reduzida a 15.000 réis anuais e como isso não lhe chegava, viveu à custa de esmolas que para ele mendigava um seu escravo chamado António.
Finalmente morreu em 1579 num hospital onde o haviam lançado o desespero e a mendicidade.
Quinze anos depois da sua morte, os seus compatriotas não o esqueceram e ergueram-lhe um monumento em 1594, onde o cognominaram: “O Príncipe dos poetas”; príncipe que a elite da Corte deixou morrer de fome!