27 agosto 2014

Fernando Raposo
Ainda a propósito do BES... Uma história mal contada.

Torna-se difícil aceitar que reguladores, supervisores, auditores, revisores e tantos fiscais de plantão, nunca tenham dado pela tramóia que, ao que agora se sabe, vinha a ser urdida pelo Banco Espírito Santo (BES) e pelas empresas do Grupo (GES), cujo denominador comum se chama Ricardo Salgado.
À medida que o tempo passa e a língua das “comadres”, agora desavindas, se solta, vou reforçando a convicção de que aqueles que tinham o dever de lealdade para com o país, sempre estiveram ao corrente da coisa e que alguns analistas já designaram de fraude.
Não tivesse o governador do Banco de Portugal, secundado pelo governo, tranquilizado os depositantes e investidores quanto à sustentabilidade do BES e muitos dos pequenos investidores ou accionistas não teriam caído no conto do vigário. Carlos Costa chegou mesmo a garantir que “a almofada financeira do BES seria suficiente e que não seria necessária qualquer intervenção do Estado” (citado pelo Expresso, 2 de Agosto).
É difícil compreender que os prejuízos apresentados pelo BES relativamente ao primeiro semestre deste ano sejam tão elevados.   Era preciso ser-se dotado de uma inteligência rara para “dar sumiço” a tantos milhares de milhões de euros. Talvez os 3,6 mil milhões de euros de prejuízo agora apurados sejam a soma de muitas dívidas ocultados e que por conveniência de muitos a sua revelação não fosse oportuna.
Estou em crer que o Banco de Portugal, o Governo de Passos e o Presidente da República tinham conhecimento do que se passava com o banco e com as empresas do grupo Espírito Santo e todos quiseram “empurrar o problema para a frente”.
É inacreditável que a Troika tão atenta e diligente, não se tivesse dado conta de tão ousado expediente utilizado no BES.
Talvez todos soubessem do escândalo do BES e do GES e todos, por conveniência, o ocultaram.
O programa de ajustamento ou de assistência financeira tinha de ser, aos olhos de uma certa Europa e do governo português, um caso de sucesso e tudo o que pudesse contrariar ou pôr em causa este objectivo seria varrido para debaixo do tapete. Admitir a derrocada do Banco em plena vigência do programa, seria reconhecer a falência das medidas impostas pela troika, (e incontestavelmente executadas por Passos!), e de toda a ideologia que lhe está subjacente.
O descalabro do BES é assim consequência da conjugação de interesses, embora diferentes, mas que representará para os contribuintes um custo bastante oneroso.
Bem podem o governador do Banco de Portugal, o primeiro-ministro e a ministra das finanças insistir de que a intervenção no BES não terá quaisquer custos para os contribuintes, que tendo em conta as contradições em que se têm enredado sobre este caso, ninguém os levará a sério.
Quem nos garantirá que os 3,9 mil milhões de euros injectados pelo Estado no “banco bom”, serão integralmente devolvidos. Tendo em conta a perda de confiança dos investidores e também dos depositantes, será que a venda do Novo Banco permitirá “encaixar” todo o montante agora investido? Sublinhe-se que o total investido foi de 4.900 mil milhões, sendo 3.900 mil milhões por parte do Estado e o restante por parte do Fundo de Resolução. Caso o banco seja vendido por valor mais baixo, quem assegurará a diferença?
Sendo o dinheiro agora investido no Novo Banco proveniente do empréstimo da troika para recapitalização da banca portuguesa, ele constitui dívida do Estado, pelo que se impõe saber qual o impacto que ele vai ter no défice deste ano e também na dívida no futuro e na austeridade que mais uma vez será exigida a todos.
Passos Coelho que é tão expedito a “apontar” o dedo ao Tribunal Constitucional por ter chumbado algumas das medidas do orçamento, por terem implicações no défice, deveria agora também, ainda que não com a mesma determinação, explicar com verdade sobre quais as consequências que o descalabro do BES acarretará para os contribuintes, para a economia do país e para a sua credibilidade externa.
Isto sim, seria uma atitude consentânea com o sentido de Estado e no caminho do restabelecimento da confiança que deve mediar a relação entres governantes e governados.

27/08/2014
 

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