NO MUSEU ARQUEOLÓGICO DO FUNDÃO
Castelos e Pelourinhos convidam o visitante a (re)descobrir Barata Moura
Castelos e Pelourinhos da Beira Baixa é a exposição de pintura da autoria do mestre Barata Moura que está patente no Museu Arqueológico do Fundão, até dia 30 de setembro.
A mostra resulta de uma colaboração entre os pelouros da cultura das câmaras de Castelo Branco e do Fundão, sendo de recordar que a coleção de obras integra o acervo do Museu de Francisco Tavares Proença Júnior de Castelo Branco.
A iniciativa será completada com a realização de um debate sobre a presença da obra do pintor no imaginário artístico da Beira Baixa.
Barata Moura nasceu em Castelo Novo, no Concelho do Fundão, em 1911, e faleceu em 2011. A sua aprendizagem artística foi feita em Lisboa, na Escola de Artes Aplicadas e na Escola António Arroio, para onde migrou aos 17 anos.
Com vasta obra artística pintou mais de cinco mil telas, entre elas, muitas das paisagens físicas e humanas da Beira Interior. “Pinto como sinto (…) Sou como sou” foram as palavras que o definiram no seu percurso criativo e que firmaram o Manifesto Pessoal do pintor.
Barata Moura
no Fundão
Para o diretor do Museu do Fundão, Pedro Salvado, “Barata Moura continua a ocupar uma assinalável presença no imaginário artístico regional como um pintor afetuoso da Beira e das suas gentes, como um peculiar artista emissor de afetos e detentor de uma pintura de registo de tempos, de rostos e de espaços vivenciais”.
Realça ainda que “com um colorismo assumidamente imaginado, reproduzindo, por vezes, ingenuidades de captação, desenvolveu um entendimento muito pessoal do que era a arte e a função da sua pintura enquanto um arquivo-registo. Registos de ritmos temporais contrastantes da paisagem camponesa tradicional idealizada, onde se encontram ausentes angústias, negatividades ou interrogações e que confirmam os equilíbrios e o enraizamento das comunidades a uma arquitetura secular e a um calendário sazonal”.
Pedro Salvado acrescenta que “os castelos e os pelourinhos da Beira são hoje monumentos quase silentes, patrimonializados ou turistificados uns, abandonados ou esquecidos outros. Valerá a pena compararmos as diversas situações, papéis sociais que desempenham e estados de conservação e de enquadramento arquitetónico com os planos que foram captados e inscritos na memória através do olhar protetor de Barata Moura, um dos pioneiros da luta pela defesa e conservação do património monumental da Beira Baixa”.
Sublinha também que “revelam um cidadão atento, consciente do valor do património cultural como uma insubstituível herança das comunidades que devem assumi-lo, no presente, como uma certeza consciente e participada da espessura do passado e da emoção de se sentirem raízes identitárias no futuro. É, também, com este sentido e reafirmando o valor da pintura como um suporte de uma pedagogia para a defesa do património que Barata Moura é exposto no Museu Arqueológico. A arqueologia é hoje muito mais do que uma disciplina histórica baseada na análise e nos registos materiais para a construção de conhecimento histórico. A arqueologia é uma ciência do património que concede sentidos aos tempos das coisas e das paisagens”
Por outro lado afirma que “esta revisitação ao artista assevera que existem sempre diversas maneiras de ler e de escrever-pintando a paisagem da nossa identidade. Que este renovado olhar de parte da obra do pintor Fundanense Barata Moura signifique, e possibilite, um incremento da nossa vinculação afetiva ao território e que o Museu seja, cada vez mais, uma ampla ponte de convergência de sentidos culturais plurais. Um Museu que seja não um ponto para a afirmação do orgulhosamente sós, mas uma praça ruidosa e ativa dos diálogos que organizam a memória coletiva: um lugar onde fortifique a vibração do orgulhosamente nós”.
Barata Moura
e Castelo Branco
António Veríssimo Bispo, antigo funcionário do Museu de Castelo Branco, recorda a presença do pintor na cidade, ao afirmar que “ele tinha a exata noção do que a sua pintura representava na grande maioria das pessoas, a reação dos visitantes aos seus quadros, a forma como ele dialogava com eles durante a visita à sua exposição os abraços com que muitos dos visitantes o premiavam no final da exposição tornavam-no um homem extremamente feliz”.
Recorda que “a sua ligação ao Museu e à cidade de Castelo Branco tornou-se a partir dessa altura num ato de amor, as suas obras mais conhecidas Pelourinhos e Castelos da Beira Baixa, um conjunto de 31 quadros, e Encontros com o Tejo, um conjunto de 60 quadros, que levou mais de 50 anos a pintar e ele ofereceu ao Museu, são a sua maior prova de amor”, questionando “porque é que o Tejo não está exposto e se tira partido da sua lição ambiental”.
Um acervo valioso
para dar a conhecer
O vereador com o pelouro da Cultura na Câmara de Castelo Branco, Fernando Raposo, adianta que a exposição é apresentada no Fundão no seguimento de uma solicitação da autarquia local, sublinhando que “a cooperação entre as duas câmaras é desejável nos dois sentidos e em várias áreas da cultura e não só”.
Fernando Raposo realça que o Museu de Francisco Tavares Proença Júnior, que está sob a alçada da Câmara, “tem um bom acervo”, que no caso do mestre Barata Moura incluiu as coleções e Castelos da Beira Baixa e Encontros com o Tejo. Acervo que considera também bom, no que respeita ao Bordado de Castelo Branco e à arqueologia.
Fernando Raposo acrescenta que ao acervo do Museu há a juntar outras obras adquiridas pela Câmara ao longo dos anos, bem como algumas coleções de fotografia, para avançar que a finalidade é dar a conhecer todo este património, nomeadamente com a realização de exposições nas freguesias do Concelho.
Confrontado com a possibilidade das duas coleções do mestre Barata Moura serem expostas em simultâneo, afirma que devido à sua dimensão tal não é possível nas freguesias, mas que o é em Castelo Branco, por exemplo numa exposição a realizar no antigo edifício dos CTT, no Largo da Sé.
António Tavares