28 de setembro de 2016

Fernando Raposo
Notas Soltas sobre o Ensino Superior no interior centro

Apesar de nos últimos três anos se ter assistido a um aumento do número de alunos no ensino superior, as instituições de ensino do interior do país, em particular as do ensino politécnico, não têm acompanhado esse aumento. Antes pelo contrário, o número de estudantes colocados tem vindo a diminuir, reflectindo os desequilíbrios quanto à distribuição da rede de estabelecimentos e da oferta formativa.
Tomando como referência a 1ª fase de colocações deste ano, em termos nacionais, o número de candidatos colocados aumentou2,1%, relativamente a 2015. Contudo, as instituições de ensino da nossa região, entre a Guarda e Portalegre, não acompanharam esse aumento, verificando-se mesmo um pequeno retrocesso nos três institutos politécnicos (Castelo Branco,Guarda e Portalegre) e na Universidade da Beira Interior (UBI). Se, nesta, a diminuição foi de apenas um candidato colocado, já naqueles institutos politécnicos a redução foi de, respectivamente, 20, 27 e 20 candidatos. Refira-se que, para efeitos desta análise, não foram contabilizados os candidatos colocados nos cursos de música do IPCB, cuja candidatura é objecto de concurso local.
A taxa de colocação nos politécnicos fixou-se abaixo dos 50%, inferior à do ano anterior. Ataxade colocação na UBI foi de 89,8%, apenas um décima abaixo em relação a 2015.
Todas estas instituições tiveram cursos com zero colocados, apresentando o IPCB o maior número (6) e a UBI o menor (1). O IP da Guarda teve 2 e IP de Portalegre 4,mas 2 destes são cursos pós-laborais. O número de cursos com menos de 10 estudantes colocados foi de 15. A UBI não teve cursos com menos de dez colocados.
Só a título de exemplo, os cursos de Engenharia Civil da UBI, dos IP de Castelo Branco e da Guarda ficaram desertos. O IP de Portalegre não apresenta vagas neste curso desde 2012.
A situação difícil dos institutos politécnicos do interior do pais, em particular da nossa região, era previsível, desde há mais de uma década.
Desde 2006/2007, época em que a situação era um pouco mais confortável, que insistentemente se foi propondo a necessidade de um entendimento entre os Institutos Politécnicos de Castelo Branco, Guarda e Portalegre sobre a racionalização da oferta, já que uma grande parte dos cursos (sobretudo nas escolas mais antigas, em que a redução da procura se começava a sentir) estava replicada em todos eles.
Estão neste caso as formações das áreas da gestão, tecnologias e educação.
Desde essa altura que a quebra da procura se começou a verificar a um ritmo maior do que era expectável. A partir de 2011, muitos dos cursos começaram a ficar desertos. Claro que, com a 2ª e 3ª fases de colocação e sobretudo com a colocação em massa dos alunos provenientes dos Cursos de Especialização Tecnológica (vulgo CETs), as turmas desse cursos foram sendo mais ou menos compostas, lutando-se assim, à falta de melhor e mais adequada estratégia,pela sobrevivência, ainda que dolorosa, das instituições.
Só o Politécnico de Castelo Branco terá perdido, nos últimos 10 a 15 anos, mais de 10 milhões de euros do seu orçamento anual, o que diz bem das dificuldades actualmente sentidas.
A criação de alguns (ainda que insuficientes) instrumentos legislativos, em particular o diploma sobre os consórcios, constitui uma oportunidadepara o reordenamento da rede e a racionalização da oferta. Mas os responsáveis das instituições deles não tiraram partido, deixando-se antes arrastar para a situação dramática que se vive.
Qualquer uma destas instituições tem capacidade instalada (professores altamente qualificados, equipamentos, laboratórios, etc.) em cursos sem procura e tem formações com procura, mas sem capacidade de recrutamento de mais docentes, obrigando os que existem a um esforço muito acrescido, o que contribui para a sua desmotivação.
Embora a crise financeira que assolou o país nos últimos anos tenha também tido como consequência a redução do número de alunos na nossa região, esta não é, certamente, a única explicação, já que, ao contrário dos institutos politécnicos, a UBI aumentou significativamente a sua comunidade discente, quando ainda não há muitos anos (mais ou menos 15), o Politécnico de Castelo Branco chegou a ter mais alunos.
Outras razões haverá, que nos próximos artigos procuraremos abordar.

29/09/2016
 

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