14 de junho de 2017

JOSÉ DIAS PIRES
HAVERÁ UM DIVÓRCIO ENTRE EDUCAÇÃO E CIDADANIA?

Tenho dificuldade em imaginar em que bases litigiosas se processou o que alguns vêm designando como divórcio entre a educação e a cidadania. Contudo, sempre foi para mim um exercício fácil e aliciante o discorrer sobre os que não têm medo de o contrariar, exercendo o livre arbítrio da imaginação criativa e participativa. Faço-o distinguindo claramente quatro grupos:
As crianças; os velhos; os sonhadores e os loucos, porque em qualquer um destes grupos encontraremos facilmente professores e alunos.
Às crianças pouco lhes importa se têm havido ou não barreiras intransponíveis entre as ciências e as humanidades, entre educação e cidadania.
Ao fenómeno, eminentemente científico e pedagógico, da lama associam o prazer imediato e lúdico da construção da pequena barragem, assumindo a sujidade que resulta como afirmação de liberdade.
O desafio claramente geométrico da construção de qualquer puzle é humanizado automaticamente na emoção tripartida na descoberta da cor, da imagem, que, no seu todo, são o texto, mesmo quando esse texto não corresponde à expressa vontade do educador.
Para os velhos, mais que a discussão epistemológica sobre a origem científica do conhecimento e a necessidade pedagógica da sua afirmação, o importante é ter tempo para viver, de forma prudente e assumida, a sabedoria diferente mas acumulada nas experiências de vida.
Os sonhadores, para os quais não há fronteiras, mas somente pontes, guardam nas mãos os fios líquidos dos sonhos e dos valores dos homens e conseguem transformá-los nos densos mares das descobertas científicas e das afirmações educativas.
Os loucos, se num momento desformalizam a ciência e a educação e a aproximam tanto do homem, no outro fazem das humanidades fórmulas, teoremas ou princípios próximos da matemática e das outras ciências, inventando assim o conceito anti-dicotómico da «humanidência».
Em 1987, na sua obra Um discurso sobre as Ciências, o Professor Boaventura Sousa Santos escrevia sobre o paradigma emergente, conjugando o paradigma científico (de um conhecimento prudente) com o paradigma social (de uma vida decente) reduzindo a pó a distinção dicotómica entre ciências naturais e ciências sociais, o mesmo é dizer entre ciências e humanidades ou, provavelmente, entre educação e cidadania.
Hoje não tem nem sentido nem utilidade falar do divórcio entre a educação e a cidadania, na medida em que todo o conhecimento se funda na superação das distinções dualistas, durante tanto tempo consideradas como insubstituíveis, como: natureza/cultura; natural/artificial; vivo/inanimado; mente/matéria; observador/observado; subjetivo/objetivo; coletivo/individual.
É urgente passar aos nossos jovens a noção de que cidadão é aquele que consegue ser produtivo e se fortalece, gradativamente, à medida que conquista a sua independência económica e espiritual, tendo perfeita consciência do seu espaço no mundo atual, adotando, com convicção, princípios éticos além dos legais, para alcançar o equilíbrio, a harmonia e o prazer da vida em grupo.
O processo de globalização tem impulsionado a escola em direção à procura de melhores alternativas na articulação dos sistemas de ensino, cabendo aos educadores, a tarefa de desenvolver o potencial criativo dos educandos, estimulando-os a pensar, imaginar, inovar e, sobretudo, a gostar de aprender, para que desenvolvam autonomia e independência, características essenciais para a orientação de toda a sua vida.
Educar para a cidadania é o mesmo que apontar possibilidades, mostrar caminhos, revelar esperanças sem definir limites à liberdade de procurar os saberes: o saber fazer (competências); o saber ser (consciência); o saber estar (participação) e, principalmente, o saber tornar-se em agente transformador e de mudança (exercer a cidadania).

14/06/2017
 

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