15 de fevereiro de 2017

Maria de Lurdes Batista
O MEDO ANDA POR AÍ…

Há medos que nos invadem, mas imprimem acções que podem salvar de perigos. Há outros medos que nos impedem de viver com plenitude. Esta última perspectiva implica subjectividades, como medo de insectos ou doutros animais, medo das alturas que provocam vertigens a puxar para abismos e um sem número de medos de que não vou falar. O medo que se torna relevante neste apontamento é o comum entre os homens em geral, um medo instalado por previsão, que pode ser especulação sobre catástrofe com hipótese de consequências de sofrimento e morte.
Começar-se-ia a postular o medo da morte, que vem de tempos ancestrais. A morte é presença constante com o questionamento do próprio sentido da vida, com resoluções procuradas no plano religioso, para apresentar um exemplo, modo de escapar ao absurdo da finitude, que tira significado ao caminho que se percorre.
Um dos medos mais na ordem do dia relaciona-se com o 45º presidente dos Estados Unidos da América, Donald Trump, cuja eleição um comentador considerou «momento negro». Desse momento negro tem havido continuidade em vários outros momentos negros de medidas tomadas com ânsia de concretização de promessas de campanha eleitoral, frases de campanha em que não se acreditava.
Sentiu-se um estremecimento do mundo quando dos primeiros papéis assinados, incredulidade pela revogação do programa de saúde Obamacare, o fim das restrições às energias poluentes que integravam o Plano de Acção para o Clima do anterior presidente, a anti-imigração postada em ordens de Trump. Destaco estas acções de entre as dez ou doze mais polémicas. Penso que se avizinha uma perturbação internacional.
Aliás, o problema do aquecimento global é um medo dos homens. Embora alguns estudiosos do assunto sejam acusados de alarmistas pelos efeitos terríveis que prognosticam, consciente ou inconscientemente os homens (pelo sim, pelo não) temem-no, tal como temem as centrais nucleares já velhas, que são bomba-relógio no planeta (por mim, até as novas temo… não sou a favor da energia nuclear…). Nos portugueses vai alastrando o medo de Almaraz, sobretudo na população mais informada, conquanto uma parte não viva esse medo devido ao alheamento que a falta de conhecimento produz, porque o modo como cada um vive o medo varia. Devemos também considerar o medo de acordar as populações por parte das autoridades responsáveis, sobre quem pesará a culpa se as circunstâncias se encarregarem disso (esperemos que essas circunstâncias terríveis não se verifiquem…). E Almaraz está aqui tão perto!
O medo do Daesh pretende-o o Daesh, que já foi designado de «inimigo número um da humanidade» e de «máquina assassina», ostentando vídeos de atrocidades terroristas como troféu da guerra que desencadeou.
O medo pode ser uma arma de ataque, pode ser uma arma de defesa para evitar perigos, torna-se um meio de fragilidade entre as populações. Tudo vai confluir no que resumo pela apropriação de dois versos de Cecília Meireles: «Tu tens um medo: / Acabar.» Tudo conflui no medo da morte e num durante de sofrimento.
    O medo estiola as acções solidárias, «esteriliza os abraços», faz retrair os sentimentos do amor, impede uma entrega ao acto de viver. O medo traz o morrer um pouco cada dia. Lembro um poema de Carlos Drummond de Andrade:
CONGRESSO INTERNACIONAL DO MEDO
Provisoriamente não cantaremos o amor,
que se refugiou mais abaixo dos subterrâneos.
Cantaremos o medo, que esteriliza os abraços,
não cantaremos o ódio porque esse não existe,
existe apenas o medo, nosso pai e nosso companheiro,
o medo grande dos sertões, dos mares, dos desertos,
o medo dos soldados, o medo das mães, o medo das igrejas,
cantaremos o medo dos ditadores, o medo dos democratas,
cantaremos o medo da morte e o medo de depois da morte,
depois morreremos de medo
e sobre nossos túmulos nascerão flores amarelas e medrosas.

15/02/2017
 

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