Dia Mundial da Poesia
Dia Mundial da Poesia – O calendário traz-nos esta semana a primavera e com ela o Dia Mundial da Poesia e o Dia Internacional das Florestas. Aparentemente, os fogos que mataram a floresta feriram gravemente a poesia que, em cada primavera, enfeitiçava a nossa região e fazia renascer a Esperança. Estamos de luto. A floresta vestiu-se de negro, pelo sangue derramado e os homens ainda choram as perdas.
Esta primavera terá que ser um tempo de reconstrução. De renascer das cinzas. De olhar a floresta e as árvores com outro olhar. De repensar a ocupação do solo. De experimentar. Mas também de não esquecer que a POESIA está viva e que ainda é capaz de alimentar o sonho. O sonho que comanda a vida. Que ultrapassa dores e traumas. Que gera novas vidas e vontade de vencer. Que não cede. Que é capaz de semear e plantar.
A ideia de dedicar o próximo fim de semana a plantar árvores tem uma poesia natural que importa realçar. Aliás muitos poetas foram interpelados pelas árvores. Pelo seu mistério. A começar por D. Dinis “ai flores do verde pino”. Deixo, para despertar apetites, e como forma de me associar ao Dia mundial da Poesia, o poema das árvores de António Gedeão “As árvores crescem sós. E sós florescem. Começam por ser nada. Pouco a pouco/se levantam do chão, se alteiam palmo/ a palmo.
Crescendo deitam ramos, e os ramos outros ramos, /e deles nascem folhas, e as folhas multiplicam-se.
Depois, por entre as folhas, vão-se/ esboçando as flores, /e então crescem as flores, e as flores/ produzem frutos, /e os frutos dão sementes,/e as sementes preparam novas árvores.
E tudo sempre a sós, a sós consigo mesmas. /Sem verem, sem ouvirem, sem falarem. /Sós. /De dia e de noite./Sempre sós.
… solitárias, as árvores, /exauram terra e sol silenciosamente. /Não pensam, não suspiram, não se queixam. / Estendem os braços como se implorassem;/com o vento soltam ais como se suspirassem;/e gemem, mas a queixa não é sua.
Sós, sempre sós. /Nas planícies, nos montes, nas florestas, /A crescer e a florir sem consciência.
Virtude vegetal viver a sós/E, entretanto, dar flores”.