PROJETO DE GONÇALO SALVADO E MARIA JOÃO FERNANDES ANUNCIADO EM ESCULTURA DE DORA IVA RITA
Os Amantes de Pompeia apresentados em Lisboa
A escultura Os Amantes do Vesúvio, da autoria da artista portuguesa Dora Iva Rita, atualmente em exposição na galeria da Escola de Belas Artes de Lisboa, marca o início do projeto interdisciplinar A Imortalidade do Amor, Os Amantes de Pompeia – Contributo para a Fixação de um Novo Mito Amoroso, de Gonçalo Salvado e Maria João Fernandes, que engloba uma antologia poética, com organização de Gonçalo Salvado e uma exposição coletiva de escultura, pintura e gravura comissariada por Maria João Fernandes.
A escultura Os Amantes do Vesúvio foi realizada a convite dos autores do projeto, para figurar como cartaz e ex-libris do mesmo.
A exposição coletiva partiu da ideia de uma antologia, da autoria do poeta Gonçalo Salvado, de poemas inspirados nos Amantes de Pompeia, a primeira a nível mundial, que inclui colaborações de poetas de renome portugueses e estrangeiros e conta com um prefácio do conceituado ensaísta e crítico literário português Fernando Guimarães.
No seu texto de abertura à antologia Gonçalo Salvado escreve que “desde a sua redescoberta e ressurreição, a meados do século XVIII, Pompeia (ou Pompeios numa forma de dizer mais correta) tem estado presente no imaginário ocidental, ecoando e deixando marcas em quase todas as expressões culturais. Em Portugal é notável a sua repercussão na poesia em composições de singular qualidade literária como prova este livro. De todo o extraordinário legado que Pompeia nos deixou, o que mais tem seduzido e despertado a imaginação dos nossos poetas é esse abraço final (ou sugestão dele) de dois seres que anelam fundir-se na hora derradeira em uníssono estertor, verdadeiro triunfo do fogo sobre as cinzas, quer dizer, de Eros sobre Thanatos, símbolo que pretendemos hoje fortalecer com o nosso contributo e que deve representar e cristalizar em si a aspiração mais sublime de toda uma humanidade que depõe no amor a sua única e sempre reiterada esperança de salvação”.
Tanto o livro como a exposição centram-se, assim, na celebração dos Amantes de Pompeia, como um contributo para a fixação de um novo mito amoroso e como um hino à imortalidade do amor para além de todas as vicissitudes das catástrofes naturais, do tempo, da morte e do esquecimento.
Segundo Maria João Fernandes “se o mito está para além da história, é o húmus simbólico onde esta se inspira e uma intemporal fonte de imagens. As figuras de Pompeia, petrificadas pela lava, alimentaram o mito dos amantes surpreendidos e fulminados pelo ímpeto de destruição à escala cósmica que acompanhou a erupção vulcânica do Vesúvio no primeiro século (ano 79 D.C.) da era cristã. O fogo do amor extinto pelas cinzas voltou a arder no imaginário ocidental e já no século XX a poesia de todo o mundo inspirou-se nesta imagem simultaneamente aterradora e salvífica deixando as suas marcas na obra de muitos poetas portugueses e estrangeiros reunidos pela primeira vez na antologia Os Amantes de Pompeia na Poesia Amorosa Universal , organizada pelo poeta Gonçalo Salvado, a publicar em simultâneo com a exposição.
Pompeia foi tema já no século XX de duas grandes exposições na Fundação Calouste Gulbenkian, em 1974, em Lisboa, Pompeia, Vida e Arte nas Cidades do Vesúvio, e em 2013, no British Museum de Londres, Life and Death in Pompeii and Herculaneum.
A mostra pretende assim também restabelecer o elo simbólico entre Pompeia e Lisboa, duas cidades devastadas por apocalípticas catástrofes naturais e pretende ser um marco na consolidação do mito nas artes plásticas e na literatura com a publicação da primeira antologia dedicada ao tema. Se a ligação do amor e da morte é um tópico recorrente da cultura ocidental como demonstra o ensaio de referência de Denis de Rougemont, esta exposição, a primeira ao que se sabe, a nível mundial, sobre o tema dos Amantes de Pompeia, deverá equacionar a sobrevivência do amor sobre a morte, o seu triunfo sobre o tempo e sobre todas as vicissitudes que ameaçam o destino humano.”
A pioneira escultura em barro, de Clara Menéres, realizada para uma Bienal de Cerveira, Amantes, ou restos arqueológicos de uma viagem para a morte, é entre nós a primeira manifestação do tema na arte contemporânea portuguesa e deverá marcar presença na exposição a par de criações de prestigiados artistas estrangeiros e portugueses como José de Guimarães, Graça Morais, Emília Nadal e Francisco Simões, entre outros.