João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
AO FIM DE SETE DIAS, os motoristas de matérias perigosas não resistiram mais e deitaram a toalha ao chão, isolados, abandonados pelo outro sindicato, o de transporte de mercadorias. Como em tudo o que se refere à luta sindical, o objetivo era conquistar o mais possível, sabendo que a satisfação total das suas reivindicações muito raramente acontece. Mas desta vez, logo nos primeiros dias se percebeu que dificilmente a luta dos motoristas sairia vitoriosa. Por várias razões e não sendo a menos despiciente o erro de análise do seu mentor, o advogado Pardal Henriques, que achava ser este o momento para agudizar a luta, para o tudo ou nada, na perspetiva de que a proximidade das eleições faria tremer de medo o governo pelas consequências da greve. Todo o contrário daquilo que teria de acontecer. Para um animal político da qualidade de António Costa, esta era a oportunidade de ouro para mostrar a firmeza, de que o eleitorado gosta, na forma como enfrentou esta crise energética. A dois meses das eleições, este pode ser o elemento que faltava para a conquista da maioria absoluta, porque a estratégia montada pelo governo, mostrando como aprendeu com a greve de abril, vai ao encontro das preocupações do eleitor do centro político, aquele que caindo para um lado ou para o outro, dá as maiorias absoluta. E entretanto, com todos os olhos e ouvidos dos media focados na greve, todos aqueles casos que iam chamuscando o PS caíram no esquecimento. Com a esquerda, do PCP a BE, desconfortável com a situação, não alinhando claramente no apoio a um sindicato desalinhado e comandado por um populista; com a direita, CDS e PSD, a mandar os lideres para férias e a manterem um silêncio ensurdecedor. Só agora, depois da resolução do conflito, Rui Rio vem acusar António Costa de montar um circo mediático, de se ter colocado ao lado do patronato e de ter provocado um alarmismo social não justificável. Palpita-me que é todo um discurso com o qual o seu potencial eleitorado não comunga, pois para o comum dos cidadãos o importante foi ter-se vivido a greve, que não tenha data de término, sem grandes incómodos pessoais. E no meio disto tudo, esquecemos que uma parte significativa das causas dos motoristas são justas. É o que acontece quando as estratégias oportunistas que pareciam ter tudo para serem ganhadoras, afinal se desmoronam com um sopro restando o radicalismo e o desespero.