Lopes Marcelo
MUSEU FRANCISCO TAVARES PROENÇA JÚNIOR, INTERROGAÇÕES SOBRE O FUTURO
No passado fim de semana, a Sociedade dos Amigos do Museu celebrou o dia do associado numa interessante jornada cultural. Com vitalidade e entusiasmo, cinco dezenas de associados viveram em intenso convívio e diálogo cultural, em representação do Museu, a visita a um conjunto de instituições culturais do interior norte do nosso país. Foi muito instrutivo o diálogo no extraordinário Museu do Abade de Baçal, no Centro de Fotografias Georges Dussaud e no Museu Ibérico da Máscara e do Traje, todos em Bragança, numa feliz oportunidade de se sentir e apreender a genuína vibração cultural das terras de Trás-os-Montes. Na viagem descendente, no Museu do Côa, a magia dos sinais e símbolos telúricos gravados nas pedras que nos falam do engenho e arte dos nossos antepassados de há dezenas de milhares de anos. Em Trancoso, a surpreendente revisitação da mítica vida do Sapateiro Bandarra descrita com autenticidade pelos testemunhos na voz simples do povo. Ainda em Trancoso, no Centro de Interpretação Isaac Cardoso, a documentada denúncia dos macabros processos da dita “Santa” Inquisição contra os judeus e o reerguer da bandeira dos valores da igualdade e da inclusão como meio pedagógico de se aprender com as lições mais negras da história da Humanidade.
Foi muito positivo e reconfortante constatar que em todas as instituições visitadas é conhecido e muito apreciado o nosso Museu pela sua relevante história centenária e inequívoca bandeira cultural regional do nosso território. A celebração de mais um dia do associado decorreu, assim de forma profícua, na moldura da empenhada eficiência do Conselho Director da Sociedade dos Amigos que continua a revelar vitalidade e dinamismo apesar do avolumar das incertezas e das grandes preocupações sobre o arrastar da situação de quase inactividade do Museu e indefinição sobre o seu futuro.
De facto, com a celebração do Contrato Interadministrativo de Delegação de Competências entre a Câmara Municipal e o Ministério da Cultura, a gestão do Museu passou para a esfera municipal. Nos últimos três anos foi-se acentuando a diminuição da actividade do Museu. No Boletim Informativo nº14 de Dezembro de 2017, o Conselho Directivo da Sociedade de Amigos assumiu um voto: “que o novo ano que se avizinha apague as ângustias do ano que termina”. No final do ano de 2018, o Boletim Informativo registou: “ este ano foi marcado pelo avolumar de apreensões, quer quanto às obras de remodelação do nosso Museu e da sua área envolvente, quer quanto à indefinição do seu futuro e panorama cultural da nossa cidade”.
Indefinições, incertezas, ângustias, o Museu praticamente desactivado e com futuro incerto; é um quadro preocupante que parece pouco importar à fria gestão municipal. Contudo, a Sociedade dos Amigos do Museu, não tem desistido de concretizar um relevante plano de actividades culturais com dedicação e trabalho voluntário gracioso, prestigiando o Museu e a cidade. Assim, em minha opinião, temos o direito de continuarmos a questionar, a exemplo da pergunta que enderecei à então Directora regional da Cultura do Centro : De quem é o Museu Francisco Tavares Proença Júnior? Agora, de uma densa e muito atarefada repartição municipal que gere à distância?
Para afastar subjectivismos, passo às perguntas concretas:
a) Atendendo a que com a assinatura do referido Contrato, a Câmara Municipal recebeu os meios financeiros correspondentes à função de direcção, porque é que continua ao fim de três anos sem ser feito o adequado concurso para director(a) do Museu?
b) A lei Quadro dos Museus, Lei nº47/2004, determina no artº44º 1)” O Museu deve ter um director que o representa tecnicamente, sem prejuízo dos poderes da entidade pública ou privada de que o Museu dependa”. A Câmara Municipal não cumpre a Lei, nem tem Plano de actividades e Projecto de estudos e de investigação para o futuro do Museu, Porquê?
c) Como se pode entender que o Museu tenha sido esvaziado de todos os técnicos superiores que lá trabalhavam?
d) A ligação física entre o Jardim do Paço e edifício do Museu foi, há anos e por sugestão da Sociedade dos Amigos, proposta pela Câmara Municipal à Direcção Regional da Cultura do Centro. Sendo os dois equipamentos culturais da mesma gestão municipal, porque é que não é concretizada?
e) No âmbito das comemorações do centenário da morte do fundador, por sugestão de um associado da Sociedade dos Amigos, a Câmara Municipal aceitou e mandou executar um busto em bronze de Francisco Tavares Proença Júnior. O busto foi executado, pago e recepcionado. Então, qual será a razão pela qual está abandonado no armazém do arquivo da Biblioteca Municipal e não é colocado no Museu?
f) No início do corrente ano, foi eleito um novo Conselho Director da Sociedade dos Amigos que, na tomada de posse, formulou o desejo de que o ”Museu assuma, pelo menos, um estatuto regional como foi a sua geografia de trabalho estabelecida pelo fundador Tavares Proença Júnior. É uma memória que devemos respeitar”. Nos anos da actual gestão municipal, já existiu algum evento ou projecto de âmbito regional?
Não há espaço, por agora, para mais perguntas. Todas concretas e formuladas com objectivo construtivo de valorização cultural do nosso, de todos, da nossa região, o vetusto e centenário Museu que, para além de honrar a memória do seu fundador, prestigiou a cidade, a região e o país, e agora nos responsabiliza a todos. Perguntas que merecem respostas concretas? Para quando? Por quem?