João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
NÃO SABEMOS A QUEM ASSACAR CULPAS quando se vê a Europa, as suas instituições e governantes a tomarem decisões quanto à vacinação ao arrepio daquilo que seriam os interesses dos seus concidadãos e a ferir um plano que já de si era um desafio enorme concretizar. Mesmo que essas decisões tivessem sido tomadas com base no princípio da medida prudencial. Estamos a referir-nos, claro, à suspensão por alguns dias da vacina da AstraZeneca, que na prática resultou pelo menos numa semana de paragem. Até podia ser só um dia, porque o resultado da decisão seria idêntico: a perda de confiança de muitos cidadãos, como mostram estudos de opinião entretanto realizados e a consequente resistência à vacinação. Criou medo nos que iriam receber a vacina daquela farmacêutica anglo-sueca, criou stress em quem já a havia tomado, temendo pelos efeitos que apontariam para a possibilidade de ocorrerem a formação de coágulos, como alegadamente teriam ocorrido em 30 cidadãos de entre os cinco milhões de europeus que já a receberam. Foi uma decisão política, não técnica, precipitada pela decisão alemã a que se seguiram alguns outros países, incluindo Portugal, que não quiseram esperar pelo parecer da Agência Europeia do Medicamento. Quinta feira anunciou-se, como era de esperar, não se ter encontrado qualquer relação entre os episódios de coagulação e a utilização daquela vacina e que as vantagens para a saúde do cidadão e neste caso também para a saúde pública, suplanta um eventual efeito secundário que advenha da tomada desta, como pode ocorrer de resto com qualquer medicamento. Sabemos que os governantes se sentem pressionados pela opinião pública de quem temiam ser responsabilizados por qualquer morte que ocorresse após a divulgação da informação. Mas governar é assumir responsabilidades e este atraso na operação pode provocar mais infetados ou mortes que qualquer possível reação ao medicamento. Entretanto os Estados Unidos da América e o Reino Unido não suspenderam a operação de criação de imunidade de grupo, e por alguma razão nesta corrida estão bem à frente da Europa. O Reino Unido, 870 mil vacinados num só dia, já tem metade da população adulta imunizada. Uma determinação e eficácia tais, que já há muito bom britânico anti-Brexit que agora pensa que afinal até estão mais seguros fora da burocracia e hesitações de Bruxelas.