Edição nº 1687 - 21 de abril de 2021

Maria de Lurdes Gouveia Barata
AS ESPLANADAS

Só a palavra esplanada já soa bem. Cada um de nós sente as palavras à sua própria maneira, seja pelo som, seja pelas evocações que pode trazer. E já se entra no sentido… A mim, aquele a aberto (ainda por cima o a do meio) projectou-me sempre para o que realmente é a esplanada como local: espaço aberto, plano, com largueza (embora haja pequenas esplanadas), sobretudo ar livre, com brisas suaves que acariciam a pele e fazem respirar melhor.
E, então, se for uma esplanada à beira-mar traz a fascinação para os olhos e para todos os sentidos de maneira especial, com o cheiro da maresia, o olhar que se expande no horizonte desenhado em longe, junto do céu, o som inigualável das ondas batendo na areia e até um sabor de brisa marinha misturado com um sumo ou algo que se coma… São as minhas esplanadas preferidas.
E se for uma esplanada de miradouro de montanha vêm cheiros verdes e os olhos mergulham no mistério das árvores e das flores campestres e dos arbustos que oscilam no vento. Também o horizonte se perde de vista com sonhos de amplidão da Natureza. E do maravilhamento.
Há também as esplanadas da cidade, nos largos, nas ruas mais largas ou mais estreitas, mais ou menos apertadas entre prédios. Aí, a vista acompanha os passeantes ou demora-se nas montras próximas que se alcançam com o olhar. Não é já a Natureza que se privilegia, mas as pessoas. Todavia, geralmente, em todas as esplanadas, pode-se olhar o céu, nem que seja por nesguinhas entre guarda-sóis, e é sempre fugir para um infinito. Em Castelo Branco, há várias esplanadas, mas destacam- -se as do centro da cidade, as Docas ( tão idiota designação numa cidade de interior, visto que porto marítimo, aqui, só existe numa imaginação desvairada…). Aí, sim, há espaço largo e aberto…
No entanto, hoje falo em especial do encontro, ou mesmo desencontro, na esplanada, sentados, podendo sempre descansar o olhar à volta. São principalmente amigos ou familiares os do encontro, pondo-se conversas em dia, partilhando-se segredos ou divagando-se sobre futilidades, ou contando-se histórias divertidas, cujo efeito faz ouvir gargalhadas. O encontro não é só na mesa que se partilha com alguém. Passam outros, que param, cumprimentam ou juntam-se, abrindo-se mais um lugar. A esplanada é encontro sobretudo, mas pode ser desencontro por discussão acesa, possivelmente provocando incompatibilidade. Porém, privilegio a esplanada como local de paz, mau grado haver a má língua sem a qual muitas pessoas não podem passar… É que a esplanada é local de democracia, a todos recebe, sejam gente boa, sejam gente daninha, cuja procura da esplanada pode ser motivo de má intenção a espalhar boato ou a dar escoamento de fel a corações zangados e de mal com a vida.
Estar sozinho numa mesa de esplanada também é bom, distraindo-se com o movimento humano, olhando para tudo e para nada em simultâneo, ou lendo um livro ou o jornal, ou encostando-se na cadeira a pensar na vida e ausentando os olhos para um longe que está mesmo longe… O cafezinho negro agita o escuro duma lonjura e ajuda a viagem imaginária. Não admira, assim, que a esplanada seja objecto de desejo, ligada a sensações de relaxamento e despreocupação. „Desfruta de verdadeiro lazer quem tem tempo para melhorar o estado de sua alma”, disse  Henry David Thoreau no séc. XIX .
Saudades da esplanada durante o confinamento. O desconfinamento trouxe-a ansiosamente de volta. E as esplanadas encheram com sorrisos, cumprimentos e sol de Abril coado pelos guarda-sóis. Alegria um pouco desvairada, porém. Algumas pessoas libertaram-se sem ter os cuidados recomendados para um desconfinamento seguro. O cafezinho soube melhor do que nunca, sozinho ou acompanhado. Mas depois do cafezinho a máscara (máscara do nosso destino?) foi esquecida… e a proximidade perigosa em alguns casos. Conversas e risos sem pensar que o perigo continua próximo, porque o vírus execrável continua por aí. E lá vieram as autoridades por vezes e as multas também. Só desejo que se cumpram recomendações, travando-se inconsciências que são egoísmo, porque receio, assim, outro confinamento e ficar de novo a urdir saudades da esplanada.

21/04/2021
 

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