Edição nº 1715 - 10 de novembro de 2021

CASTANHA ASSADA, JEROPIGA E ÁGUA-PÉ PARA COMEMORAR O SANTO
São Martinho desafia para os magustos

O Dia de São Martinho é comemorado esta quinta-feira, 11 de novembro, e a tradição manda que se façam os tradicionais magustos, onde não pode faltar a castanha assada e a água-pé ou jeropiga. Manda também a tradição que os convivas enfarrusquem a cara com as cinzas da fogueira onde as castanhas são assadas.
Este ano, como o Dia de São Martinho é uma quinta-feira, o mais provável é que a tradição seja cumprida no próximo fim de semana, 13 e 14 de novembro, mas, diga-se, esse é apenas um pormenor, uma vez que aquilo que é realmente importante é que tradições como esta se mantenham.
O Dia de São Martinho está também ligado a uma infinidade de ditados populares. Por exemplo, afirma o provérbio, No Dia de São Martinho, pão, castanhas e vinho, ou No Dia de São Martinho vai à adega e prova o vinho, ou ainda No Dia de São Martinho, mata o teu porco, chega-te ao lume, assa as castanhas e prova o teu vinho, isto só para referir alguns.
Mas, de onde vem o Dia de São Martinho?
A sua origem, reza a lenda, remonta ao ano de 337, no Século IV. Num outono frio, Martinho, um cavaleiro gaulês, regressava a casa, quando, no meio de uma tempestade, encontrou um mendigo que lhe pediu uma esmola. Como não tinha nada consigo, Martinho, não hesitou, tirou o manto que tinha nas costas, pegou na espada e cortou-o ao meio, dando metade ao mendigo, para o ajudar a suportar o frio. Foi então, perante esse ato, que a tempestade deu lugar ao Sol. Estava assim concretizado o milagre que é conhecido como O verão de São Martinho, segundo o qual, nessa altura do ano o outono se vai embora dando lugar ao Sol.
De referir, ainda, que Martinho era um militar romano, que abandonou o exército, para se tornar um monge católico, tornando-se num dos principais religiosos a difundir a fé cristã na Gália, que é a atual França. Martinho acabou por ser sepultado na sua cidade natal, Tours, França, no dia 11 de novembro, sendo esse o motivo pelo qual essa é a data escolhida para assinalar o Dia de São Martinho.
Já no que respeita à ligação do Dia de São Martinho às castanhas e aos magustos, em Portugal, a sua origem também é conhecida. Tudo indica que a sua origem está no Norte do País, onde era habitual a tradição do Magusto de Todos os Santos, no dia 1 de novembro. Ou seja, era habitual assinalar os Finados ao redor de uma fogueira, na qual eram assadas castanhas, com a finalidade que os espíritos dos que tinham deixado a família pudessem apreciar o aconchego das chamas.

O Monte de São Martinho
O Monte de São Martinho, localizado a cerca de três quilómetros de Castelo Branco é uma referência para a cidade. No alto do Monte, junto ao marco geodésico, está a conhecida Capela de São Martinho, que muitos anos, no Dia de São Martinho, 11 de novembro, acolhe a celebração de uma missa.
Como diz o investigador Albicastrense Pedro Salvado “o Monte de São Martinho é um lugar fundacional da paisagem cultural Albicastrense. Para além da ancestral lenda das origens da cidade, a arqueologia e a história confirmaram a relevância desta peculiar orografia, de xistos, granitos e quartzitos nas dinâmicas culturais e calendários das geografias religiosas que, durante milénios, aqui se sucederam”.
Pedro Salvado realça que “o Monte é e era um relevo que vê e é visto. Domina o horizonte como um farol de cultura e de vida e foi um dos lugares de povoamento mais antigo da região. Há três mil anos aqui se afirmava um povoado com as suas muralhas e casas que a terra ainda guarda. Sabemos ainda pouco da sua vida quotidiana. Mas São Martinho foi um local de culto a divindades pré e proto históricos. Em 1903, Tavares Proença Júnior, o fundador do Museu de Castelo Branco, encontrou três monumentos pré-históricos únicos que ligam culturalmente este monte ao Mediterrâneo Central há cerca de três mil anos. Os menires estelas representam uma cena de caçada e figuras divinizadas, guerreiros com as suas armas e capacetes. São monumentos únicos na Península Ibérica e as mensagens que suportam ainda se encontram longe de serem completamente descodificadas”.
O investigador adianta que “a atual capela, obra de uma reconstrução do Século XIX, deve ter sido edificada na base de um espaço sagrado muito mais antigo. Encontram-se perto inscrições que comprovam que foi um sítio de culto a várias divindades durante o período romano. São Martinho foi um horizonte onde se recitou o Alcorão e deste alto se avistou a passagem nas guerras das fronteiras da Reconquista que estiveram na base da fundação da cidade. Do seu cimo, vislumbra-se uma extraordinária vista para o Ponsul, para a Gardunha e para o vale do Tejo”.
Pedro Salvado realça que “o Monte envolvido por uma grande mancha natural tem um grande valor paisagístico e cultural. São Martinho é, sem dúvida, o berço da identidade da cidade que tem de ser preservado para as gerações vindouras a merecer um especial cuidado quanto à sua preservação. Sítio de mil patrimónios do ambiental ao arqueológico comecemos por reativar o seu sentido religioso festivo. Haja vontade”.
António Tavares

10/11/2021
 

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