João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O QUE MAIS SE TEMIA, e assim o referíamos neste espaço na passada semana, aconteceu. Um líder louco, autocrata, cínico e mentiroso, detentor de um poder nuclear que assusta e que, já se acredita, não hesitará em carregar no botão nuclear se tal significar a sua sobrevivência política. Sobre a aventura sangrenta em que ele lançou a Rússia, não me vale a pena estender, porque todos os canais de notícias desde quarta-feira estão em emissão contínua. Muita e certamente fiável informação, coisa importante em tempos de guerra. E imagens que valem por mil palavras e que nos deixam com o coração apertado. Resta-nos apresentar umas breves reflexões. Que a Europa está a responder de uma forma dura e unânime, como não se adivinharia há ainda bem pouco tempo. As sanções anunciadas vão mesmo fazer mossa no Kremlin, no Putin e nas elites políticas e económicas em que ele se apoia. Sempre em crescendo na dureza, enfrentando críticas iniciais de tibieza, mas terminando agora com a saída dos principais bancos russos do sistema SWIFT, o que significa o fecho da torneira dos financiamentos, uma autêntica bomba atómica financeira que muitos acreditavam ser o ocidente incapaz de o concretizar. Que esta guerra fez despertar e unir a NATO com a tomada de medidas de apoio militar e entrega de armamento à Ucrânia. Que fez nascer um herói, o presidente Volodymyr Zelensky, que pelo seu passado de comediante antes muitos apelidavam de palhaço e acusavam de politicamente impreparado, mas que tem tido um comportamento de tal forma heroico no enfrentamento dos invasores que galvanizou os seus compatriotas e emociona o mundo. Como foi emocionante ver ucranianos a viver em Portugal, deixarem as suas famílias e partirem para a frente de combate a responder assim aos apelos do presidente. Preparado para morrer em combate, vai ficar para a história desta guerra a frase proferida em resposta à proposta dos EUA de o retirarem da Ucrânia e o receberem como exilado: Não preciso de boleia, preciso de armas. Que a resposta dada pelos patriotas ucranianos ao exército invasor não estava claramente nas previsões de Putin. Julgando estar a entrar num país mal armado e de fraca liderança política, para ele era essencial resolver a questão num par de dias. Mas tal não sucedeu e cada dia que dure a guerra será um Putin enfraquecido e encurralado, completamente desprestigiado e isolado, com a contestação a entrar na sua casa e, diz-se, já com algumas visíveis divisões entre os seus mais próximos apoiantes. A ameaça ao mundo com as suas armas nucleares já poderá ser uma manifestação do seu desespero. Finalmente, entre nós conseguiu-se uma quase unanimidade à volta do repúdio pela ação de Putin. Não há unanimidade porque o PCP assumiu uma posição incompreensível, considerando que a ação bélica da Rússia de Putin se cinge à defesa das suas fronteiras, em resposta às provocações do imperialismo americano, da União Europeia e da NATO. A grande manifestação de domingo, em Lisboa, contra a guerra e de solidariedade com a Ucrânia, foi apoiada por quase todos os partidos democráticos. Não foi apoiada pelo PCP. Uma posição difícil de ser esquecida e explicada, que vai ter consequências desastrosas para um partido essencial à nossa democracia.