ANTOLOGIA ORGANIZADA POR GONÇALO SALVADO COM DESENHOS DE FRANCISCO SIMÕES
Comemorar a poesia de Camões
Com Vinho e Rosas - O amor o vinho e as rosas na poesia de Luís Vaz de Camões - Homenagem aos 450 anos da Ilha dos Amores é o título da antologia poética organizada pelo poeta Gonçalo Salvado, que vai ser editada numa colaboração da Editora Lumen com a Livraria Sá da Costa Editora de Lisboa, em parceria com a Quinta dos Termos.
A antologia foi idealizada para celebrar os 450 anos da Ilha dos Amores, a criação de Camões incluída nos Lusíadas e com lançamento previsto em Constância, vila pertencente ao Distrito de Santarém, onde, em meados do Século XVI, entre 1547 e 1548, Camões terá vivido na sua juventude, segundo uma antiga tradição popular. Esta é a primeira comemoração do aniversário da Ilha dos Amores em Portugal.
A apresentação realiza-se dia 10 de Junho, Dia de Portugal de Camões e das Comunidades Portuguesas, no Jardim-Horto de Camões, simbolicamente junto ao monumento Ilha dos Amores, obra escultórica da autoria de Lagoa Henriques (1923-2009), uma das esculturas mais expressivas sobre o amor e o erotismo, realizadas em Portugal, ainda pouco conhecida.
A antologia insere-se numa coleção de poesia, única no panorama editorial português, dirigida por Gonçalo Salvado, em que as obras surgem em formato original livro/garrafa, numa união que pretende materializar a relação simbólica e milenar entre o vinho e a poesia. Todos os livros são apresentados por Maria João Fernandes. O editor é Ricardo Paulouro.
A obra reproduz no título um verso, adaptado, de Camões da estrofe 41 do Canto IX, de Os Lusíadas, onde se encontra o célebre episódio da Ilha dos Amores: “Ali, com mil refrescos e manjares/Com vinhos odoríferos/Quanto delas os olhos cobiçarem.”
Recorde-se que o episódio da Ilha dos Amores “pela extrema e clara erotização dos seus componentes não encontra paralelo em toda a lírica amorosa de Camões”, como realça David Mourão-Ferreira, em A Ilha dos Amores e o Lirismo Erótico de Camões, 1980.
A antologia apresenta uma seleção das referências ao vinho e às rosas na poesia de Camões e reproduz na capa um retrato do poeta lírico, pelo escultor Francisco Simões, igualmente autor de um conjunto escultórico, com o mesmo tema, intitulado Ilha dos Amores e Ninfas e que se encontra no Parque dos Poetas, em Oeiras. Dois desenhos de nu feminino, do mesmo artista, ilustram o interior do livro.
José Augusto Bernardes, especialista em Camões, referindo-se à presença do vinho na obra de Camões afirma que “Se a palavra vinho aparece pouquíssimas vezes na vasta obra do poeta, ela está latente numa grande parte dela. Até porque o mais importante trecho de Os Lusíadas, pelo menos aquele que o poeta mais se alonga a descrever, é a Ilha dos Amores”. Este especialista lembra que “ao enlace sexual de nautas e ninfas, e ao banquete em que se serviam “vinhos odoríferos”, se seguiu a revelação, e os nautas Portugueses foram convidados a conhecer o segredo do espaço e do tempo, afinal, a perceber o futuro. Vénus queria transformar a raça. Os nautas Portugueses entraram na ilha humanos e saíram de lá divinos. O poder de transformação do vinho, a maneira como ele atua no coração dos homens, a sensação da felicidade que proporciona, a procura do futuro que é permanente são os temas de Camões, bem atuais nos dias de hoje.” (in Público, 2017).
Além das referências ao vinho e às rosas na poesia camoniana, o livro inclui um fragmento da obra Camões Amor Somente, de Gonçalo Salvado, publicada em Sala-manca, Espanha, em 1999. Esta obra, uma transcriação/antologia, é uma tentativa de construção de um Cântico dos Cânticos e de uma Arte de Amar em língua portuguesa a partir de fragmentos da lírica, da épica e da dramaturgia Camonianas. Por outro lado, o autor pretendeu reconstituir a atmosfera do Parnaso de Luís de Camões, obra perdida por Camões em Moçambique que, segundo Diogo do Couto, lhe terá sido furtada e que reuniria todas as poesias líricas do poeta. A sua apresentação realizada na Embaixada de Espanha, em Lisboa, contou com palavras do então embaixador José Rodríguez-Spiteri Palazuelo. Acerca dela, afirmou Justino Mendes de Almeida, reconhecido estudioso de Camões, “A mais bela, original e criativa antologia de Camões que me foi dada a ler”. Também o ensaísta e poeta Fernando Guimarães sobre ela se pronunciou, ao afirmar que “Camões Amor Somente é um longo poema de amor onde a voz de Camões a cada instante maravilhosamente se recria e se reinventa”.
A nova antologia inclui, além da já referida apresentação de Maria João Fernandes, um ex-certo do prefácio a Camões Amor Somente do Professor e filósofo Mendo Castro Henriques.
Relembre-se que Gonçalo Salvado homenageou Luís de Camões, em 2020, também com a publicação do livro, nesta mesma original coleção e com o mesmo formato, Nigra Sum - A Mulher Negra na Poesia de Amor Lusófona do Século XVI ao Século XXI. A obra, que reúne alguns dos mais significativos poemas amorosos em língua portuguesa dedicados à mulher negra, pretende constituir-se como uma homenagem a Sulamita, a figura feminina referida no Cântico dos Cânticos, e a Bárbara escrava, celebrizada no poema imortal de Camões, nas palavras de Gonçalo Salvado, “talvez o mais belo e sublime poema de amor escrito em língua portuguesa”.