Edição nº 1738 - 20 de abril de 2022

Lopes Marcelo
NÃO HÁ PRIMAVERA EM KIEV

A grande e pesada máquina militar da União Soviética/Rússia sempre foi ao longo da história, instrumento da ambição e estratégia do poder político hegemónico instalado em Moscovo. Foi assim na Revolução de 1917, na II Grande Guerra e no controle dos regimes comunistas nos países satélites, vinculados ao Pacto de Varsóvia. A razão da força sempre se sobrepôs à razão do diálogo, da cultura e da abertura.
Uma das situações históricas mais exemplares verificou-se na designada Primavera de Praga em 1968. Quando, em Janeiro, o dirigente Alexander Dubcek se tornou Primeiro – Secretário do Partido Comunista da então Checoslováquia, assumiu posições reformistas na sequência do “Manifesto das duas mil palavras,” em que o movimento de intelectuais exigia sem violência um socialismo de rosto humano, ousando a liberdade e alguma democracia. Contudo, em Agosto desse ano, mais de quinhentos mil soldados soviéticos, milhares de blindados e centenas de aviões invadiram o país e esmagaram as veleidades de novos ventos em Praga. Por todo o mundo, foi geral a condenação política, que mais intervenção não era possível em “clima de acirrada guerra fria” entre os dois blocos Leste/Oeste do mundo organizado em dois polos antagónicos. Para alguns dos quadros e dirigentes dos Partidos Comunistas em muitos países foi uma grande decepção , um rude golpe e a ruptura com o regime soviético e, até, nessa altura, com as cúpulas dos seus próprios Partidos fiéis a Moscovo, como aconteceu entre nós.
Esmagado o perfume da Primavera de Praga, mas não convencido o povo, duas décadas depois, deu-se a designada Revolução de Veludo, por ter sido pacífica. De facto, em Novembro de 1989, a polícia reprimiu violentamente uma manifestação de estudantes em Praga em honra dos mortos do regime nazi, tendo-se seguido a reacção popular de manifestações de centenas de milhares de pessoas em várias cidades, em que se destacou a liderança do escritor Václav Havel. O então Presidente comunista Gustáv Husák perdeu o poder, o visionário Alexander Dubcek foi eleito Presidente do Parlamento Federal e, no fim desse ano, foi eleito Presidente da Républica o referido escritor revolucionário Václav Havel. Vivia – se a tumultuosa época da Perestroika, em que caiu o Muro de Berlim e se afundaram os regimes comunistas dos países satélites de Moscovo, permitindo o reencontro das identidades nacionais, novas bandeiras e novos países se reconstruiram.
Passadas algumas décadas, não voltou a ser dominante o regime comunista na Rússia mas, antes, manipulando a ambição latente da mentalidade instalada da “Grande e Santa Rússia”, um novo Partido dominado por um enigmático chefe da polícia secreta, Vladimir Putin, foi estendendo a sua poderosa máquina dos grandes interesses oligárquicos, regressando à dominadora ambição externa que vem dos ecos da história.
Aqui chegados, perante a continuada hesitação, quando não a colaborante participação em grandes negócios, da maior parte dos países da Europa, numa diplomacia de sucessivas cumplicidades e cedências, somos confrontados com a invasão e a guerra na Ucrânia.
De novo caiu a fachada envernizada e a força bruta das armas, em bombardeamentos sucessivos, tudo vai sendo destruído: escolas, hospitais, zonas residenciais, teatros, museus, maternidades, jardins de infância, pontes, monumentos, refinarias e outras infraestruturas de suporte da vida em sociedade. O sofrimento humano é indescritível, faltam as palavras. Cresce a ânsia e a raiva que nos interpela a todos.
Os monumentos, as crianças e os velhos! Tudo é esmagado na estupidez civilizacional e arrogante da barbárie de quem se acha mais forte e quer, pode e manda. Só entendem a paz dos cemitérios!
Do outro lado está um país, uma bandeira, um povo irmão do povo russo que pela sua experiência e sofrimento ao longo da sua atribulada história, aprendeu e está a assumir que quer decidir o seu próprio destino, tendo todo o direito de se defender.
Desta vez, em nome dos valores humanos da moderna civilização que, embora lentamente, foi evoluindo e consagrando a identidade o respeito e a igualdade entre os povos, a fraternidade e a solidariedade entre todas as diferentes etnias da raça humana, sem castas de exploração e de subjugação económica, cultural, religiosa ou política; um significativo Movimento de reacção solidária, de partilha e ajuda por grande parte do mundo, foi finalmente posto em marcha, será suficiente? Chegará a tempo?
Não bastou a tão impressionante, trágica e negativa lição civilizacional de ódio e destruição verificada na II Grande Guerra há apenas algumas décadas e de tantas outras guerras mais recentes?

20/04/2022
 

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