Alfredo da Silva Correia
POBRE POVO NAÇÃO VALENTE - A TAXA DE INFLAÇÃO HOJE VIVIDA
Como muitos outros povos na nossa Europa e até por esse mundo fora, com especial realce para os países desenvolvidos, vamos ser confrontados, nos próximos tempos, com uma forte perda do poder de compra que estimei, há cerca de 2 anos, entre 10 e 20%, o que aconteceria quer houvesse guerra ou não, problema que deveria ter sido devidamente tratado pelos nossos candidatos à governação, o que não aconteceu, incompreensivelmente, na campanha das últimas eleições legislativas. De facto, já há anos que se vem notando um significativo desfasamento entre a produção que é atacada e desmotivada por tantos e a disponibilidade de moeda nos respectivos mercados, resultante de emissões pelos bancos centrais, para resolver problemas de desequilíbrios criados em certos países, como o nosso, que atingiu um índice de endividamento enorme. Aliás, há já bastante tempo que me surpreendia o facto do Banco Central Europeu estar a emitir moeda, de uma forma anormal, sem que de tais emissões resultasse um crescimento da taxa de inflação, até que ela começou a crescer, ainda antes da lastimável guerra da Ucrânia, que veio acentuar, sem dúvida alguma, tal tendência.
É sempre assim. Ou se produz ao nível do consumo, ou chegará o tempo de termos que perder o poder de compra fictício que criámos com a emissão de moeda, sem que tais emissões tivessem contrapartida no PIB, como nos está a acontecer. É verdade que por vezes quem se deixa cair em tal desfasamento até consegue que outros os ajudem com financiamentos ou, mesmo, com doações, minimizando tal tendência, mas é sempre uma questão de tempo para que a realidade se imponha, normalmente crescendo a taxa de inflação e desta forma levando as pessoas a perder o poder de compra fictício criado.
Assim, não podia estar mais de acordo com a afirmação do nosso 1º Ministro, quando disse que não podia criar políticas de aumento de rendimentos, pois tal só conduziria a que a taxa de inflação crescesse descontroladamente, criando situações ainda mais complicadas. Sendo sempre assim, há que fazer um esforço para avaliarmos como vamos ter de nos adaptar a esta nova realidade bem previsível há já algum tempo. Desta forma, para nos podermos bem adaptar, a 1ª reflexão que temos de fazer é a de procurarmos concluir se esta tendência, ao crescimento progressivo da taxa de inflação, será conjuntural ou estrutural. De facto trata-se de um desfasamento entre a oferta e a procura de bens, o que tem diversas origens. Entre estas, na minha opinião, tem peso, na dimensão da oferta de bens, a cultura de facilidades instalada em muitos povos pelos seus governantes, con-duzindo ao ataque a quem produz, como também as alterações climáticas estão a contribuir para a sua redução. Efectivamente hoje estas estão a conduzir a que não se consiga produzir produtos agrícolas ao nível do passado em muitos espaços do planeta, tudo conduzindo a que oferta de muitos bens não tenha a dimensão necessária. Quanto à procura de bens tem estado a mesma em crescimento, nos povos desenvolvidos não só pela injecção nas respectivas economias de um poder de compra fictício, por ser criado pela emissão de moeda sem contrapartida na produção, mas apenas para serem colmatados certos desequilíbrios, como também tem estado em crescimento em muitos povos emergentes, sobretudo asiáticos, conduzindo a que estes não exportem na dimensão necessária para os povos desenvolvidos ocidentais, que caíram, por políticas de facilidades, numa situação de dependência. De toda esta dinâmica está a resultar um significativo desfasamento entre a oferta de bens e a respectiva procura, conduzindo a uma taxa de inflação crescente que pelas características referidas se pode tornar mais estrutural do que conjuntural, o que nos vai exigir grandes esforços de adaptação a novas realidades económicas. No âmbito destes esforços de adaptação a uma situação de perda de poder de compra, sem dúvida que a primeira medida que deveria ser tomada por bons governantes, seria a de tudo ser feito para serem eliminados todos os desincentivos legais ao empreendedorismo e ao crescimento da produção, sem o que os esforços de adaptação terão de passar apenas pela procura, o que cria sempre maiores sofrimentos. De facto quanto a esta a situação de perda de poder de compra vai obrigar-nos, sem dúvida alguma, a que tenhamos de repensar muitos dos nossos hábitos e mesmo atitudes comportamentais, conduzindo à redução de consumos e sobretudo à eliminação de desperdícios, o que obrigando-nos a esforços até pode vir a conduzir a que passemos a ter atitudes mais realistas.
Vamos assim ver para o que estaremos guardados neste período de tantas incógnitas em que tivemos de enfrentar uma pandemia, seguida de uma guerra impensável, que pôs em causa a produção de muitos cereais, factos que acontecem num período em que estaria a chegar os reflexos de más governações que conduziram à necessidade de emissões de moeda fictícia e ao crescimento da taxa de inflação para níveis há muito tempo não vividos.