Edição nº 1747 - 22 de junho de 2022

Alfredo da Silva Correia
POBRE POVO NAÇÃO VALENTE - A CULTURA SOCIOECONÓMICA INSTALADA E OS RESULTADOS

É sabido que o resultado alcançado por uma comunidade, seja ela um povo, uma empresa ou mesmo uma família, depende sempre da cultura que os seus dirigentes lhe injectam. Efectivamente, se for uma cultura realista e exigente, os destinatários reforçam forças e conseguem normalmente acabar por ter bons resultados. Ao contrário, se for uma cultura de facilidades e irrealista, não tenho dúvida, os destinatários amolecem e não se preparam para a luta, o que neste mundo de economia global é hoje cada vez mais necessário.
Sendo esta uma convicção muito profunda que sempre norteou a minha vida, sou levado a avaliar os resultados conseguidos por uma comunidade, quando na mesma está instalada uma determinada cultura ao longo de um longo período.
Neste tipo de reflexão, não posso deixar de ter em consideração a evolução económica recente da China, país que visitei pela primeira vez há cerca de 30 anos e pude então apreciar a sua grande pobreza, para agora poder constatar que o seu PIB per capita, desde o início do século, quintuplicou, embora seja verdade que ainda está muito longe do Europeu. De facto, o seu PIB per capita atingia já, em 2020, os 14.306 dólares, quando em 2000, rondava apenas os 2.800, sendo verdade que a zona Euro passou no mesmo período de um PIB per capita de 25.385 dólares para 47.133. Sobre este aspecto é interessante constatar que os suíços continuam a ser dos países mais ricos do mundo, com 71.732 dólares em 2022. Como se sabe o produto interno bruto per capita (rendimento por pessoa) visa medir o nível médio de vida dos habitantes de um país.
Teremos, sobre a evolução de China, de relativizar um pouco o conseguido por si no período referido, porquanto parte de um rendimento muito baixo, sendo-lhe assim mais fácil crescer, mas conseguiu-o, porque o povo vinha de uma situação de dificuldades, estando assim preparado para a luta económica, tendo potencializado oportunidades que outros não viram ou não quiseram ver.
Acontece que sobre esta problemática, também observo que o rendimento médio dos portugueses, inseridos na Comunidade Europeia e com o seu apoio, também começou, tal período com um PIB, per capita, muito baixo, quando comparado com a média europeia, embora tenha crescido, cerca de 81% ao passar de 18.887 dólares em 2000, para 34.177 dólares em 2020, a verdade é que divergimos dos nossos parceiros europeus, o que não pode deixar de ter o seu significado. De facto, tal não pode deixar de reflectir a cultura instalada pelo sistema político do país, pois acredito que quando bem conduzidos até somos capazes de grandes feitos.
Acontece que na vida há sempre períodos de maiores facilidades mas, é fatal como o destino, acabam sempre por chegar períodos, em que estas caiem e temos de nos preparar para dificuldades, sendo desastroso quando não se está preparado para elas, como sinto nos está hoje a acontecer.
De facto, perspectiva-se no futuro próximo um período de sérias dificuldades observando já muitos que a pobreza vai crescer de uma forma acentuada por este mundo fora, falando-se em muitos milhões que fatalmente serão confrontados com a fome, o que não pode deixar de se constituir numa forte preocupação. A taxa de inflação cresce de uma forma acentuada, com a redução da produção de muitos bens fundamentais à vida, quer industriais, quer mesmo alimentares, com especial realce para os cereais. Por exemplo, o trigo atingiu já uma cotação recorde, não só no prosseguimento da guerra da Ucrânia, mas também depois de Índia embargar as exportações do mesmo, informando que o está a fazer para satisfazer as suas necessidades. A sua cotação atingiu já os 438,25 euros por tonelada, havendo sinais de que a oferta se revela cada vez menor relativamente à procura, do que não pode deixar de resultar o crescimento progressivo do seu preço, com consequências no preço do pão que diariamente consumimos. Aliás há já informações de que o preço do trigo aumentou em 40% desde o início da invasão russa da Ucrânia, incorporando também os riscos actuais de seca no sul dos EUA e Europa Ocidental, tudo indiciando que se aproximam tempos nada fáceis, que não deixarão de se tornar mais pesados, para quem não estiver preparado para reagir construtivamente a dificuldades, como de certo modo nos acontece a nós, em termos médios obviamente. De facto sinto que a cultura instalada no nosso país não vai no sentido de termos boas produtividades, o que não é nada salutar para os tempos difíceis que se aproximam. Para confirmar esta leitura o facto de nos chegar a informação de que apesar do crescimento progressivo da técnica e da ciência, o número de funcionários públicos atingir no final do 1º trimestre os 741288 trabalhadores, tratando-se do número mais alto da última década. De facto com a entrada da troika em Portugal, este número foi-se reduzindo, até atingir apenas os cerca de 648.000, o que aconteceu em Setembro de 2014. De Junho de 2015 em diante, o número de trabalhadores voltou a subir e agora atinge o valor mais alto da década, sendo esta observação muito preocupante até por se sentir que as notícias continuam a informar que em quase todos os sectores da administração pública há falta de mão-de-obra. Sendo assim, não podemos deixar de concluir que a produtividade da nossa administração pública é muito baixa o que, por influenciar o sector privado na matéria em apreço, não pode deixar de significar que temos instalada uma cultura de produtividades baixas, o que terá consequências nefastas no período que se aproxima, de envolventes socioeconómicas difíceis.
Vamos ver para o que temos estado a ser conduzidos com uma cultura de facilidade, resultante do sistema político que nos tem governado. Aliás, sobre esta matéria é interessante constatar que no âmbito da discussão do orçamento de Estado deste ano tenham, de todos os quadrantes políticos surgido mais de um milhar de propostas, mas sendo quase todas a exigir mais distribuição e nenhuma com medidas de incentivo à produção. Acontece que sem esta, a prazo, não haverá distribuição possível.

22/06/2022
 

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