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Edição nº 1768 - 23 de novembro de 2022

Elsa Ligeiro
VIAGEM A PORTUGAL COM JOSÉ SARAMAGO

“Ter vindo aqui, olhar estas formidáveis paredes, este rasgão profundo na carne da pedra, é uma forma de salvação. Quando (o viajante) finalmente se afasta, nem o caminho lhe parece ruim, talvez seja apenas a provação necessária para apurar quem é e quem não é merecedor de aceder ao lugar do assombro”, escreve José Saramago no seu livro “Viagem a Portugal”.
O lugar do assombro é “Pulo do Lobo”, que tem no livro uma poética prosa sobre a natureza e as dificuldades da Viagem para a encontrar em estado puro. Um dos textos mais belos e singulares de todo o livro.
Há na “Viagem a Portugal” de José Saramago motivos que a rádio e a televisão aproveitaram neste centenário de nascimento do Prémio Nobel da Literatura em 1998, para voltar a percorrer os passos de Saramago; mas nada se compara à Leitura; à imagem de um Portugal do fim dos anos setenta do século XX, com um património edificado totalmente ao abandono; com igrejas e capelas de aldeias e vilas sempre fechadas ao viajante; onde quase sempre era necessário bater à porta do guardador da chave para os templos se abrirem para uma visita. Uma e outra vez ao longo de todo o território e da primeira à última página do livro.
No Centenário do Nascimento de José Saramago partilhei Leituras de “A Bagagem do Viajante” e da “Viagem a Portugal” em muitas Bibliotecas Municipais, iniciando a viagem no Dia Mundial do Livro (23 de abril), em Figueira de Castelo Rodrigo. Seguiram-se as Bibliotecas da Guarda, Tábua, Castelo Branco, Juzbado (Espanha), Cantanhede, Fundão, Samora Correia, Benavente, Serpa e Abrantes.
Acompanhei literariamente José Saramago pelo nosso território comum: comovendo-me na Guarda, quando o Viajante conhece o senhor Guerra, empregado no Hotel Turismo que lhe conta a odisseia da viagem de burro de Cidadelhe a Pinhel na tentativa (frustrada) de salvar a irmã de sete anos do “garrotilho”, doença que vitimou também o irmão de José Saramago aos dois anos de idade.
Esta história de perda comum fará que Saramago visite a pequena aldeia de Cidadelhe que não estava no seu roteiro.
No Fundão, senti a presença do fantasma que acompanhava José Saramago na visita à Beira Baixa, e a sua obrigação cívica de passar por São Jorge da Beira, onde a memória da tragédia de José Júnior permanecia, vinte anos depois de a descrever na crónica “E agora, José?” roubando o título ao poema de Carlos Drummond de Andrade e inspirando-se numa notícia cruel publicada no Jornal do Fundão. A crónica acabaria por integrar o livro “A Bagagem do Viajante”.
E viajei até ao Pulo do Lobo, com a persistência e a teimosia (famosa) de José Saramago; ao lugar escondido nas entranhas naturais do Alentejo profundo. As dificuldades de José Saramago para a Poesia, desaparecem neste belo naco de prosa sobre a planície alentejana de Serpa e os caminhos que vão dar ao assombroso lugar de Pulo do Lobo, segundo as palavras do escritor.
Aprendi nestes meses, com Saramago, a valorizar um país através da sua história e da sua população, diversa e rica em memórias; e aprendi definitivamente que a Literatura é um serviço público de grandeza incomensurável.
Talvez por isso, como nos ensina Saramago, quem escreve deve provar porque o faz; com que objetivo e colocando no ofício toda a aprendizagem da sua formação humana.
Vivemos um tempo de facilidades artísticas (também no que se refere à Literatura); daí a desvalorização do conhecimento humano que os livros preservam.
Muitos (demasiados) julgam-se tocados pelas musas; e já há mais escritores do que leitores, caindo quase todos, facilmente, no alçapão da vaidade.
Se algo aprendi com José Saramago nesta comemoração do centenário do seu nascimento, através da sua biografia e da Leitura dos seus textos, foi que a escrita é uma vocação; e que só os predestinados devem guiar-nos, a nós, privilegiados leitores e destinatários de tamanha experiência e Arte.
Ou como escreve com acerto a filha do autor, Violante Saramago Matos, no seu livro “De memórias nos fazemos”: mais que um escritor considerado, mais do que inovador de uma forma de escrita em que lemos como se o ouvíssemos, José Saramago foi um pensador, um cidadão comprometido…” e, acrescenta ainda “Tinha todas as condições para não ser quem acabou por ser. Mas foi! Foi na vida, no modo, no tempo, nas convicções, na literatura e no mundo”.
Com tenacidade e muito trabalho chegou lá, à Academia que lhe atribui justamente o Prémio Nobel da Literatura.

23/11/2022
 

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