Edição nº 1780 - 15 de fevereiro de 2023

João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...

COM A RÁDIO ME DEITO, com a rádio me levanto. Desde que me lembro, a rádio fez sempre parte das minhas vivências diárias. Na adolescência, já o Schaub Lorenz do meu pai era peça indispensável ao lado da minha cama. Ficava a ouvir até horas bem adiantadas a Radio Caroline e a Radio Luxembourg, que passavam a música anglo-saxónica que a Emissora Nacional desprezava e que ainda hoje oiço na Radio Caroline Flashback, no meu rádio Wi-Fi. Quando a televisão, na América, se tornou produto de consumo, logo diagnosticaram a morte da rádio. Mas ela continua aí bem viva, com saúde para dar e vender. Que passa a música que já não cabe nos programas de televisão, que nos dá vozes e crónicas de Luís Osório, Sena Santos, Miguel Esteves Cardoso, David Ferreira, Inês Meneses, António Sérgio, Joana Marques e tantos outros, que diariamente nos fazem rir, refletir, emocionar. A rádio fez sempre parte da minha vida, no grupo de amigos do liceu à volta da telefonia a ouvir o Em Órbita, ou no meu primeiro patrão, João Martins, uma voz única (e esquecida) da rádio dos anos 70, na 23ª Hora, no Impacto e também responsável pelo lançamento dos Cinco Minutos de Jazz onde, e desde o primeiro programa, brilha até hoje a luz e o saber de José Duarte. E sem esquecer os épicos relatos de futebol, pois ainda há quem prefira a efervescência do relato à mornice do jogo visto na televisão. Como muitos outros, Eduardo Prado Coelho escolhia a rádio para acompanhar os jogos. Mas para esse sportinguista de quatro costados era também a superstição, acreditava que ver o jogo na televisão dava azar, o seu Sporting perdia quase sempre... A rádio soube acompanhar e adaptar-se às inovações tecnológicas do século XXI, associou os podcasts aos seus conteúdos e, o que foi fundamental para a sua sobrevivência, agora qualquer rádio local pode ser acessível através da Internet, em qualquer parte do mundo. Uma modesta rádio perdida no Ártico, o Arctic Outpost, que tinha três seguidores no Instagram e algumas dezenas de ouvintes, passa música de jazz gravada em vinil. Uma noite dos tempos da pandemia, Bruno Nogueira e Nuno Markl numa charla do Como É Que O Bicho Mexe (Instagram) falam e elogiam a música que passava daquela modestíssima estação de rádio norueguesa. Markl era um dos três seguidores na rede social. Passado uma hora já havia 20 mil seguidores, um dia depois 40 mil e a Arctic teve de reforçar os servidores para poder dar resposta a tantos ouvintes portugueses. A quem brindou com a passagem de um disco de Mário Laginha. Hoje, dia em que se comemora o seu Dia Mundial, quis escrever um apontamento diferente e especial dedicado à Rádio. Contava escrever sobre o relatório da comissão independente coordenada por Pedro Strecht que investigou os abusos sexuais na Igreja em Portugal. Mas os relatos crus que ouvi e os números da tragédia que atravessa a sociedade portuguesa, chocaram-me e necessito de digerir a informação. Ficará para a semana. Por hoje, vou continuar a ouvir rádio. Enquanto escrevo, a anunciar o Dia dos Namorados, passa a voz quente e única de Leonard Cohen. Tenham um dia feliz.

15/02/2023
 

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