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Edição nº 1803 - 26 de julho de 2023

Elsa Ligeiro
FÉRIAS NA COMPANHIA DE PALAVRAS NÓMADAS

Neste enclave de julho e agosto que é sempre um presságio de férias, cumpro o ritual de vos falar de livros como sugestão de leitura junto ao mar ou em casa.
Este ano opto por autores de uma só editora, a Húmus, que edita pequenos livros com conteúdos de grandeza impossível de quantificar.
Na coleção “dozecatorze” têm editado muitos poetas que recomendo: Ricardo Fonseca Mota (Prémio Ciranda 2021), Ozias Filho, Hélder Magalhães; José Manuel Barroso, Francisco Duarte Mangas e Galle Becker Silva Marques; todos autores com belíssimos livros de poesia na Húmus.
Mas o meu destaque vai para um livro de crónicas, de Dora Gago, “Palavras Nómadas”, também editado na Húmus; autora que conheci em junho, na Feira do Livro de Beja, e num primeiro encontro tão fora do comum que desconfio que um dia ainda vai passar a crónica.
“Palavras Nómadas” foi um livro que me caiu (literalmente) no colo e sem grandes referências; num daqueles acasos em que a minha vida é pródiga e singular; mas, ainda assim, longe, muito longe, da vida que Dora Gago descreve e oferece ao leitor.
No prefácio, o escritor (para sempre açoriano) Onésimo Teotónio Almeida, escreve, avisando o leitor, que estamos perante uma autora que lhe lembra um Fernão Mendes Pinto em versão moderna: uma mulher a viajar sozinha pelo planeta.
E depois enumera os países asiáticos que a protagonista narradora frequentou: China, Tawain, Camboja, Indonésia, Tailândia, Índia, Laos, Malásia, Japão, Filipinas, Singapura, Turquia, Estados Unidos, Países Baixos, Espanha, Brasil, Reino Unido, Uruguai, Guiné-Bissau… Onésimo é que coloca as reticências; mas, se lhe juntarmos os autores que Dora Gago cita e dialoga no livro, a viagem planetária é bem maior: Gaelano, Kundera, Lídia Jorge, Maria Ondina Braga, Emily Dickinson, Clarice Lispector, Pamuk, Jorge de Sena… agora as reticências são minhas, porque não quero ir por aí, visto que mais dos que as referências literárias, sempre presentes em cada crónica ou viagem (também ao redor do seu quarto), o que importa é seguir a autora no seu laborioso vai-vem de colóquios e aulas espalhados pelo mundo; numa postura de quem aceita o destino com um sorriso nos lábios, transformando cada viagem e cada situação extraordinária numa experiência a saborear.
Não sei se tudo é real ou há se há alguma ficção (são demasiado extraordinárias para pertencerem ao mundo da ficção, digo-vos), mas isso é o que menos importa neste livro saltitante de país em país.
Importa informar que Dora Gago é professora de literatura e vive em Macau, mas nasceu em São Brás de Alportel, no Algarve, em 1972.
E se tiver que destacar um texto, ele vai inteirinho para “Português, a língua dos afectos”, em que a autora relata a experiência vivida no Japão; no 34.º Concurso de Eloquência em Língua Portuguesa da Universidade de Estudos Estrangeiros de Quioto, a mais bela e comovente crónica do livro.
Dora Gago escreve “Todo o ambiente da competição decorreu envolta em grande solenidade, os concorrentes provinham de várias universidades do Japão onde se estuda o português e muitos dos discursos proferidos foram verdadeiramente marcantes como nítidas cartografias de emoções. Um deles intitulado “O beijinho”, constituía um ensaio sobre a interculturalidade, as diferenças, as tentativas de entendimento, de integração e relacionamento, o abismo que separa os japoneses e os portugueses nessa matéria ... Centrava-se numa experiência de intercâmbio vivenciada pela a aluna em Lisboa, marcada pelo choque inicial de ver as pessoas, nomeadamente da família que a acolhera, cumprimentarem-se com beijos, algo altamente improvável no Japão, onde as saudações se reduzem frequentemente a uma cordial vénia…” e, mais à frente, a autora informa: “A Língua portuguesa conferiu também voz aos traumas, à dor recordada, perante as perdas motivadas por uma catástrofe natural: o terramoto de Tohoku, que atingiu 9.1. na escala de Ritcher e foi um dos mais fortes a assolar o Japão em 2011, tendo deixado um rasto estimado em 29.000 mortos. Essas vítimas tinham nome, vidas, identidades, algumas eram familiares daqueles estudantes que as evocaram, homenagearam, deixando transparecer o amor e a saudade, como se em português, encontrassem o alfabeto certo para esse desfolhar de sentimentos…”.
Bela e triste, mas prometo-vos que todas as outras crónicas contêm situações hilariantes que a Dora Gago reporta com um humor bem algarvio e inteligente.
Uma última nota para quem procurar “Palavras Nómadas” numa livraria ou numa feira à beira mar: não desanimem ao olharem o reduzido tamanho físico do livro, pois, asseguro-vos, o prazer na leitura será XL.

26/07/2023
 

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