O Museu Francisco Tavares Proença Júnior, de Castelo Branco, tem patente, desde o passado sábado, 25 de novembro, a exposição Tarde Azul, o Universo Amoroso de Julio/Saúl Dias, uma organização da Câmara de Castelo Branco, em colaboração com a Galeria Julio - Centro de Memória, da Câmara de Vila do Conde, que é detentora do espólio do artista, um dos nomes maiores e precursor da arte moderna portuguesa e expoente máximo do lirismo português.
A exposição que encerra as comemorações dos 120 anos do nascimento do artista, iniciadas em Vila do Conde, foi comissariada pela crítica de arte e poeta Maria João Fernandes e pelo poeta Gonçalo Salvado. Os curadores são ambos autores da primeira antologia de poesia de amor de Saúl Dias e de desenhos de Julio com a mesma temática, Tarde Azul (2008), na origem da atual mostra. Está previsto que a antologia seja apresentada no decurso da mesma.
Na inauguração da mostra o presidente da Câmara de Castelo Branco, Leopoldo Rodrigues, realçou o grande valor do artista em causa, a honra para Castelo Branco de acolher a sua obra num dos espaços museológicos mais prestigiados da cidade, bem como a importância da colaboração da Câmara de Vila do Conde, responsável pelo empréstimo da quase totalidade das obras, entre pinturas, aguarelas e desenhos. Referiu também o empenho dos curadores e de toda a equipa envolvida, quer em Castelo Branco, quer em Vila do Conde.
Pelo seu lado o vereador da Cultura da Câmara de Vila do Conde, Paulo Vasques, sublinhou igualmente o exemplar diálogo entre as duas câmaras e a relevância da exposição que encerra as comemorações dos 120 anos de um artista histórico no panorama nacional. Uma especial referência foi feita ao grande papel como crítica de arte de Maria João Fernandes, e também na divulgação da obra de Julio que incluiu a primeira monografia que lhe foi dedicada em 1984, de que é autora, salientando durante a sua passagem pela Fundação de Serralves, o diálogo com Vila do Conde, sob o signo da Cultura.
Os comissários da exposição realçaram o desempenho das equipas envolvidas nas duas cidades, chefiadas em Castelo Branco por Teresa Antunes e em Vila do Conde por Laura Garrido.
Maria João Fernandes iniciou a sua intervenção lembrando a figura tutelar do Museu Francisco Tavares Proença Júnior e um dos seus mais proeminentes diretores, o poeta recentemente homenageado António Salvado, na atualidade representado pelo seu filho Gonçalo Salvado, poeta do amor e artista, como Julio, de que é legítimo herdeiro. Seguiu-se a evocação do seu encontro na juventude, com Julio, em Vila do Conde, de onde nasceu um fértil e persistente diálogo e uma escrita ininterrupta, representada pelos artigos que publicou presentes na mostra. Fez ainda uma breve síntese do universo amoroso de Julio, que retrata na sua pintura e na sua poesia em diálogo na exposição um amor perene que evolui no seio da natureza, visão de uma eterna primavera. Do consciente para o inconsciente, do terrestre para o celeste, Julio cria uma nova realidade, tendo ao centro o feminino que resiste à passagem do tempo na memória e na evocação do poeta. Uma realidade inspirada pelo sonho, verdadeiro sentido da civilização, universo amoroso e maravilhoso.
Por sua vez Gonçalo Salvado começou por evidenciar o valor extraordinário da obra artística e poética de Julio/Saúl Dias que ocupa um lugar de indiscutível relevo na história do lirismo português, ao afirmar que “o traço do desenho de Julio é o zénite da expressão visual do que de mais luminoso foi criado pelo nosso lirismo”. Referiu-se ainda à curadora Maria João Fernandes como uma das grandes hermeneutas da arte moderna e da obra artística de Julio, autora de uma monografia, a primeira publicada sobre o histórico pintor/poeta, cuja escrita impregnada de poesia, foi enaltecida pelo próprio Julio que reconheceu o seu trabalho no conjunto de obras de que é autor presentes na exposição, importante núcleo da sua coleção de arte contemporânea.

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