Edição nº 1857 - 14 de agosto de 2024

NA ROTA DOS CAMINHOS DE SANTIAGO
Caféde e Póvoa de Rio de Moinhos acolhem palestra sobre os Caminhos de Santiago

A Comissão de Festas de Nossa Senhora de Valverde, a Cooperativa Pinacoteca e a Associação Raia Gerações, com o apoio da União de Freguesias de Póvoa de Rio de Moinhos e Caféde, organizaram, dia 27 de julho, na Igreja Matriz de Santo António, em Caféde, uma palestra subordinada ao tema Caminhos de Santiago - O Primeiro Itinerário Cultural Europeu - Património da Humanidade. Tema que deu também o mote à palestra organizada pela Cooperativa Pinacoteca e a Associação Raia Gerações, com o apoio da União de Freguesias de Póvoa de Rio de Moinhos e Caféde, dia 28 de julho, na Casa da Cultura, em Póvoa de Rio de Moinhos.
A oradora convidada, Maria Libânia Ferreira, fez, em ambas as sessões, o resumo da história de São Tiago Maior, um dos apóstolos escolhidos por Jesus de Nazaré, que, depois da morte de Jesus Cristo, veio para o Norte da Península Ibérica evangelizar os povos daquela região. Após o seu regresso a Jerusalém, no ano de 42, São Tiago Maior foi martirizado, como todos os outros apóstolos, por ordem de Herodes Agripa e o seu corpo trazido novamente para a Península Ibérica, sendo sepultado na região da atual Galiza, no Reino de Espanha. A sepultura de São Tiago Maior esteve praticamente esquecida durante oito séculos, mas quando as ossadas (relíquias) foram descobertas, por volta do ano de 820, na região do Reino das Astúrias, o local foi logo considerado lugar de grande devoção e começaram as peregrinações, com gente vinda de terras cada vez mais distantes. Um dos grandes impulsionadores do culto a São Tiago Maior foi o rei das Astúrias, Afonso III, que visitou o local em 874, oficializando assim o apoio às peregrinações, que terão atingido o ponto mais alto já no século XV e início do Século XVI, altura em que o clima melhorou, a população aumentou, o comércio renasceu e a Igreja Católica decretou o perdão dos pecados e a concessão de outras graças a quem fosse em peregrinação ao santuário.
Entretanto, as pestes, as guerras e a Reforma Protestante, ainda no século XVI, contribuíram para alguma irregularidade nas peregrinações e, já no final do século, com a região ameaçada pelo exército inglês, o bispo de Santiago de Compostela decidiu esconder as relíquias de São Tiago Maior num local que permaneceu desconhecido por mais de 300 anos. Em 1891 voltam a ser encontrados e a cripta do Apóstolo foi aberta ao público, o que fez renascer o culto do lugar e as peregrinações.
A primeira visita do Papa João Paulo II ao Santuário, em 1982, a declaração de Itinerário Cultural Europeu, pelo Conselho da Europa, e reconhecimento do Caminho Francês como Património Mundial pela UNESCO, deram um novo impulso às peregrinações, que tinham perdido algum vigor na primeira metade do século XX, com a peste, a Grande Guerra, a Guerra Civil Espanhola e a II Grande Guerra Mundial.
Atualmente são muitos os milhares de pessoas que se deslocam a Santiago de Compostela todos os anos, envergando os símbolos de referência a São Tiago Maior:, ou seja, a vieira, o cajado, a cabaça, o chapéu e a cruz, e seguindo a direção da seta amarela acompanhada, geralmente, duma vieira estilizada.
Por parte da oradora foram referidas rotas prováveis dos Caminhos de Santiago, pertencentes à Freguesia de São Vicente da Beira, nomeadamente a que, passando por Caféde, seguiria pela Póvoa de Rio de Moinhos, Tinalhas, São Vicente da Beira, Senhora da Orada e atravessaria a Serra Gardunha pelo Sítio da Portela. Para além da Serra ter aqui uma altura menos acentuada que noutros pontos, os peregrinos dispunham, desde há muito, de vários albergues e estalagens ao longo do percurso, assim como do alpendre de capelas, como o da Ermida da Senhora da Orada.
Poderiam também, depois de Caféde, seguir pelo Freixial do Campo, Mourelo, Partida, Paradanta, atravessando a Serra da Gardunha no local onde tem apenas 600 metros de altitude. A antiguidade da Ermida de São Tiago, na Partida e o culto ao Santo são um forte indício de que o local poderá ter sido uma referência dos Caminhos de São Tiago, que, inevitavelmente, passariam por onde lhes eram oferecidas melhores condições naturais e humanas.
Na palestra realizada em Caféde, o representante da Comissão de Festas de Nossa Senhora de Valverde, Joaquim Lameiras, referiu-se à importância da Festa de São Tiago Maior e dos Caminhos de Santiago e também pediu que de futuro fosse destacado o local da Ermida de São Tiago Maior, uma das portas de entrada de uma aldeia conectada com os Caminhos de Santiago.
Já na palestra em Póvoa de Rio de Moinhos, o padre Ilídio Mendonça centrou a sua intervenção na parte religiosa, recordando que São Tiago Maior era um dos 12 apóstolos de Jesus de Nazaré, era irmão do apóstolo São João Evangelista e era filho de Zebedeu.
Zebedeu era proprietário de um barco de pesca no Lago de Genesaré, os seus filhos Tiago e João trabalhavam com o pai na arte da pesca. Foi exatamente no local de trabalho, que Jesus de Nazaré convidou Tiago e João para serem seus discípulos, situação referida no Evangelho Segundo São Mateus, capítulo IV.
São Tiago é designado o Maior, para distinguir de outro Santiago, o Menor que era parente de Jesus de Nazaré.
São Tiago Maior, juntamente com os apóstolos São João Evangelista e São Pedro, foram escolhidos por Jesus de Nazaré para acompanhar grandes acontecimentos como a Transfiguração no Monte Tabor; a agonia no Jardim das Oliveiras, em Jerusalém; a ressurreição da filha de Jairo. Após o Pentecostes, onde recebeu, juntamente com os outros apóstolos o Espírito Santo, sabe-se que trabalhou na evangelização com São Pedro, mas em 42 depois de Cristo, vai para Jerusalém a fim de celebrar a Páscoa, no entanto foi preso a mando de Herodes Agripa I. Foi o primeiro apóstolo a ser martirizado, e segundo a tradição foi sepultado em Cesareia.
A história do apóstolo São Tiago Maior, mistura-se com lendas, uma delas avança que terá vindo pregar à Hispânia e que no regresso a Jerusalém terá sido o seu martírio, no entanto não existe documentação que prove tal situação. Escritores ibéricos do século I não se referem a São Tiago Maior, como São Julião de Toledo, Prudêncio, Osório, São Martinho de Dume, Isidoro. Outra lenda afirma que os discípulos de São Tiago Maior, após a sua morte, trouxeram o corpo de barco até à Península Ibérica e sepultaram-no em Padron (Galiza).
Em 830, foi encontrado um túmulo romano em Padron e o bispo Teodomiro reconheceu-o como sendo de São Tiago Maior. As ossadas (relíquias) de São Tiago Maior foram levadas para Compostela, onde foi edificada uma pequena igreja, mais tarde substituída por uma enorme basílica, mandada construir pelo Rei Afonso III. A construção da basílica iniciou-se em 1075.
Em 1884, após as escavações o Papa Leão XIII, com a bula Deus Omnipotens, reconhece a autenticidade, mais tarde com a vinda do Papa São João Paulo II em 1982 e 1989 e a posterior vinda do Papa Bento XVI no Século XXI é fortalecida a credibilidade.
Nas duas sessões o investigador, dirigente associativo, sociólogo e antropólogo Anselmo Cunha participou na sessão em representação da Confraria dos Caminhos, uma associação fundada em 2011, sedeada em Castelo Branco, e que tem como principal fim a promoção e divulgação do Caminho de Santiago na Beira Baixa. Entre outras atividades, esta Associação participou na colocação de sinalética no Caminho de Santiago que cruza os concelhos de Vila Velha de Ródão e Castelo Branco e organizou dois colóquios, um em Castelo Branco, em 2020, e outro em Vila Velha de Ródão, em 2022.
Anselmo Cunha salientou que os Caminhos de Santiago, são caminhos milenares, que na sua origem poderá estar algum ritual dos povos celtas, pré-cristãos, associado ao Cabo Finisterra (fim da terra), posteriormente aproveitado pela Igreja Católica através da associação ao apóstolo Santiago Maior e da pretensa descoberta das suas ossadas no Campo de Estrelas (Compostela).
Já na Idade Média, algumas personagens históricas realizaram peregrinação a Santiago de Compostela, como por exemplo a Rainha Santa Isabel, esposa do Rei de Portugal, Dom Dinis, o que contribuiu muito para a sua difusão.
Nos últimos 40 anos os Caminhos de Santiago registaram um número crescente de peregrinos, tendo sido contabilizados quase 500 mil, em 2023. Ainda que a maioria deles sejam europeus, encontram-se peregrinos oriundos de todos os continentes, movidos pela fé ou pela simples aventura.
O Caminho mais frequentado é o Caminho Francês, que atravessa o Norte de Espanha, seguido do Caminho Português, sobretudo a partir do Porto.
Em maio de 2018 foi dada alguma projeção ao designado Via Portugal Nascente, com o alto patrocínio e participação do Presidente da República. A Via Portugal Nascente recupera o Caminho de Santiago pelo Interior de Portugal, ligando Tavira a Trancoso, continuando a partir daí por outros já existentes. Esta via cruza as povoações de Caféde e da Póvoa de Rio de Moinhos.

14/08/2024
 

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