Associação de Agricultores defende apoios para combate à língua azul
A Associação Distrital dos Agricultores do Distrito de Castelo Branco participou, dia 26 de novembro, numa audição na Comissão da Agricultura da Assembleia da República sobre a língua azul que tem afetado o setor pecuário.
No encontro a Associação afirmou que “a criação de pequenos ruminantes na Serra da Estrela e Beira Baixa e a excelente qualidade da Lã produzida foi uma das razões do surgimento da indústria de lanifícios na Covilhã, sobretudo a partir do século XVI, até à sua expansão nos séculos XVIII e XIX e em toda a corda serrana. Hoje, a lã está muito desvalorizada e é uma matéria-prima considerada resíduo. A região das Beiras e Serra da Estrela esteve em destaque no World Cheese Awards ao conquistar o título de melhor queijo do mundo com o Queijo de Ovelha Amanteigado e viu outros 23 queijos serem distinguidos com medalhas e menções honrosas. Produzimos qualidade, mas o setor está em crise. Assistimos ao envelhecimento dos produtores e ao abandono da atividade devido aos baixo rendimentos. Na nossa região predomina a pequena e média agricultura que não tem merecido a devida atenção. O preço dos fatores de produção, como a energia, as rações, as análises, a sanidade, entre outros, tem sofrido aumentos brutais. A situação agrava-se com frequentes condições climatéricas adversas, com secas muito severas e prolongadas colocando em causa o normal crescimento, a engorda dos animais e a qualidade do leite. Tudo isto são dificuldades que os produtores têm que enfrentar e que não se fazem refletir nos preços pagos aos produtores tanto no leite como na carne”.
Por outro lado, acrescentou que “o desmantelamento e a desvalorização do Ministério da Agricultura, com a eliminação de serviços essenciais e a agregação desordenada de outros, têm agravado a confusão e desacelerado o desenvolvimento agrícola. A produção de alimentos, particularmente a pecuária em zonas desfavorecidas, exige um esforço redobrado, tornando ainda mais evidente a necessidade de um Ministério da Agricultura fortalecido. Este deve dispor de meios técnicos e políticos eficazes para atenuar as inúmeras dificuldades enfrentadas pelos agricultores e contribuir para a sustentabilidade e competitividade do setor, nomeadamente, apoiar as associações e organizações de produtores pecuárias; maior acompanhamento no campo por parte do Ministério da Agricultura e da DGAV, para melhor monitorização das situações e reportar atempadamente os acontecimentos permitindo decisões mais informadas; reduzir ou acabar com burocracia desnecessária e complicada; projetar e concretizar investimentos que tragam desenvolvimento aos territórios, nomeadamente o regadio, o ordenamento florestal e rural; voltar a ativar os vários laboratórios regionais, bancos de ensaio e pesquisa, que neste momento teriam sido muito importantes para atenuar as consequências e combater esta nova estirpe da língua azul”.
Para a Associação “este problema sanitário era previsível”, sendo que “as organizações de produtores e os produtores deviam ter sido alertados oportunamente, se a monitorização dos serviços oficiais estivessem em alinhamento com os interesses dos produtores pecuários o problemas seriam atenuados”.
A Associação adianta ainda que com base na DGAV, no Distrito de Castelo Branco há 88 explorações afetadas pela língua azul. Os animais com sintomas, incluindo mortos, são 3.689. Os animais mortos, não inclui abortos, são 933: Os abortos são 270. Os concelhos mais afetados são Castelo Branco, com 30, e Idanha-a-Nova, com 41, e alerta que “a realidade deste surto como a língua azul pode ser mais abrangente do que os números oficiais indicam, porque muitos casos não são reportados”.
Perante isto é realçado que, “infelizmente, este problema não está resolvido e vai certamente voltar a afetar-nos nos próximos anos, com novas estirpes. Se não forem tomadas medidas de prevenção como a vacinação preventiva gratuita de acesso universal, incluída no Programa de Sanidade Animal (PSA), a situação irá provocar graves prejuízos com as mortes e consequente redução da produção de leite e carne”, bem como que “a ausência de sanidade animal é um problema de saúde pública e é preciso apoiar os produtores a suportar os custos com a vacinação para garantir rebanhos saudáveis”.
Assim, é defendido que “é preciso investir num plano de controlo sanitário, com monitorização, vacinação e desinfeção, para travar a propagação da doença”, assim como que “o Governo deve atribuir apoios extraordinários aos produtores de pequenos ruminantes lesados para suprir as perdas sofridas e que deve criar resistência à importação desregulada de leite e de animais. É importante garantir a qualidade e segurança alimentar dos Portugueses”.