João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
OS DIAS DA RÁDIO, é título de filme de Woody Allen, os anos dourados da rádio nos anos 30 e 40 do século passado. Mas também é o que me apetece titular no apontamento escrito na semana em que se festeja o Dia Mundial do média a quem já auguraram a morte e a queda no esquecimento quando a televisão se tornou produto de consumo. Mas o anúncio da morte de uma tecnologia, é quase sempre manifestamente exagerada. Veja-se na música, o renascimento do vinil, que está a suplantar em vendas o Compact Disk. A Rádio continua bem viva, com uma audiência que ultrapassa os cinco milhões de ouvintes diários, porque passa a música que já não cabe nos programas de televisão, porque nos dá as vozes e crónicas de Luís Osório, Sena Santos, Fernando Alves, David Ferreira, Inês Meneses, Joana Marques e tantos outros, que diariamente nos fazem rir, refletir, emocionar. Está a conquistar novos públicos na razão inversa da perda de audiências de uma televisão generalista que já não atrai os mais jovens.
Com a Rádio me deito, com a Rádio me levanto. Desde que me lembro, a Rádio fez sempre parte das minhas vivências diárias. Gosto de Rádio, como média e dos rádios, ou telefonia, como quiserem, pelo design que o individualiza. Na adolescência, já o transístor Schaub Lorenz, do meu pai era presença indispensável ao lado da minha cama. Ficava a ouvir até horas bem adiantadas a Radio Caroline e a Radio Luxembourg, que passavam a música anglo-saxónica que não ouvíamos nas poucas Rádios a que tínhamos acesso aqui em terras beirãs e que ainda hoje oiço na Radio Caroline Flashback, no rádio Wi-Fi que tenho no quarto, um Roberts inglês que, a acreditar no Miguel Esteves Cardoso, pela qualidade e distinção está na casa de todos os membros da realeza britânica. Entro na cozinha para o pequeno almoço e, para dar continuidade à manhã na Rádio, ligo o Tivoli Audio, Model One, distinto pela tecnologia e design (com a assinatura do famoso engenheiro de som Henry Kloss).
E no dia em que tivemos um sismo em Lisboa e ouvimos os especialistas a falar de kit de sobrevivência que teria de incluir um radio transístor a pilhas, eu digo que na minha coleção de rádios, incluo um, alimentado a bateria de dínamo de manivela. Quando o comprei não estava a pensar em kit de sobrevivência, mas por simpatia com uma ONG que distribuiu este tipo de rádios de dínamo pelas populações africanas isoladas, sem acesso a eletricidade e onde, numa economia de autossuficiência, os locais de venda de pilhas não serão fáceis de encontrar.
A Rádio fez sempre parte da minha vida, no grupo de amigos do liceu à volta da telefonia a ouvir o Em Órbita, nas viagens de carro ou pela companhia não intrusiva que me faz nos momentos de escrita e de leitura.
A rádio soube acompanhar e adaptar-se às inovações tecnológicas do século XXI, associou os podcasts aos seus conteúdos e, o que foi fundamental para a sua sobrevivência, agora qualquer rádio local pode ser acessível através da Internet, em qualquer parte do mundo. Na semana em que se comemora o seu Dia Mundial, quis escrever um apontamento diferente e especial dedicado à Rádio. Porque os dias da Rádio não estão contados.