João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
O TSUNAMI que varreu a política portuguesa há uma semana, justifica uma profunda reflexão em busca das explicações do fenómeno. Como pode concluir qualquer um que siga os comentadores e cronistas políticos que habitam a nossa comunicação social, nada fácil é a tarefa. Talvez quando a poeira do pós eleições pousar, quando os cientistas sociais elaborarem os seus estudos, se chegue ao conhecimento das motivações dos movimentos do sentido de voto, que em pouco mais que três anos, alterou de forma tão significativa o mapa político, que atirou para o perigo da irrelevância, o partido que ainda não há muito tempo governava em maioria absoluta.
Como em três anos um país cor-de-rosa se tornou laranja e azul. Como em quase todo o País, em particular no sul, o movimento dos votos começou por ir do PCP para o Chega. Era um sinal que muitos preferiram ignorar. Agora, esvaziado que estava o PCP, o movimento continuou para o esvaziamento do PS, no mesmo sentido da extrema-direita. Sabendo-se que a política é feita de ciclos, claramente que o novo ciclo tem a marca da direita radical e populismo em Portugal como em grande parte da Europa, sendo também um fenómeno que hoje se inspira em Donald Trump e no ultraliberalismo do argentino Javier Milei, mas que já vem de há vários anos. Em Itália, França, Países Baixos, Reino Unido, Áustria, Hungria, Eslováquia,Croácia e Finlândia são alguns países europeus onde a extrema-direita governa ou tem votações que os aproximam da cadeira do poder. Agora constata-se, 50 anos depois da revolução de abril, que Portugal não está imune ao vírus. André Ventura já se assume como líder da oposição e promete para breve a constituição de um governo sombra. Num partido sem quadros, unipessoal, será interessante conhecer os futuros ministros do Chega caso ele vença as próximas eleições.
Também estou muito curioso em saber em que medida, ou percentagem de votos, tiveram influência os episódios de espasmo esofágico de André Ventura, que durante dois dias capturou a campanha eleitoral e a atenção de todos os canais de notícias, com as muitas horas com motas a filmar as traseiras da ambulância que o transportava para análises; com repórteres à porta do hospital à espera de qualquer movimento, nem que fosse de um segurança; com a divulgação de imagens dele deitado no hospital, de terço na mão e a pedir que rezassem por ele; mesmo a alimentar a vitimização ao dar algum crédito a informação falsa sobre ameaças de morte e tentativa de invasão de ciganos no hospital… Na perspetiva do candidato, e passando por cima da ética, a estratégia é legítima e de sucesso garantido, na perspetiva dos meios de Comunicação Social, contestam-se as opções editoriais que puseram em causa a independência e o equilíbrio, ao dar excessivo tempo de antena a um dos candidatos. Em breve o estudo será publicado e talvez venhamos a ter uma surpresa.