Edição nº 1898 - 4 de junho de 2025

PATENTE ATÉ 12 DE OUTUBRO NO CCCCB
Castanheira Retrospetiva revela mundo de José Manuel Castanheira

Castanheira Retrospetiva 1973-2025 é a exposição que está patente no Centro de Cultura Contemporânea de Castelo Branco (CCCCB), até 12 de outubro, apresentando o percurso artístico e profissional de José Manuel Castanheira em áreas como a cenografia, desenho e pintura, cinema e televisão, arquitetura teatral e efémera, cenografia urbana e de exposições, design, publicações, pedagogia e investigação e instalação videográfica.
Na inauguração da Mostra, dia 29 de maio, José Manuel Castanheira realçou que “a exposição é longa”, para sublinhar que “mais seria se não fosse a coincidência das obras que decorrem dentro e fora do museu (CCCCB)”, para avançar que “face a esse imprevisto houve necessidade de condensar algumas obras, sendo que tivemos de prescindir de outras”.
José Manuel Castanheira referiu-se à exposição como “uma retrospetiva de 52 anos, que, afinal, talvez sejam 56, se tomarmos em consideração o primeiro cenário, em 1969, para um Zip-Zip Albicastrense, no Cine-Teatro Avenida. Um cenário que era uma composição de caixas de madeira emprestadas pelo importador de fruta que existia ali na Rua Dadrá”.
Avançou depois que “tive a sorte de crescer entre o campo e a cidade e isso foi um privilégio que perdurou para sempre. Os lugares têm nomes... Escalos de Cima, Alpedrinha, Castelo Branco, na Rua dos Combatentes da Grande Guerra, Nº 21, uma casa que eu continuo a habitar, embora já lá não esteja há muito tempo”, referindo que “desde miúdo, nunca parei o exercício do desenho. A minha mãe desenhava muito bem, e depois segui com outros mestres. Não esqueço nunca o Lagoa Henriques, explicador, professor e depois colega e amigo. Os mestres foram tantos, que a sua história não cabe aqui”.
José Manuel Castanheira avançou depois que “a Luísa Ferreira, fotógrafa de excelência, foi lá a casa e fez essa fotografia onde estou com a minha zebra ao colo. Um gesto que evoca o sonho de uma criança, mas também um cavalinho similar que me acompanhou na infância, que, por algum motivo, a minha neta Clara adora e lhe chamava cavalo”.
Destacou também que “sou descendente e absorvente de um certo realismo mágico. Por isso gosto tanto do Fuentes, Garcia Marquez, Cortázar, Alejo Carpentier, Borges… e também de Rulfo e Buzzati, estes que me foram apresentados pelo amigo e poeta maior, o meu querido José Guardado Moreira, amigo de infância e meu conselheiro de leitura, desde os anos 60 na inesquecível Belar, nesses anos refúgio para muitos de nós, lugar que deveria declarado monumento nacional”.
Revelou, por outro lado, que “habito assim um mundo imaginário. A sonhar com quem fabricou a magia do Jardim do Paço e os seus fascinantes labirintos e jogos de água; com aquele prodigioso jardineiro que no Parque da Cidade mudava os dias do calendário com o bucho nos vasos; o Cine-Teatro Avenida, a minha primeira catedral, com aquele rendilhado branco bordado no estuque da boca de cena, subitamente colorido, para encanto dos espectadores Albicastrenses; o fantasma imponente e escuro da estátua do Amato Lusitano a dominar o coração da cidade; o verão, o Passeio Verde e o cinema à noite no parque; os primeiros livros de ficção e poesia, os livrinhos da D. Quixote, adquiridos na Narciso e na Semedo (papelarias); o mestre Pardal, latoeiro iluminado que inventava brinquedos de lata; os geniais artefactos pirotécnicos dos mestres Cacheno e Caniça”, para concluir que “carreguei com tudo isso pelo mundo fora.
Voltando a focar-se na mostra garantiu que “estou muito muito feliz com esta retrospetiva na minha cidade. Nesta exposição a curadoria dividiu a obra em várias áreas, com especial ênfase na Cenografia, disciplina donde irradiam as outras derivas. No fim está a pedagogia e a investigação. Uma vida ligado ao ensino, 40 anos na Faculdade, na difícil tarefa dos processos de transmissão do conhecimento. Atravessando tempos de enorme complexidade, fiz muitos amigos nas salas de aula, mas permanece a interrogação, cresceu a dúvida: como proceder? Como lidar com os jovens nesta crescente crise civilizacional?”.
Recordou também que “em 2015, para uma mostra internacional na República Checa, a Quadrienal de Praga, procurei vislumbrar uma síntese do essencial na mente do cenógrafo”, sublinhando que “o cenógrafo consciente é alguém com a missão permanente da reinventar o Mundo, mergulhado no laboratório propõe outras geografias com pessoas lá dentro. Uma responsabilidade, que não é pequena e que exige profundo conhecimento do mundo que habita. Nesse propósito fiz o filme, que podem ver na sala de projeção, O sonho de J., um pequeno documentário que evolui cada ano e que culmina na tarefa, hoje prioritária, da máxima urgência: a educação”.
José Manuel Castanheira perante as perguntas “como enfrentar as sucessivas avalanches de informação? Como reaprender uma vida possível em comunidade?”, afirmou que “Tchekhov, há 120 anos atrás dizia. «Não acredites imediatamente em tudo o que te dizem. Pensa primeiro antes de agir». Bertrand Russell, depois Edgar Morin, trouxeram-me ensinamentos sobre a possibilidade de aprendermos a cultivar a tolerância, porque está em causa a sobrevivência da humanidade”. Tudo para concluir que “ caminho da Cenografia é uma possibilidade: a invenção de mundos paralelos. Este caminhar de 52 anos que vos deixo”.

04/06/2025
 

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