Valter Lemos
A CRISE, OS CUMPLICES E AS CAMPANHAS SUJAS
O descalabro do Grupo Espírito Santo trouxe à tona muito “lixo” escondido e está a dar várias lições aos portugueses. A primeira e mais importante de todas é a relativa à aldrabice histórica sobre a crise, que levou o atual governo ao poder e que nos foi contada por diversos políticos e comentadores da chamada “imprensa económica”, que, verificamos agora, com honrosas exceções como o Nicolau Santos e poucos mais, é povoada por um bando de vendidos e agenciados ou, na melhor das hipóteses, de ignorantes do seu próprio ofício.
Não podemos esquecer-nos que Passos Coelho, Paulo Portas, Cavaco Silva, Durão Barroso e tantos outros nos diziam que a culpa era do anterior governo e dos portugueses que não tinham juízo, que gastavam muito, se endividavam e trabalhavam pouco. E o que valia é que o nosso sistema bancário e financeiro e os seus responsáveis eram seguros, fortes, competentes e fiáveis.
Não podemos esquecer-nos das lições de moral de banqueiros como Ricardo Salgado e de endinheirados como Soares dos Santos e muitos outros que se “esqueciam” de declarar milhões de rendimentos ou punham o seu dinheiro lá fora e eram incensados e reverenciados como exemplos por comentadores e jornalistas, aos quais só dá vontade de chamar certos nomes.
Não podemos esquecer-nos que com este discurso o governo justificou um conjunto inenarrável de patifarias como cortes de salários dos funcionários públicos, cortes de reformas e pensões, despedimentos, desregulação quase total das relações de trabalho, aumento de impostos, degradação dos serviços públicos, designadamente a saúde, a educação e a segurança social, etc., etc.
Não podemos esquecer-nos que tal conduziu a um significativo aumento da pobreza em Portugal e a um brutal aumento das desigualdades, com os mais ricos a lucrarem com a crise e a ficar ainda mais ricos à custa dos mais pobres e a uma degradação da classe média.
Não podemos esquecer-nos que, enquanto isso acontecia, o governo metia milhares de milhões no BPN, no BPP, no BANIF e agora quer meter no BES.
O descalabro do Grupo Espírito Santo veio afinal ajudar a pôr bem à vista quem são os culpados da crise e quem são os seus cúmplices. E o mais revoltante é que muitos continuam a ser apresentados nas televisões e nos jornais por jornalistas e comentadores como gente séria e responsável e as suas patifarias como lapsos ou percalços compreensíveis e o discurso do governo e desses cúmplices continua a dar uma versão da crise em que os culpados são os funcionários, os reformados, os trabalhadores, os consumidores, o omnipresente Sócrates, mas nunca os banqueiros, os negociantes financeiros ou o chorrilho de mentiras que andaram a contar aos portugueses para aceitarem o empobrecimento e a desregulação que lhes quiseram impor.
AS CAMPANHAS SUJAS
Sempre que surgem notícias que são desfavoráveis ao governo ou aos interesses instalados que agenciam diversa comunicação social, ressurgem as campanhas sujas contra Sócrates. Tais campanhas são sujas não só por quererem atacar o caráter de alguém através de boatos e mentiras (desta vez até a Procuradoria Geral da República desmentiu) mas, também, porque tais jornalistas e respetivos jornais e revistas metem mesmo nojo.
ESCLARECIMENTO DA ANF
No artigo do mês passado referi uma “golpada no âmbito da ANF” como exemplo do que não devia ser feito relativamente ao processo das “primárias” no PS. Referia-me ao caso, divulgado na comunicação social, do mail enviado a diversos farmacêuticos por uma farmacêutica, Isaura Martinho, identificada como ex-dirigente da Associação Nacional de Farmácias, para angariação de “simpatizantes”.
O Presidente da ANF, Dr. Paulo Duarte, enviou-me uma carta onde me informava que aquela associação nada tinha a ver com tal iniciativa, a qual era da exclusiva responsabilidade da citada cidadã Isaura Martinho.
Sou especialmente sensível à necessidade de esclarecimento público quando o nome de alguma pessoa ou instituição é indevidamente usado na comunicação social, já que eu próprio fui objeto de diversos abusos (o último dos quais em 2011 relativo à revista Visão, que só veio a publicar o esclarecimento devido em face de uma sentença do Supremo Tribunal).
Agradeço pois a carta e dou público registo do esclarecimento, devendo referir que envolvi (agora reconheço que incorretamente e por isso apresento à ANF as minhas desculpas) o nome da ANF, induzido pelas notícias que vi na comunicação social e das quais, à data em que entreguei o artigo para publicação (semana anterior à mesma), desconhecia o respetivo desmentido.
Quanto à iniciativa da citada cidadã, respeitando o direito de iniciativa e de opinião da mesma, mantenho a minha crítica ao seu procedimento, o qual inquina um processo que se deve pretender democraticamente transparente.