21 janeiro 2015

Maria de Lurdes Barata
OS CAMINHOS DA SOLIDARIEDADE

Foi esmagadora a marcha contra o terrorismo, que encheu Paris de milhões de vozes, milhões de gestos em prol da liberdade, em prol da dignidade humana. Os actos terroristas de assassinato levados a cabo não têm qualquer desculpa ou justificação, mesmo que, problematizando os limites da liberdade de imprensa, tivéssemos em conta opiniões divergentes sobre o assunto. Questionar até que ponto é permissível ridicularizar o deus de uma determinada religião (segundo leituras de alguns) nada redime a violência de homens tirando a vida de outros homens. Abriram-se, assim, os caminhos da solidariedade, esse valor que dá dignidade ao homem. Na sua raiz, a palavra carreia a firmeza duma cooperação, divide responsabilidades, partilha sentimentos comuns, apontando para a unidade do colectivo. A interdependência, presente na solidariedade, irmana, porque torna recíprocos o receber e o dar.
Há o Bem e o Mal como arquétipos e a luta é como a dos heróis dos livros e dos filmes, convocando a vitória dos Bons: a luta eterna dos homens que pensam nos outros homens, a luta pela justiça e pelos direitos humanos. Com solidariedade estiveram milhões de pessoas na rua, em Paris, e por todo o planeta se multiplicaram as vozes.
Solidariedade foi também a expressão de milhares de portugueses (mil milhares!), nas ruas de Portugal, em defesa do Bem comum, quando se deu o anúncio da TSU (Taxa Social Única) que se tornava uma ameaça de perdas e instituição de desigualdades gritantes. Solidariedade é também a voz dos que criticam e comentam em nome do bem colectivo. É uma questão de opinião? Claro que é. Mas no antagonismo das opiniões vencerá no coração o que implica esse bem comum. Quando várias vozes se levantam, e arrastam outras vozes, contra uma Europa que negou o grande objectivo da União, que seria o reforço do Estado Social, essas vozes são as que têm o grito da solidariedade, essas vozes querem a autonomia dos seus países, sem subserviência a situações economicistas, que apenas vão privilegiar alguns, pondo em perigo a democracia e a própria liberdade.
O perigo e a ameaça abrem os caminhos da solidariedade, que não comporta o egoísmo de se fechar em si a remoer o medo, mas impele ao pensamento no colectivo humano, incentiva o juntar-se ao outro para remover o medo. Lembra-me uma passagem do Diário I de Miguel Torga, quando regista um dia na Nazaré e observa um miúdo que passa de barraca em barraca estabelecendo a convivência humana de que os adultos se retraíam. Só perante uma grande onda, na hora do banho, esses adultos se tinham tornado fraternos com um Há pé? – Não, cuidado! – Venha! – Pode avançar sem medo! – Tome ar fundo!. Segue-se a reflexão do escritor: «E eu pus-me a pensar na força gregária que tem o mar. Na força gregária que provoca, afinal, qualquer poder adverso. A pensar que, por desgraça, na vida, os homens raras vezes se dão as mãos como queria o menino. Que só enterrados até metade no enigma de um perigo, que num segundo os pode engolir, se abraçam.»
Morreram em nome de todas as liberdades os que foram vítimas do ataque terrorista ao Charlie Hebdo. Solidarizaram-se os homens, por eles, e porque um perigo se tornou ameaça contínua. Cantou-se a Marselhesa e desceu na alma a evocação histórica da Revolução francesa que eternizaria as palavras Liberdade, Igualdade, Fraternidade. Até Maomé chorou… e se designou Je suis Charlie… com a solidariedade própria de um deus…

21/01/2015
 

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