25 de novembro de 2015

Relatos de uma viagem à China
Hong Kong, a China de sotaque inglês

Oriente e ocidente encontram-se aqui, nestas ruas cheias de luz, por entre gigantes arranha-céus projetados por arquitetos de renome, táxis vermelhos para lá de velhos e autocarros de dois andares, que circulam do lado errado da estrada.
Despeço-me do Oriente na multicultural metrópole de Hong Kong, uma das mais densamente povoadas do mundo, apinhada com sete milhões de pessoas inglesas, chinesas e de muitas outras nacionalidades. Os contrastes são difíceis de assimilar em apenas dois dias: há mar e montanha, lojas caríssimas e mercados de rua, poluição e incenso, meditação e aparelhos eletrónicos, Buda e Mickey (sim, existe lá um parque da Disney).
Começamos esta jornada em Kowloon, percorrendo uma parte da Nathan Road, também chamada de Golden Mile, por ter tantas lojas e hotéis. No meio desta azáfama consumista, alguns quarteirões ficaram sob o monopólio de “comerciantes informais”, vindos do Bangladesh ou da África subsaariana. As marcas mais conhecidas também estão aqui representadas, claro, mas isso não faz a mínima diferença. Não atravessei meio planeta para ver montras... apenas uma me atrai como um imã e chama-se STARBUCKS!
Dose diária de cafeína tomada, tomamos a direção do porto, para atravessar o braço do Mar da China Meridional que nos separa do continente. Depois da devida homenagem à estátua de Bruce Lee na Avenue of Stars, sigo para o terminal que ferry que me levará até à ilha de Hong Kong propriamente dita. Podia usar o metro, mas o barco é a opção mais barata, para além de proporcionar uma vista fantástica: aqui ficam alguns dos maiores edifícios do mundo, incluindo o IFC - International Finance Centre.
Percorro as artérias que alimentam este coração agitado, ajudada durante alguns quilómetros por um gigantesco sistema de escadas rolantes, até chegarmos ao Soho. O bairro londrino é tão charmoso, que toda a gente quer ter um recanto boémio parecido, com bares e restaurantes pequeninos, a transbordarem de estrangeiros.
Mas se pudesse gravar uma única imagem de Hong Kong, seria a paisagem desde Victoria Peak. Olhando para a cidade aos meus pés, vê-se um dos melhores portos do mundo e uma linha de horizonte tão improvável e audaciosa que, como um local escreveu na Time, faz Manhattan parecer provinciana. Para além das montanhas, vislumbra-se a China continental, enquanto o sol se põe e as luzes da cidade se acendem, como se o Natal tivesse chegado mais cedo.
Termino o dia junto ao mar, com uma Sinfonia de Luzes. Aí está uma ideia brilhante de marketing turístico: a cidade tem muitos prédios? Usam-se num espetáculo de luz e música diária. Resultado, todos os dias os turistas se sentam aqui, neste calçadão, para uns minutos de pausa e deslumbramento.
Mas o Oriente reservou-me a maior das surpresas para o último dia, em Lantau, a ilha maior de HK e também a mais deserta. Lantau tem três lugares importantes: o aeroporto internacional (uma das portas de entrada para a China), o parque da Disney e um Buda maravilhoso, no topo da montanha. O maior buda sentado ao ar livre do mundo!
Subo até lá para visitar o Tian Tan Buddha, mais conhecido como Big Buddha, num autocarro lotado e sem ar condicionado, num dia em que a temperatura rondaria os 40ºC. “That Buddha better be big and awesome!”, digo a um dos meus companheiros, enquanto tento não cair para cima dos passageiros sortudos que conseguiram um lugar sentado.
Na verdade, o Buda é maior e mais fantástico do que a minha fantasiosa imaginação congeminou. Uma guarda de 12 generais divinos antecede o pacífico gigante, sentado numa flor de lótus e voltado para norte, para proteger o povo chinês.
O seu semblante sereno acalma esta ocidental de cabeça sobreaquecida. A mão direita está levantada numa bênção “fear-not mudra”, reveladora do seu voto: eliminar o sofrimento de todos os seres vivos. Mas para ver de perto esta magnífica estátua de bronze com um pouco de ouro no rosto, de 34 metros de altura e mais de 250 toneladas, tenho que vencer 268 degraus.
268 degraus e um calor abrasador! Vi vários turistas a desistirem. Por outro lado, um venerável monge não só subiu sem sinal de fadiga, como ainda se ajoelhou em cada escada, reverenciando-o.
Seis devas femininas ajoelham-se aos pés do Buda, oferecendo flores, incenso, luz, unguentos, fruta e música. Juntei-me a elas numa contemplação muda, a ponto da esmagadora paisagem em redor quase me passar despercebida. O Tian Tan Buddha nasceu acoplado a um pequeno mosteiro (1906), que sofreu vários acréscimos ao longo dos anos. Aliás, a estátua é bastante recente neste contexto (1993), depois de 12 anos de trabalhos realizados pelo Departamento de Aeronáutica da China.
Não sei quanto tempo permaneci ali mas, obviamente, acabei por descer para visitar o templo de Po Lin (lótus precioso), ali ao lado, um dos mais importantes santuários budistas do sul da China, residência de muitos monges como aquele que vi, no seu caminho de fé.
Na quietude do interior, sou recebida por três estátuas de Buda, representando as suas vidas passadas, presentes e futuras. Cada edifício é maravilhosamente trabalhado e, quando acho que nada mais me pode surpreender, chego ao Great Hall of Ten Thousand Buddhas que, como o nome indica, possui milhares de budas incrustados nas paredes, em pequenos nichos, e algumas maiores, tão douradas quanto emocionantes.
Eu não sou uma pessoa religiosa mas, na verdade, há lugares que nos falam à alma e este foi um lugar maravilhoso para rematar a minha aventura asiática.
Continuem a acompanhar as minhas viagens em http://bercodomundo.blogspot.pt ou www.facebook.com/BercoDoMundo
Ruthia Portelinha

26/11/2015
 

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