15 de março de 2017

LOPES MARCELO
CUIDAR DA MEMÓRIA

Não basta herdar passivamente as jóias culturais da tradição. Há que merecê-las, estudando-as e dignificando-as. Tal perspectiva e empenhamento criativo implica abrirmo-nos ao abraço fecundo entre o passado e o presente, tornando-o mais rico e partilhado.
É o conhecimento do nosso passado comum que nos pode irmanar no presente de modo a assegurar um saudável sentimento de pertença à nossa terra. Vivê-lo de forma empenhada e solidária é a melhor forma de ser transmitido às novas gerações no enlaçar dos afectos e no reforço da auto-estima.
Vem esta introdução a propósito de hoje pretender sublinhar a grande importância de se concretizarem os registos da memória das nossas comunidades locais, ou seja, registar e salvaguardar o património cultural, designadamente o imaterial que tem passado de geração em geração o por tradição oral. De facto, este é um eixo essencial da nossa herança cultural que, permitindo revisitar a Identidade das comunidades, a preserva, valoriza e divulga. Importa aprofundar o conhecimento pela proximidade, no diálogo concreto com as pessoas de mais idade que melhor conhecem as tradições. Tradições no sentido de autenticidade pois resistiram ao tempo e se adaptaram, integrando valores, símbolos e rituais sedimentados na memória colectiva. Trata-se de partilhar, reformular, celebrar e dialogar pelos veios da emoção bebida nas nossas terras de origem – enriquecendo e afirmando, assim, as bandeiras da nossa identidade.
Como porta-bandeiras, para além de protagonistas, somos intérpretes e divulgadores, logo cuidadores da memória mais ou menos activos. Uma atitude empenhada e activa em termos de cidadania cultural, implica assumirmo-nos cuidadores da memória. Partindo da memória de cada pessoa e, com base nos seus testemunhos e experiência de vida, passar da memória individual à construção e valorização da memória colectiva, numa relação de proximidade e de partilha.
A valorização das artes, dos ofícios, dos saberes e dos sabores tradicionais não deve consistir na mera celebração do passado. Antes, se deve estar atento à inovação autêntica e qualificada que represente soluções mais saudáveis e equilibradas para as nossas vidas. É fundamental partilharmos os saberes através de testemunhos de modo a claramente se descrever, explicitando-se o saber-fazer, as técnicas e as tecnologias humanizadas, visando salvaguardar o genuíno património da cultura tradicional popular. Não só para que se não perca mas, sobretudo, para que seja assumido, respeitado e usufruído na afectuosa vibração das raízes identitárias.
Trata-se de um diálogo e trabalho em equipa, em serena e confiante observação participante, em que é fundamental uma permanente atitude de respeito pelas pessoas na sua própria voz, dando-se a maior atenção ao registo da expressão oral, atendendo-se ao espírito do lugar e ao entorno social dos testemunhos de vida.
O que resultar de tais recolhas, seja em livro – de que são exemplo as monografias sobre as nossas terras, seja em registos audio-visuais, deve ser devolvido à comunidade em afectuoso processo de partilha, propiciando a valorização e a apropriação da memória colectiva. As novas tecnologias não são inimigas da tradição, antes, sendo neutras desde que usadas com rigor, podem potenciar de forma muito significativa a preservação, o usufruto e a divulgação do nosso património cultural.


15/03/2017
 

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