COMO MONUMENTO NACIONAL
Jardim Episcopal e passadiço estão em vias de classificação
O Jardim Episcopal, conhecido como Jardim das Estátuas, e o passadiço sobre a Rua Bartolomeu da Costa, estão em processo de classificação, de modo a serem Monumento Nacional, tal como já acontece com o Paço Episcopal de Castelo Branco, onde está instalado o Museu Francisco Tavares Proença Júnior.O anúncio do projeto de decisão relativo à ampliação da como Monumento Nacional do Paço Episcopal de Castelo Branco, de modo a incluir o Jardim Episcopal e o passadiço, foi publicado em Diário da República (DR), a 10 de outubro, sendo que no referente a esta consulta pública, o prazo de pronúncio dos interessados decorre até dia 22 deste mês.
No anúncio assinado pela diretora-geral do Património Cultural, Paula Araújo da Silva, pode ler-se que “faço público que, com fundamento em parecer da Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico do Conselho Nacional de Cultura (SPAA - CNC) de 3 de maio de 2017, é intenção da Direção-Geral do Património Cultural propor a Sua Excelência o Ministro da Cultura a classificação como Monumento Nacional (MN) do Paço Episcopal de Castelo Branco, de modo a incluir o Jardim Episcopal e o passadiço, em Castelo Branco, Freguesia, Concelho e Distrito de Castelo Branco”.
Num documento da Direção Regional de Cultura do Centro, datado de outubro de 2014, pode ler-se que “concordo com o proposto tecnicamente”.
Já num parecer, a Secção do Património Arquitetónico e Arqueológico (SPAA) do Conselho Nacional de Cultura (CNC) aprovou, em maio deste ano, a proposta de ampliação da classificação.
No documento é referido que “O Jardim Episcopal (Como as alteradas horta e bosque) é vulgarmente conhecido como o Jardim das Estátuas e é parte integrante do Paço Episcopal de Castelo Branco, sendo uma obra maior da arqitectura e do paisagismo do Período Barroco em Portugal. O Jardim foi projetado e construído entre 1715 e 1725 por iniciativa direta do Bispo da Guarda, D. João de Mendonça, e é uma obra notável que conjuga as diversas artes (Arquitetura, Paisagismo, Escultura, Azulejaria e revestimentos arquiteturais com ornatos em relevo, etc) com os novos saberes da hidráulica, num programa complexo e carregado de simbolismo. Partes do Jardim foram objeto de um recente e cuidadoso restauro”.
Por outro lado é avançado que “o passadiço integra o Jardim e articulava este e o Palácio com os restantes elementos, da Horta e do Bosque, que no conjunto definiam um extraordinário complexo, pelo que faz agora todo o sentido incluí-lo na atual proposta de ampliação da classificação original”.
A acrescentar a isto é ainda considerado que “os relevantes valores culturais presentes no Jardim e no seu passadiço, garantem a satisfação dos critérios que fundamentos os processos de classificação de bens culturais neste elevado nível, tanto ao nível dos critérios gerais (caráter histórico-cultural, estético-social e técnico-científico), como de critérios complementares (integridade, autenticidade e exemplaridade”.
A caracterização
do conjunto
Maria Ramalho, da Direção Geral do Património Cultural (DGPC) escreveu, no ano passado, que “o Paço Episcopal, hoje Museu Francisco Tavares Proença Júnior localiza-se a Norte do núcleo mais antigo de Castelo Branco, nas proximidades do Convento de Nossa Senhora da Graça.
A fachada principal deste imóvel, que se implanta em terreno plano, surge virada a um grande pátio murado e gradeado. Do lado Sul encontra-se um dos mais originais jardins barrocos de Portugal cujo acesso se faz através de passadiço sobre a Rua Bartolomeu da Costa.
A entrada no pátio é feita por um portal de verga reta e moldura simples, ladeado por colunas dóricas e rematado por um frontão curvo interrompido, onde se inserem uma inscrição e as armas episcopais.
De planta retangular e coberturas de duas e quatro águas, o edifício apresenta dois pisos tendo, o superior, características de andar nobre pelo emprego de janelas de sacada rematadas por frontões contracurvados, em oposição às janelas simples e quadrangulares do piso térreo.
A fachada principal, voltada a Norte, corresponde ao corpo mais longo dividido em dois por elementos de cantaria, sendo os pisos igualmente separados por friso de cantaria. No pano do lado esquerdo implanta-se um corpo saliente composto por varanda alpendrada com acesso por escadaria.
A fachada, voltada ao jardim, ostenta ainda elementos do antigo edifício quinhentista, nomeadamente uma loggia envidraçada composta por três arcos plenos apoiados em quatro colunas toscanas.
O acesso ao interior do Paço faz-se através do corpo saliente que integra um vestíbulo de ligação a uma ampla sala e a dois compartimentos com cobertura em abobadilha. No interior do Paço são visíveis compartimentos com lambris de azulejos e coberturas com tetos de masseira ou estuque ornamentado, para além da existência de uma antiga capela com teto em caixotões de talha dourada e pinturas do Século XVIII representando as Litanias da Virgem e outras alegorias.
O jardim retangular surge articulado em três terraços ou parterre delimitados por balaustradas e gradeamentos que comunicam através de escadarias. As decorações deste jardim são diversas, demonstrando uma curiosa aliança entre os universos religioso e panteísta.
Nos muros delimitadores do jardim surgem painéis azuis e brancos de azulejo figurativo representando várias vistas de Castelo Branco. O terraço intermédio bordejado por buxos talhados, apresenta planta retangular e três eixos longitudinais possuindo, o do meio, um tanque central e, os laterais, tanques nos ângulos. Estes tanques, por sua vez, possuem repuxos e, todo o recinto, encontra-se povoado por estatuária de vulto em granito, destacando-se as alegóricas e as dos reis portugueses.
Para além da zona do designado Jardim Alagado formado por um tanque de planta quadrilátera irregular, existe ainda um terraço superior sobranceiro a todas as áreas. Do antigo bosque restam, apenas, algumas árvores”.
Maria Ramalho destaca ainda que “o Paço, que se implantou numa área agrícola, foi fundado nos finais do Século XVI por iniciativa de D. Nuno de Noronha, Bispo da Guarda, sendo possível que o projeto fosse de Pero Sanches.
Na inscrição existente na verga do portal de entrada no pátio fronteiro refere-se maio de 1596 como a data de início da construção, tendo esta sido concluída dois anos mais tarde.
Entre 1715 e 1725, por iniciativa do Bispo D. João de Mendonça, procede-se à reedificação do Paço e à execução dos jardins segundo desenho de Valentim da Costa Castelo Branco.
Após 1782, com a tomada de posse de D. Frei Vicente Ferrer da Rocha, são realizadas diversas obras no Paço, nos jardins e no bosque que contaram com a colaboração do arquiteto e frade dominicano Daniel da Sagrada Família, tendo sido introduzidos elementos como a escadaria, porta nobre, varanda, colunata e salão de entrada. Igualmente nesta época foi dado grande incremento à aquisição das peças ornamentais que hoje povoam o Paço e os jardins”.
António Tavares