21 de março de 2018

MOSAICO CULTURAL
QUILÓMETROS DE ESPUMA

O tema de hoje surgiu pela janela do combóio. Quinta-feira, 15 de Março, viagem no Intercidades de Castelo Branco para Lisboa. A manhã surgia clara, surpreendida por tímidos raios de sol. O Tejo, já com mais água e sem sinais visíveis de poluição, magestoso de serena inquietude, evidênciava a forte mansidão com que beijava as margens. As encostas, salpicadas de riachos de água cristalina que se lançava no grande rio, reflectiam-se no grande espelho líquido em paisagens idílicas. Tudo prometia mais uma viagem aprasível!
A descarga na barragem do Fratel estaria no seu nível máximo, já que era enorme a torrente de água jorrada de forma impetuosa numa imensa cortina de espuma. Parecia tudo normal. Contudo, surpreendentemente, a espuma da zona da descarga não era só a água misturada com o ar, oxigenando o rio. Não! Imediatamente a seguir, no centro do leito do rio, uma mancha de espuma branca contínua de vários metros de largura lá estava a boiar no rio! Surpreendido, levantei-me imediatamente ocupando a janela. E a mancha de espuma continuava rio abaixo, ficando progressivamente mais estreita, mas estendendo-se por muitos quilómetros até a barragem de Belver!
Tendo abordado no mês passado a poluição no Tejo sob o título “ A CULPA É DO RIO?, face às medidas de emergência e ao aumento do caudal do rio, parecia que o problema estaria controlado. Não! De facto, ali estava a prova concludente de que o fundo rio pelo menos até à barragem, é uma oculta mas espessa alcatifa de detritos poluidores e que, com o aumento do caudal e maior velocidade da água são arrastados rio abaixo. Trata-se, realmente, de um gravíssimo problema estrutural de poluição acumulada e de progressiva morte do nosso grande rio! Anos e anos de inconsciência e incompetência de quem tem a responsabilidade da missão oficial de fiscalizar, integrada no estado de direito democrático baseado na delegação de poderes do povo nos seus representantes. Confiámos e falharam! Está em risco de ruptura a relação de confiança e de legítima espectativa de que o Estado democrático defenda o património natural colectivo dos interesses particulares de poucos! Por isso não nos podemos calar! Não podemos permitir que se encolham face aos poderosos interesses das fábricas! Um forte calafrio de desastre ambiental, social e cultural tem que questionar a consciência cívica motivando a nossa indignação geradora de intervenção e alerta persistente.
Não é só o leito do Tejo mas, também, alguns dos seus afluentes, sobretudo no Concelho de Vila Velha de Ródão território entre rios. Saúdo a existência de um abaixo-assinado de várias centenas de cidadãos que denunciam as descargas, sobretudo no periodo noturno, de efluentes industriais líquidos para as ribeiras do Salgueiral e do Açafal. As autarquias são, essencialmente, pessoas colectivas e de direito territorial e é na vertente ambiental que mostram o que realmente valem.
Por mim, junto a minha voz às entidades e associações que estão no terreno. Destaco a proTejo, como plataforma essencial de convergência de estudos e de acção, permanentemente alerta e interventora. Associo-me de forma solidária à dedicada e persistente acção do cidadão Arlindo Marques, sublinhando a extraordinária campanha de angariação de fundos que permite suportar as despesas com os processos que as empresas poluidoras lhe moveram. O seu exemplo e corajoso testemunho é um desafio motivador da urgente e irreversível tomada de consciência de que temos de tomar o futuro do nosso grande rio nas nossas próprias mãos.

21/03/2018
 

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