José Dias Pires
A PROPÓSITO DA 7ª EDIÇÃO DO FRONTEIRA - O FESTIVAL LITERÁRIO DE CASTELO BRANCO
Está concluída a sétima edição do Festival Literário de Castelo Branco - FRONTEIRA.
Nesta edição arriscámos a inovação: projetá-lo como FELIJ, a Festa da Literatura Infantil e Juvenil. Em 2019, o Fronteira apresentou esta sua nova roupagem e deu um passo decisivo na definição da sua identidade, desejando que se assuma como o primeiro festival de literatura infantil e juvenil do país, o Fronteira — FELIJ.
Mas para que tal se torne numa realidade evidente, será fundamental uma aposta mais vigorosa e clara na divulgação; um calendário desenhado com muitos meses de antecedência e nenhuma sobreposição de atividades para os dias da abertura e do encerramento. Na verdade, quando tal não aconteceu essas sessões foram, no que ao público diz respeito, um êxito retumbante. Nesta sétima edição não.
Podem, evidentemente, repensar-se: enquadrar-se nas escolas e desenhá-las como fizemos este ano para os Convites Irrecusáveis (os filhos / alunos a convidarem os pais para uma sessão com autores) e que foram uma surpresa, de tão bem sucedidos, ou então acompanhar uma feira do livro infantil e juvenil prolongada por três a quatro semanas.
Depois de vários anos de trabalho com as escolas, promovendo sessões com alguns dos maiores escritores e ilustradores portugueses, o Fronteira - Festa da Literatura Infantil e Juvenil (FELIJ), sentiu que devia seguir a evolução natural, que passa pela autonomização da programação infantil e juvenil, permitindo, não só um maior alcance da intervenção, mas sobretudo uma dinâmica mais ambiciosa de promoção da leitura: sessões com autores em todas as escolas de todos os agrupamentos do concelho de Castelo Branco e em turmas dos 1º, 2º e 3º ciclos do ensino básico e do ensino secundário, abarcando, em 2019, 1079 alunos, 48 turmas e 13 escolas.
Os autores, escritores ou ilustradores, poetas ou romancistas que temos convidado para Castelo Branco, são daqueles criativos que no final de cada momento de criação não sabem se amar-fanharão os papéis, como tantas vezes fizeram os seus antecessores, antes de nova tentativa de dar asas ao trabalho (árduo) de imaginar, que antecede a invenção de acasos, o contar de espantos, enfim, a (boa) mentira.
A (boa) mentira tem na raiz a palavra mens, que significa mente, inteligência, discernimento, logo, posso bem concluir que o (bom) mentiroso tem, por certo, uma boa cabeça, e rio-me: um mentecapto não saberá nunca mentir - apenas aldrabar.
Afinal o que têm em mente os autores ao servirem-se da (boa) mentira? Criar, recriar e espantar, aproveitando-se de acasos, o que jamais lhes acontece por inadvertência ou em nome de boas conveniências-é sempre fruto de uma vontade empenhada de criar ilusões fora do rebanho dos que usam, em forma de balido repetido, as palavras e se julgam produtores de arte.
No que a mim me diz respeito, admito: gosto de escrever, gosto de criar (recriar), mas não gosto, nunca gostei de ser ovelha. Muito menos de balir, em repetição ou eco, as ideias dos outros. Aprendi de pequeno a recriá-las. Já crescido, tento, o mais que posso não me deixar enganar por elas (as ideias dos outros) e identificar o velho argumento que encontrei em Mário Quintana: A mentira é uma verdade que (sem um mentiroso, dos bons, acho) se esqueceu de acontecer (ou que já se esqueceu que aconteceu, digo eu).
Mas a escrita, sempre foi e será o momento mais sublime dessa (boa) mentira especial - a criação.
Sem medo (diga-se até com algum orgulho) sabemos quem convidamos para o FRONTEIRA porque os autores que convidamos escrevem sem medo a que aconteça arrimarem-se mais próximos ou afastados da verdade. Depende sempre da geografia da verdade: a da sua vida, a da nossa vida, a da vida dos outros.
Na presente edição levámos os nossos autores, a convite dos alunos, a conversar com os pais; os alunos a escrever ou desenhar com os autores e todos - autores, alunos e pais - a lerem em conjunto. Também os quisemos a falar com o público mais crescido mas não correu tão bem, pelas razões escritas.
Justifica-se a nossa Festa da Literatura Infantil e Juvenil? Não duvido: claro que sim.
Voltaremos ainda mais fortes em 2020?
Depende das fronteiras.