Valter Lemos
A DIREITA DO 5.7 E RUI RIO
A direita política em Portugal anda inquieta. Não surpreende, dado que foi afastada do poder pela coligação de esquerda de uma forma que considera injusta. E também porque a fórmula governativa criada não falhou como foi anunciado e até obteve resultados que apontam para que o próximo ciclo político se mantenha com a atual correlação de forças, ou seja, o afastamento dos partidos à direita da área da governação. Acresce a isto o facto do PSD ser agora dirigido por Rui Rio, cujo pensamento e discurso político não mostram grande afinidade com os temas e com os valores que a direita política tradicional prossegue, designadamente a que obteve proeminência nos tempos do governo da troika e de Passos Coelho e Paulo Portas.
Depois da formação da “geringonça”, a vitória de Rui Rio no PSD deixou essa direita completamente inconformada e até em estado de choque, visto que, em duas penadas, se viu afastada da governação e da liderança partidária, estreitando-se as hipóteses de regresso ao poder no futuro próximo.
Assim se compreendem o estilo de oposição particularmente violenta no início da governação da “geringonça” e os sobressaltos e movimentos imediatos e constantes de critica e oposição a Rui Rio.
O último movimento da direita é o 5.7, liderado pelo deputado do PSD Miguel Morgado.
Trata-se sem dúvida de uma iniciativa política relevante. Pelo manifesto simples, mas claro, bem elaborado e com alguma densidade política e ideológica. Mas, principalmente, pela lista de fundadores do movimento (que inclui diversas personalidades relevantes e também alguma frescura e renovação), pelos objetivos anunciados (federar as direitas) e, naturalmente, pelo momento da sua criação.
O nome do movimento referencia o 5 de julho, dia em que, em 1979, se constituiu a Aliança Democrática entre o PSD, o CDS e o PPM, liderada por Sá Carneiro e Freitas do Amaral. É desta circunstância política que os membros do novo movimento se reclamam herdeiros. E aqui começam as dúvidas.
Desde logo porque alguns dos nomes mais relevantes dificilmente se associam às posições de Sá Carneiro e de Freitas do Amaral. Depois, pelo incensamento dos cronistas de direita radical na comunicação social e ainda porque os discursos da apresentação pública não esconderam que o movimento incluía os “liberais”, os “conservadores”, os “democrata-cristãos” e também os social-democratas não socialistas. Ora, para além da duvidosa e contraditória imprecisão política e ideológica da expressão, o lugar suplementar em que colocam a social-democracia, deixa mesmo muitas dúvidas sobre a assumida herança (não esquecer que Sá Carneiro travou uma importante batalha para colocar o PSD na Internacional Socialista, o que acabou por não conseguir).
Ora, é conhecida a filiação social-democrata que Rui Rio reclama para si e para o PSD que lidera e que considera não ser um partido de direita, apesar de ocupar o maior espaço eleitoral na área em causa. Como deve assim entender-se o posicionamento do novo movimento?
Parece, pois, que o 5.7, independentemente das eventuais qualidades políticas de alguns dos seus fundadores e dos méritos de uma potencial nova dinâmica no espaço político em Portugal, aparece mais contra Rui Rio do que contra a esquerda.
Afinal porquê agora? Vamos ter nos próximos meses duas eleições nacionais, as europeias e as legislativas. A grelha de partida já está definida. O PSD e o CDS já têm as estratégias políticas estabelecidas. Faz algum sentido apresentar, neste momento, um movimento para federar as direitas? Não tendo qualquer efeito, por manifesta falta de tempo útil, nas estratégias e nas propostas dos partidos dessa direita, qual pode ser o objetivo de tal movimento? Obviamente, parece mais querer posicionar-se contra eles, através da apresentação de propostas que surgem como evidências das omissões desses partidos e como alternativa às respetivas estratégias.
Uma clara vinculação às direitas da economia liberal e da moral conservadora visível no manifesto, na presença de grande número de representantes nos fundadores e na ausência de personalidades que apoiem ou tenham apoiado Rui Rio na liderança do PSD, são sinais mais claros de posicionamento face à atual estratégia do PSD do que de criação de um espaço federador e aglutinador das ideias e do povo da direita.
O movimento 5.7 mostra-se pois, no tempo e no modo, mais contra Rui Rio do que contra a governação de esquerda.