Maria de Lurdes Gouveia Barata
ABRIL EM PORTUGAL
Abril em Portugal foi sempre mês azul de céu de Primavera, apesar do Abril águas mil, Abril é também mês do rubro da revolução que sempre lhe ficará tatuada. Há o céu de Abril benfazejo que predispõe para viagem, nem que seja uma viagem interior de bons augúrios. Mas falar de Abril em Portugal remete-nos para a revolução dos cravos e para tudo o que foi sonho agarrado nesse ano de 1974 ao som de Grândola, vila morena. A canção ficou para sempre, ainda nos faz estremecer de emoção (e digo nos, porque acredito que é uma experiência partilhada pela maioria). Como diz Manuel Alegre, há um Abril de sim e um Abril de não, que pode por vezes ser o sonho que escapa, mas que é um marco para estendermos as mãos, teimando sempre em alcançá-lo. Por isso há uma esteira luminosa nos horizontes de Abril. Abriu-se o caminho para mudar e veio a esperança e a fé no efeito da luta, apesar dos escolhos. Não resisto a transcrever pelo menos os últimos tercetos do poema de Manuel Alegre que referi:
Vi o Abril que ganha e Abril que perde
Abril que foi Abril e o que não foi
eu vi Abril de ser e de não ser.
Abril de Abril vestido (Abril tão verde)
Abril de Abril despido (Abril que dói)
Abril já feito. E ainda por fazer.
Quem não se lembra das canções suavemente emitidas na madrugada daquele 25 de Abril, mesmo que nervosamente emitidas e a entrarem suavemente no coração? E depois do adeus… foi mesmo um adeus à ditadura, estava lá o protesto e encheu as ruas com palavras de amor…
O 25 de Abril enche o mês de Abril em Portugal e estará presente como uma marca para sempre. Apesar do que ainda não se cumpriu ou apesar do que está por fazer ou apesar do que já se perdeu, será um contínuo incentivo para teimar em vestir Abril com um Abril de ser, mesmo que assistamos a tanta perda por causa de ganâncias pessoais e frívolas lutas por poderes mesquinhos ao serviço do egoísmo e não ao serviço do bem colectivo.
O Abril em Portugal traz-nos também a voz já longínqua de Yvette Giraud na canção divulgada de Avril au Portugal, que teve réplicas noutros países e fazia apelos aos belos dias de Abril que Portugal oferecia pelo seu clima, pelas suas gentes, pela sua beleza – um Abril feliz com histórias de amor e viagens de aventura – Avril au Portugal / À deux c’est l’idéal… A canção “Coimbra”, composta por Raul Ferrão com letra de José Galhardo, teve a maior divulgação internacional, muito se devendo a internacionalização do tema a Amália Rodrigues, em 1950, nos espectáculos do “Plano Marshall”, o plano de apoio dos EUA à Europa do pós-guerra, em que colaboraram os mais importantes artistas de cada país. A cantora francesa Yvette Giraud pediu a Amália a música de Coimbra (Coimbra é uma lição de amor) e também de Lisboa não sejas Francesa, outra música de Ferrão que Amália também havia recuperado. E assim nasceu Avril au Portugal, com letra de Jacques Larue, incluída no álbum de Yvette Giraud em 1957.
Venha Abril de chuvas mil, de sol azul, de flores a despontar, de canções da liberdade, da esperança dos homens, não esquecendo que podes cortar todas as flores mas não podes impedir a Primavera de aparecer (Pablo Neruda). Vamos viver este Abril em Portugal!