João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
OS RESULTADOS DAS ELEIÇÕES de domingo só surpreendeu quem não queria ouvir os sinais que desde há algum tempo eram cada vez mais ensurdecedores. Como aliás na semana passada, neste espaço de comentário, de alguma forma já antecipávamos. A começar por um ponto negativo, o da abstenção, a destoar da Europa onde os eleitores perceberam, ou lhes explicaram com clareza, a especial importância destas eleições para o presente e futuro da Comunidade. Lá fora, houve um aumento da participação nuns espetaculares 20 por cento. Cá dentro, as praias encheram, como se fosse incompatível a praia e o voto. A abstenção subiu percentualmente, mas há que lembrar que desta vez houve um aumento de um milhão de eleitores, emigrantes portugueses, e sublinhe-se o aumento de cerca de sessenta mil em número de votantes. Contas que ainda assim não devem chegar para nos satisfazer. Não posso é aceitar que se justifique a não participação no ato com o habitual, eles (os políticos) são isto e aquilo, cobras e lagartos. Ou são tão exigentes que não conseguem entre 17 partidos ou movimentos de todo os espectro político encontrar um em que se reveja? Entre os vencedores estão o BE onde a campanha serena de Marisa Matias teve os dividendos merecidos, o PAN que consegue captar o voto jovem e alternativo vai engrossar o movimento ecologista do Parlamento Europeu e o PS é como já se adivinhava o outro grande vencedor. Uma campanha onde os adversários à sua direita cometeram erros de palmatória e com uma campanha agressiva e fértil em ataques de caráter que, historicamente provado, não são do agrado do eleitorado, resultou em terramoto eleitoral que vai deixar marcas não sei se recuperáveis até às eleições de outubro. E estas eram umas eleições onde o partido do governo costuma ser castigado porque não funciona o voto útil, pois o que está em causa não é a governabilidade, o que com toda a certeza viria a beneficiar o PAN e possivelmente o BE.
Mas um apontamento positivo é o de não se terem cumprido em toda a Europa as previsões negras de um PE com uma franja importante de ultras, eurocéticos e xenófobos. É verdade que o partido de extrema direita de Matteo Salvini na Itália, o de Viktor Órban na Hungria, Martine Le Pen na França saíram vencedores mas a extrema direita no PE continua bastante minoritária e verificou-se também um aumento significativo de deputados da família dos Verdes. O resultado é que os blocos políticos tradicionais perderam a maioria absoluta e vão ter que criar uma gerigonça à moda europeia. O que não deixa de ser positivo.
A terminar, duas notas, uma para a vitória folgada do Brexit do senhor Farage a acabar com as ilusões dos que ainda esperavam por um volte-face no processo de saída do Reino Unido, agora cada vez mais próximo de uma saída sem acordo. A outra nota vai para Espanha onde as Europeias coincidiam com as autárquicas e autonómicas e que foram todas ganhas pelo PSOE, a grande distância do PP, no que se pode considerar a confirmação do resultado das legislativas de abril.