Maria de Lurdes Gouveia Barata
DIAS BONS E DIAS MAUS
Manhãs frescas nestes primeiros dias de Julho, manhãs mais verdes a olhar o jardim do vizinho e o estremecimento das minhas orquídeas na brisa suave, um pouco de cor desbotada, mas airosas na sua beleza de flor altiva e duradoura. Nem me atrevo a colhê-las para dentro de casa para não lhes cercear a liberdade natural da vida a olhar o céu azul. Manhãs frescas de Julho a desconfiar dos proféticos calores desalmados que tinham anunciado os meteorologistas da televisão (aliás, a profecia já era de Junho…). Mais calor vem durante o dia, mas é verão, o calor é bom para mim porque sempre fui mulher de verão. São dias bons já a fantasiar o cheiro salgado das ondas e a sensação de ser eternamente livre em dias tão efémeros. Sorriso de crianças em férias… Os DIAS BONS começam logo pelo dia meteorológico com sol de azul (ressalvando que gostos não se discutem e pode haver dias de chuva íntimos e sonhadores…). Mas dias de sol motivam pensamentos de viagem e de passeio pela Natureza, mesmo que seja apenas o vagabundear por uma estrada secundária com incursão em campos com a zoada de rastejos e cantos de cigarra.
DIAS BONS são os das conversas amenas, das saudações sorridentes, da paragem descuidada diante da cor apelativa atrás do vidro de uma montra. Um DIA BOM é passar para além do sorriso e dar uma gargalhada descontraída sem necessidade nenhuma de ir a uma aula de terapia do riso. Eu dei uma gargalhada quando o importante presidente dos Estados Unidos falou: «Em Junho de 1775, o Congresso criou um exército unificado das forças revolucionárias acampadas em Boston e Nova Iorque. O nosso exército tripulou o ar, tomou as muralhas, assumiu os aeroportos, fez tudo o que tinha que fazer (…)». Porque nos rimos de um erro crasso? Um presidente daquela responsabilidade a exprimir fluentemente a ignorância… Pensamos logo o quão perigosa se torna em assuntos sérios que pode abordar com a mesma futilidade. Trump perde-se em vaidade, prosápia, jactância, irresponsabilidade e, apesar do meu espírito positivo, sou das que temo um mal de guerra no mundo, provocada por este homem, que diz que cancelou o ataque aéreo contra o Irão em resposta ao abate de um drone americano que sobrevoava espaço aéreo iraniano para salvar vidas humanas. Já estamos num DIA MAU perante as incongruências dum homem de poder com influência mundial que não acredita nas alterações climáticas e na perda de muitas vidas humanas no futuro para não se submeter a alterações de comportamentos que arrastariam perdas financeiras. DIAS MAUS já se vivem com essas mudanças climáticas: a seguir a uma onda de calor na Europa, seguiu-se período de chuvas torrenciais e consequentes desgraças, servindo de exemplo a Grécia e a Itália. DIAS MAUS!
Também aflitiva é a presença da extrema loucura da poluição da Terra e dos seus mares. Serão DIAS MAUS para toda a humanidade o saber-se que estão em perigo de extinção milhares de espécies (mais propriamente um milhão de espécies), que há uma ilha de lixo localizada no oceano Pacífico, que é o resultado da acumulação de detritos, principalmente de plástico – é o que se pode chamar de uma verdadeira catástrofe ambiental produzida pela humanidade. A região fica entre a costa do estado norte-americano da Califórnia e o Havai, com 80 mil toneladas de lixo plástico que compõem uma área de 1milhão e 600 mil de quilómetros quadrados. São mais de duas vezes o território de França e dezassete vezes o tamanho de Portugal! DIAS MAUS quando aparecem animais mortos com o estômago cheio de plásticos!
DIAS MAUS são os da violência doméstica e os da facilidade com que hoje se mata por avidez de bens materiais, os das bestas à solta que atacam crianças, os da miséria humana, seja a da falta de bens essenciais, seja a do mau carácter que urde perigos para o seu próximo.
Lembro-me de um dia destes começar com um DIA MAU: encontrei uma determinada pessoa com demoras de cumprimentos e sorrisos falsos – e digo falsos pelo que se seguiu. Os preciosos quinze minutos que perdi foram um desfile de amargas apreciações sobre outra pessoa: ela era vaidosa, antipática, tinha a mania, vestia-se atrevidamente, o que não lhe ficava nada bem, porque tudo tem a sua idade, estava desconfiada de problemas com o marido… Foi rol interminável perante mim, mera ouvinte, porque naquele dia eu não estava para lhe dar o recadinho de ser tão feio dedicar-se à má língua…
Deixem-me terminar com os DIAS BONS do sol à beira-mar ou das brisas frescas no alto das montanhas, do olhar feliz daquele velho que revê o filho emigrante, das crianças em jardins de risadas e corridas, das noites tépidas cheias de estrelas a piscar-nos os olhos brilhantes…