7 de agosto de 2019

O sétimo retrato

Os factos. Na véspera de ser inaugurada em Penamacor a exposição “Beira Baixa sob perspectiva”, na passada Sexta-feira, dia 26 de julho, iniciativa inscrita no programa Beira Baixa Cultural, promovida pela Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa e financiada com fundos comunitários (tudo bem patente no respectivo cartaz), o Presidente da Câmara local impôs a exclusão de uma das fotografias, que já se encontravam expostas na parede, sob a forma de ultimato, ordenou: ou a fotografia saía ou fechava-se a sala e não havia exposição. A fotografia saiu, a exposição foi inaugurada. E esta é a verdade que nenhuma mentira pode ocultar.
A fotografia em questão é um retrato. Ali, o retratado simboliza, para o fotógrafo, a memória do território do município na pessoa de um erudito local com vários títulos publicados em favor dessa memória. Bastaria mencionar “Os moinhos da Baságueda – Comunidades rurais; saberes e afectos” ou a série “A nossa Terra a nossa Gente” que já conta com dois volumes: “O Ciclo da Pecuária” e “Os Moinhos a Moenda e o Moleiro – Manual do Trajo”, bem como a coautoria da monografia “Aranhas Ontem e Hoje”. O que dizer da defesa das nossas tradições locais, designadamente com o livro “ Bailado de sonho – as voltas do linho” e um CD com cantigas inéditas das fases do ciclo do linho. Poder-se-ia, ainda, aludir ao mais recente livro “À Lareira da Memória” e ao cancioneiro local popular, uma coletânea de mais de uma centena de cantigas tradicionais inéditas do calendário anual rural gravadas à capela. Poderíamos ainda acrescentar a sua especial participação no livro “Cozinhados Lembrados”, uma extraordinária recolha de receitas tradicionais do concelho de Penamacor. Certamente que, com estes atributos, não desluziria ao lado dos outros seis retratados que integram a exposição, simbolizando, meritoriamente, outras vertentes entendidas como pertinentes na obra de autor, o fotógrafo Valter Vinagre. Autor que, os mais atentos terão reparado, nas poucas palavras proferidas na ocasião da inauguração da exposição, não conseguiu tirar da ideia continuarem a ser sete e não seis os retratos, repisando insistentemente nesse enigmático número sete, aliás, o que já se verificou nos retratos expostos nos outros concelhos da CIMBB.
Os Porquês. Algumas razões possíveis poderão “ justificar” a imposição do Presidente da Câmara. Será por considerar que o retratado não tinha mérito para figurar na exposição? Terá sido pela má qualidade do retrato? Ou será, unicamente por o retratado ser seu adversário político, um deputado municipal da oposição que, lhe faz frente perante os sucessivos atropelos à lei, não abdicando de defender a verdade e a legalidade democrática.
E porque, como ficou dito na introdução desta nota, a exposição em causa é um produto cultural, promovida pela CIMBB - Comunidade Intermunicipal da Beira Baixa, que têm os seus responsáveis políticos a dizer sobre a conduta censória do autarca de Penamacor, seu Vice-presidente do Conselho Municipal, que desconsiderou e amputou o trabalho de autor do fotógrafo? E que palavra terão os responsáveis do Partido Socialista perante este acto que contradiz a bandeira da liberdade e a luta contra a censura?
Não faltarão alguns sorrisos trocistas perante a ideia de que episódios destes se alinham com outros fenómenos frequentes na Câmara de Penamacor, nestes tempos conturbados, onde a nobreza de carácter na política vai soçobrando na onda de populismos autoritários. Retirar um quadro de uma parede, só porque sim, vai para além de um simples ato. O que existe é censura, arrogante censura cultural. Censura, convoca outros verbos de tonalidades bem mais negras, como apagar, eliminar, negar, em última instância, o direito a existir pensando e agindo diferente no respeito para com os outros.
É bem verdade que a consciência é, tantas vezes, vulnerável ao ponto de se vergar aos interesses e ao medo e acomoda-se facilmente num encolher os ombros. O futuro nos dirá quão caro poderemos vir a pagar se todos adotarmos esse gesto.
Penamacor Independente

07/08/2019
 

Em Agenda

 
07/03 a 31/05
Memórias e Vivências do SentirMuseu Municipal de Penamacor
12/04 a 24/05
Florestas entre TraçosGaleria Castra Leuca Arte Contemporânea, Castelo Branco
14/04 a 31/05
Profissões de todos os temposJunta de Freguesia de Oleiros Amieira
02/05
Obrigado senhor ZéTeatro Estúdio São Veiga, Idanha-a-Nova
tituloNoticia
03/05
Canta LiberdadeCasa da Cultura da Sertã

Gala Troféu Gazeta Atletismo 2023

Castelo Branco nos Açores

Video