“AMENDOAIS SUPERINTENSIVOS EM IDANHA-A-NOVA”
Quercus fala de ameaça à saúde pública e ambiente
A Direção Regional de Castelo Branco da Quercus afirma, em comunicado que os “amen-doais superintensivos ameaçam a saúde pública e o ambiente em Idanha-a-Nova”, pelo que a associação afirma que em relação à “nova área de 300 hectares, em consulta pública”, emite “parecer negativo”.
A Quercus reitera que “um projeto de instalação de novo amendoal superintensivo em Idanha-a-Nova, em pleno Geo-parque Naturtejo, na Bio Região de Idanha-a-Nova e nas proximidades do Parque Natural do Tejo Internacional, ameaça a saúde pública e o ambiente”, o que a leva a “exigir que o Governo não autorize a instalação de mais um amendoal e apela a todos os cidadãos e empresas para participarem e contestarem esta nova área no âmbito do processo de avaliação de impacte ambiental que se encontra em consulta pública”.
No comunicado é recordado que “a região de Idanha-a-Nova tem atraído nos últimos anos empresas e cidadãos nacionais e estrangeiros que procuram um modelo de desenvolvimento sustentável baseado nos recursos endógenos desta região raiana que tem um património natural e cultural singular, apostando na agricultura e pecuária biológica, na permacultura, no turismo, na organização de eventos, e outras atividades sustentáveis”, para avançar que “a instalação de grandes áreas com estas monoculturas intensivas vem por em causa este modelo de desenvolvimento mais sustentável e os cidadãos e empresas que procuravam esta região classificada e nela fizeram uma aposta de vida e investimentos nesta região”.
Acrescenta que “são vários os problemas ambientais que têm vindo a ser relatados devido à instalação destas monoculturas superintensivas e que tem a ver com a contaminação do ar, dos solos e da água, diminuição de biodiversidade e degradação dos solos, entre outros, sobretudo derivados às práticas utilizadas e aos produtos agrotóxicos usados regularmente nos tratamentos”.
A Quercus salienta também que no respeitante “aos recursos hídricos superficiais, o Vale Serrano fica situado na bacia hidrográfica do Tejo, sendo a linha de água a Ribeira da Presa, a qual é afluente da Ribeira do Freixo. Estas ribeiras encontram-se localizadas na sub-bacia do Ponsul. O Rio Ponsul constitui-se como um dos grandes afluentes do Tejo, em pleno Parque Natural do Tejo Internacional”.
Isto, para mais à frente adiantar que “o projeto agora em consulta pública prevê gastar 100 mil euros/ano em pesticidas e tratamentos agrotóxicos. Só em gli-fosato está previsto a aplicação de mais de 600kg/ano. Os pesticidas e fertilizantes utilizados poderão ser lixiviados e arrastados para estes rios e para os aquíferos subterrâneos, aquífero este que apresenta uma vulnerabilidade padrão média a alta à contaminação e uma vulnerabilidade média a alta aos pesticidas. Estes impactes estão identificados no EIA e poderão ter um impacto muito maior e cumulativo com outras áreas adjacentes. O próprio projeto prevê uma área total no futuro de dois mil hectares na região”.
Adianta ainda que a “requalificação da barragem existente, assim como a implantação da nova barragem e respetivas áreas inundáveis até ao nível de pleno armazenamento (NPA) proposto, assim como a implantação agrícola, vão afetar 155 hectares de áreas de Reserva Ecológica Nacional (REN), nomeadamente áreas classificadas como cabeceiras das linhas de água e leitos dos cursos de água e ainda 16 hectares de Reserva Agrícola Nacional (RAN).
As críticas continuam ao avançar que “para qualquer herbicida cujo dispositivo de aplicação gere gotas de 100mm ou inferiores, estas transformam-se em partículas de aerossol que, uma vez suspensas na atmosfera, poderão mover-se a longas distâncias com o favorecimento do ciclo diurno, da humidade do ar e da intensidade do vento. Num dia calmo com baixa humidade relativa, uma gota de 100 mm ou inferior irá evaporar-se em menos de seis segundos, ficando em suspensão no ar. Por exemplo, para uma temperatura do ar de 32 Cº e 36 por cento de humi-dade relativa, uma gotícula de 50 mm irá viajar cerca de 7,5 centímetros do bocal do pulverizador e evaporar-se-á em menos de dois segundos (Jordan et al. 2009). Estes aerossóis suspensos na atmosfera podem mover-se por longas distâncias antes de se depositarem e contaminarem outras explorações agrícolas limítrofes, assim como as populações residentes nas zonas mais próximas”.
Também focado é o impacto na fauna e habitats. Matéria em que se pode ler que “a área de projecto, pela sua grande dimensão, apresenta uma sensibilidade relativamente alta e interfere inevitavelmente com o equilíbrio dos ecossistemas naturais presentes. Devido às mobilizações de terras, alteração do relevo, circulação constante de veículos, maquinaria e pessoas na área, sendo de salientar que a movimentação de terras e terraplanagens tornam os impactes parcialmente irreversíveis. Eì de salientar que a destruição e/ou remoção do coberto vegetal, compactação do solo e posterior impermeabilização são impactes negativos, directos, de magnitude elevada, significativos e permanentes para o descritor de flora e vegetação.
A destruição dos habitats existentes no terreno constitui um dos principais impactes sobre a fauna, uma vez que estes proporcionam refúgio, alimento e possibilidade de camuflagem. O projecto previsto para a propriedade de Vale Serrano implica mobilização dos solos e destruição significativa da vegetação natural presente. Perdem-se áreas abertas de pastagem ou de matos baixos para dar lugar a uma produção intensiva de amendoal, sendo expectáveis alterações nas comunidades faunísticas associadas. Em consequência do impacte anterior gera-se um efeito-barreira significativo. Esta interrupção nos habitats naturais característicos locais pode reduzir ou fragmentar áreas vitais, retirando recursos alimentares deixando os animais muito expostos, tendo como consequência directa o afastamento ou exclusão de espécies faunísticas”.
A Quercus realça que “está actualmente em consulta pública até dia 20 de Abril a Avaliação de Impacte Ambiental da instalação de mais 300 hectares de amendoal superintensivo na Propriedade de Vale Serrano, no Concelho de Idanha-a-Nova, Distrito de Castelo Branco, mas que pretende somar uma área com mais de dois mil hectares”, o que leva a Quercus a “apelar a todos os cidadãos, empresas e outras entidades que participem na consulta dando o seu parecer e opinião. A participação é feita através do portal participa da Agência Portuguesa do Ambiente (APA), em https://participa.pt/pt/consulta/propriedade-de-vale-serrano-idanha-a-nova. Preocupada com os impactes que esta instalação poderá ter no ambiente local e na saúde das populações envolventes, nomeadamente problemas de contaminação dos recursos hídricos, de propriedades circundantes, ao nível respiratório e de pele, a Quercus exige que o Ministério do Ambiente e o Ministério da Agricultura não autorizem a instalação do referido amendoal”.