Alfredo da Silva Correia
A DEMOCRACIA EM AUTODESTRUIÇÃO? - É PRECISO ADEQUAÇÃO
Depois de ter tratado o problema das alterações climáticas e do problema da demografia começo por afirmar que não há melhor regime do que o democrático, sendo a ditadura uma aberração social, razão pela qual no mundo actual predomina felizmente, a democracia. Não obstante, está a surgir cada vez mais alguma desmotivação em relação a ela, afirmação bem evidente não só na enorme abstenção que se verifica nas eleições democráticas, mas também no facto de estar em crescimento no nosso mundo, o surgimento de poderes antidemocráticos, indiciando que cresce o número daqueles que deixam de acreditar na democracia.
Para os que sentem o referido e o lamentam como eu, não podem deixar de se interrogar sobre as causas que estão a conduzir a tal evolução e, sobretudo, sobre o que deveria ser feito para que tal movimento não se imponha. Efectivamente, são leituras que nos devem preocupar já que ao regime democrático não deveria haver alternativa.
Perante estes receios não podemos deixar de observar que, como podemos constatar na história da humanidade, a democracia tende a autodestruir-se e tal apenas pode acontecer porque os sistemas políticos instalados no regime democrático, não permitem uma boa governação, o que não pode deixar de ser a génese do aparecimento de movimentos antidemocráticos.
Aliás, tal não é nada de novo, não sendo difícil encontrar na história da humanidade situações em que surgiram ditaduras, porque a democracia instalada se autodestruiu. No nosso caso, o exemplo mais recente, foi o surgimento da ditadura de Salazar, que efectivamente se instalou, porque o regime anterior governou o país de tal forma, que deixou que tivesse uma divida enorme, para além de que o povo vivia numa grande insegurança. Acresce que, então, era muito difícil fazer a respectiva vida económica, por carência de capitais e de quem fosse empreendedor, eventualmente porque quem tinha condições genéticas para tal foi desmotivado pelo sistema político em vigor.
Não tenho experiência de tal porque, quando nasci, já estava instalada no país a ditadura, mas ainda me recordo de ouvir os meus pais e avós desabafar que finalmente havia ordem e segurança no país, embora sentissem grandes dificuldades económicas porque tudo tinha de ser feito para se pagar a divida criada pelo regime anterior.
Para os que tiverem a leitura que é preciso tudo ser feito para evitar a autodestruição da democracia, o que infelizmente parece estar hoje a instalar-se a nível mundial, não podem deixar de se interrogar das causas de tal tendência e sobretudo sobre o que fazer para a inverter.
Se nos interrogarmos o que sobre esta matéria está hoje a acontecer, no nosso país, não podemos deixar de ter em conta, não só da enorme abstenção nas nossas eleições, mas também que perde competitividade a nível mundial ao longo das últimas décadas, o que não pode deixar de se dever à qualidade da nossa governação pois, eu pelo menos não tenho dúvidas, o povo português é um grande povo e é capaz de grandes feitos, quando bem conduzido.
Efectivamente, se apreciarmos o modo de estar dos democratas candidatos durante as inúmeras eleições, ocorridas desde que a democracia chegou, não podemos deixar de observar que não é fácil encontrar algum candidato a falar ao povo na necessidade de trabalhar, como muitos poucos referem que sermos competitivos, é fundamental neste mundo de economia cada vez mais global. Pelo contrário tudo prometem até sem saber como cumprir, indiciando que não é necessário trabalhar, do que resulta uma cultura de facilidades muito perniciosa para o nosso futuro económico, que se transmite no povo com as consequências inerentes. Aliás o nível atual do nosso endividamento não pode sobre esta matéria, deixar de ter o seu forte significado.
No mundo económico actual os investidores podem ser divididos no grupo daqueles que o fazem por gosto e têm capitais suficientes para tal e no grupo daqueles que não têm capital e têm que fazer a vida arriscando-se a criar uma empresa. Os investidores de ambos os grupos são, em termos médios, atacados no âmbito do sistema democrático, por muitas vezes terem uma visão distorcida do conceito de igualdade, o que acaba por conduzir a uma grande mortalidade infantil no mundo empresarial com consequências negativas no poder de compra dos povos.
Desta forma, e a não haver coragem para adequar o nosso sistema politico, no âmbito do regime democrático, a fim de que se consiga uma boa governação, o que considero perfeitamente possível, temo muito que a nossa democracia acabe também por se autodestruir, como já há sinais estar a acontecer por esse mundo fora, o que considero muito lamentável.
Enfim são raciocínios, pelo que vamos esperar que os regimes democráticos, instalados por esse mundo fora, não se autodestruam, para o que é fundamental que instalem, no âmbito do regime democrático, sistemas que permitam uma boa governação, o que não tenho dúvidas é possível.