João Carlos Antunes
Apontamentos da Semana...
AGORA VEMOS QUE ERA MANIFESTAMENTE EXAGERADO o otimismo com que muitos de nós encarávamos o futuro próximo, confiantes de que a vacina desenvolvida em poucos meses, milagre da ciência, nos iria finalmente fazer sair deste buraco. Não poucos especialistas iam alertando para o que aí vinha. Mas muitos não queriam acreditar. Agora somos confrontados com o presente, um presente novamente confinado, com a economia fechada e uma população já cansada e muito provavelmente com dificuldade em suportar o medo da doença e já a antecipar as dificuldades económicas que vão entrar nas suas casas. Será já esta semana que voltaremos a ficar fechados em casa, talvez por um mês, certeza para já é que quinze dias serão e depois se verá. Temos razão para ter medo? Temos. Todos os dias se contabilizam números, números, que fazem adivinhar a linha vermelha dos cuidados intensivos a ser cada dia ultrapassada. E cada vez mais o vírus se propaga com maior velocidade, como nunca visto nas anteriores vagas. Ainda hoje, escrevo segunda-feira, vimos nos noticiários a ministra da Saúde, Marta Temido, a não conseguir disfarçar o cansaço e a grande preocupação pela situação pandémica e pela possibilidade real do SNS entrar em colapso. Temos razão para ter receio, mas mais razão ainda para confiarmos nas instituições. Aproximam-se dias ainda mais difíceis, para os cidadãos e também para a quase totalidade das empresas, principalmente as PME. Espera-se agora que ao confinamento geral se responda com ajudas imediatas e o menos possível de burocracia, para defender empresários e trabalhadores. Confiamos nas instituições e na comportamento responsável dos portugueses.
HÁ JÁ ALGUNS MESES ESCREVIA aqui que se adivinhava que Trump nunca em caso algum aceitaria a derrota e por isso não haveria de querer sair a bem da Casa Branca. Estava intrínseco num perfil de autocrata, que se considera um predestinado, autoproclamado salvador da pátria contra as forças do mal. Afinal, nada de muito diferente do comportamento um qualquer ditador do terceiro mundo. A diferença está na solidez das instituições democráticas que Trump levou quatro anos a minar os seus alicerces. Com o beneplácito covarde das principais figuras, com algumas honrosas exceções, do Partido Republicano. Mas aquilo que aconteceu no dia em que os órgãos legislativas americanos se preparavam para validar o resultado eleitoral que ditara a vitória de Biden, acontece o inimaginável. Uma horda de desordeiros militantes da extrema direita, de cara descoberta e forte sentimento de impunidade, acicatados por Trump, invadem o Capitólio, templo da democracia americana, para fazer anular as eleições. Foram horas de violência e de uma incredibilidade que percorreu a América. Estes atos, ao contrário do que pretendia, ditará o fim da vida política daquela figura de ópera bufa. Isolado, expulso das redes sociais que eram o seu reino, com as grandes empresas americanas a suspenderem os donativos a todos os congressistas seus apoiantes, não tardará muito, aliás já começou, veremos um movimento dentro do Partido Republicano a considerar Trump como um ativo tóxico… Os americanos e o Mundo esperam ansiosos pelo dia 20 de janeiro.