Valter Lemos
A PANDEMIA ENRIQUECE OS MAIS RICOS
A pandemia do coronavírus tem tido gravíssimas consequências na economia mundial. A riqueza global deverá cair cerca de 4%, mas no caso português esse valor deverá ser do dobro, ou seja, mais de 8%. Tendo em conta que o PIB de 2019 foi de cerca de 212 mil milhões de euros, em 2020 o país terá perdido cerca de 17 mil milhões de euros de PIB.
A pandemia atingiu todos os países do mundo e a queda da riqueza global é geral, atingindo países ricos e países pobres. Europa, Estados Unidos e Japão têm quedas significativas, mas também a América latina e a Índia, resistindo a China um pouco melhor.
Mas se ao nível dos países a queda parece atingir todos e a distribuição entre países ricos e pobres não parece mostrar muita diferença, o mesmo não se pode dizer da distribuição pelas empresas e pelos donos das mesmas.
A esmagadora maioria das empresas sofreu prejuízos com a situação, ainda que haja setores que resistiram melhor (e alguns que até aumentaram os ganhos) e outros que foram gravemente penalizados.
Mas, no mundo atual parece haver um grupo de pessoas que nunca perde. Ganha quando a economia cresce e ganha também quando a economia cai. São os multimilionários.
Em 2020 o banco suíço UBS e a consultora Pricewaterhouse Coopers fizeram o estudo da situação da riqueza acumulada dos bilionários mundiais (indivíduos que têm mais de mil milhões de dólares) e as conclusões são espantosas. O número de bilionários é de 2189 e a sua riqueza global é de 10,2 triliões de dólares (8,7 BILIÕES- 8.700.000.000.000 – de euros), ou seja, mais de 40 VEZES a totalidade do PIB de Portugal!!
Até julho de 2020 a riqueza destes 2 milhares de ultra-ricos cresceu 27%! Ou seja, durante o ano da pandemia a fortuna dos mais ricos do mundo cresceu mais um quarto do seu valor.
Este facto não pode deixar de ser encarado como absolutamente escandaloso e ofensivo da condição humana. Enquanto morrem milhões de pessoas, os países empobrecem e biliões veem piorar as suas condições de vida, dois milhares de indivíduos engordam pornograficamente as suas fortunas.
Quem são afinal estes “deuses” do dinheiro?
Os três primeiros são americanos. O primeiro e mais rico de todos é Jeff Bezos, dono da distribuidora Amazon, com uma fortuna de 194 mil milhões de dólares, a qual cresceu, em 2020, a estratosférica quantia de 79 mil milhões! O segundo é Elon Musk, dono da Tesla e da Space X (160 mil milhões) e o terceiro o conhecido Bill Gates, fundador da Microsoft (131 mil milhões). Mas nos primeiros vinte, para além de 13 americanos, entre os quais o dono do Facebook, Mark Zuckerberg, há também franceses como Bernard Arnault, dono da Louis Vuitton (114 mil milhões), um indiano Mukesh Ambani, presidente da Relliance Industries, chineses como Zhong Shanshan da farmacêutica Wantai, um mexicano, Carlos Slim, da área das telecomunicações e um espanhol, Amancio Ortega, da Inditex.
Destes vinte mais ricos do mundo, no ano da pandemia 2020, somente três (Warren Buffet, Carlos Slim e Amancio Ortega), tiveram ligeiras quebras nas suas fortunas, pois os restantes dezassete, engordaram as mesmas em mais de 500 mil milhões de dólares, ou seja, o dobro do do PIB de Portugal.
O relatório também refere que alguns destes ultra-ricos (cerca de 200) deram contribuições para o combate à pandemia, num total aproximado de 7200 milhões de dólares (6100 milhões de euros) o que é uma boa notícia. Mas, analisando melhor isso significa que 10% dos ultra-ricos doaram 0,08% da riqueza desse universo…
Nunca a concentração de riqueza foi tão grande como atualmente. E essa concentração cresce continuamente e de forma cada vez mais acelerada. Se nada for feito proliferarão indivíduos cujo poder financeiro será maior do que o de um grande número de países, introduzindo fatores imponderáveis e im-previsíveis nas relações económicas e políticas.
Torna-se absolutamente indispensável uma conjugação política internacional para impedir a contínua aceleração deste processo. E não é preciso uma revolução mundial dos descamisados, nem uma coletivização revolucionária dos bens dos multimilionários. Bastará regular melhor os mercados e taxar adequadamente as operações financeiras e os respetivos lucros. O próprio Warren Buffet, um dos vinte atrás referidos e que já ostentou o título de mais rico do mundo, referiu repetidamente que os multimilionários deviam pagar muito mais impostos.